Acampamento produz alimentos orgânicos e livres de veneno

Acampamento Maria da Conceição é um berçário de plantio e produção de alimentos orgânicos e livres de agrotóxicos

Em meio a polêmica da votação do Projeto de Lei 6299/02, o PL do Veneno, que encontra-se em fase final de análise na Comissão Especial Deliberativa da Câmara dos Deputados desde o início de maio, o Acampamento Maria da Conceição (MST), em Itatiaiuçu, distante 78 km de Belo Horizonte, é um berçário de plantio e produção de alimentos orgânicos e livres de agrotóxicos, sementes transgênicas e adubos fertilizantes contaminados.

Localizado às margens da BR 381, em um local que antes era ocupado unicamente com fins de grilagem, pertencente ao grupo MMX – Mineração e Metálicos, que declarou falência, e que estava abandonada  e improdutiva há tempos, foi ocupada em março do ano passado, numa ação protagonizada pelas mulheres, e que hoje produz alimentos saudáveis que abastecem a Região de Itatiaiuçu e o Armazém do Campo de BH, estabelecimento comercial em Belo Horizonte (vide reportagem).

Couves orgânicas na horta comunitária

O Acampamento possui 3 centros de cultivos de hortaliças, leguminosas e verduras: as hortas particulares de cada acampado, a horta comunitária e a horta dos núcleos. Cada acampado, em sua horta particular planta para prover a sua própria alimentação e a de seus familiares, os alimentos excedentes são trocados solidariamente entre as mais de 300 famílias que moram no acampamento, podendo ainda serem vendidos ao Armazém do Campo. A horta comunitária, é o maior produtor de hortaliças, leguminosas, verduras, temperos e ervas medicinais do acampamento, e é cuidado por todas as famílias. A horta dos núcleos, é predominante voltada para a produção de grãos (arroz orgânico e milho crioulo).

Exemplo de produtividade em alimentos orgânicos

A horta comunitária possui mais de 900 metros em sistema de plantio SAF (Sistema agroflorestal),totalmente livre do uso de agrotoxicos, sementes trânsgênicas ou insumos contaminados. O SAF é uma forma de uso da terra na qual se resgata a forma ancestral de cultivo, combinando espécies arbóreas lenhosas como frutíferas ou com cultivos agrícolas e/ou animais.

Exemplo de SAF como forma sustentável de agroecologia e plantação de orgânicos

Essa combinação pode ser feita de forma simultânea ou em seqüência temporal, trazendo benefícios econômicos e ecológicos. Seu Baiano, um dos encaregados pela horta, mostrou a nossa equipe que são utilizados para afastar as pragas que aparecem sob alguns alimentos a ‘calda’ (um preparado de urina de vaca, pimenta, água e azeite), que age como um inseticida natural. Como adubo, é utilizado a compostagem (mistura de capim da espécie braqueara, mato e espigas de milho), que são misturados à terra massapé vermelha juntamente com cinzas, sem sequer nenhuma adição de uréia, calcário, sal ou outros minerais para a correção do solo, “nosso adubo, é o amor, o carinho e o respeito à terra”, complementa Seu Baiano.

Aplicação da compostagem no solo

 

O cuidado com a segurança dos alimentos e com a terra, atrelados a uma prática agrícola que prioriza a utilização dos recursos naturais com mais consciência, respeitando e mantendo o que a natureza oferece ao longo de todo o processo produtivo, desde o cultivo até a circulação dos produtos, propricia uma variedade de alimentos, como chuchu, cenoura, alface, mandioca, almerão, cebolinha, tomate, cabolão, couve, brócolis, rabanete, banana, mamão, pimenta, hortelã, alfavaca, manjericão, agrião, marcelinha e marcela, coentro, romã, inhame dentre outros, com um sabor inigualável, de uma beleza ímpar e com compromisso com a vida. Com a nossa vida.

A horta dos núcleos é aonde são plantados os cereais orgânicos do acampamento. Arroz e milho crioulos, um milho de cor vermelha (sim, vermelha, esta é a cor natural do grão de milho, caso você não saiba), são os principais alimentos cultivados. Todas as sementes plantadas da cooperativa nacional de sementes crioulas, a Bionatur, produzida nos próprios Assentamentos do MST, onde são produzidos organicamente.

Compromisso com o Meio Ambiente

Dentro da área do Acampamento, há duas nascentes de água, e que em uma destas, foi canalizada para prover a água potável para as famílias e para a irrigação (que ocorre por gravidade, devido aos níveis das galerias da horta) das hortas evitando-se o desperdício. A mata ciliar é preservada, e há um programa de recuperação de árvores nativas, por meio do cultivo de mudas e que estão sendo plantadas no entorno das nascentes como forma de preservar o ecosistema.

Mudas sendo plantadas nas imediações da Mina dos Coqueiros, nascente d’água

Horta Colaborativa e cooperação

As hortas comunitárias e de núcleo, são mantidas por todos os acampados em um sistema de rodízio, em que cada família participa no cuidado, uma vez ao mês, dividindo igualitariamente todas as tarefas. O sistema colatorativo e de cooperação coletiva é nítido em todos os afazeres do Acampamento, como evidenciado no Projeto Piloto de 2 tanques de criação de peixes, e que conta com cerca de mil peixes que são distribuídos 3 peixes por família.

Um alimento saudável incomoda muita gente

A produtividade dos alimentos plantados no Acampamento são acompanhados por agrônomos do Movimento, que prestam apoio ao cultivo além de um extremo cuidado por parte dos coordenadores das hortas garantem a segurança orgânica das hortaliças. Com o uso criterioso e exclusivo das caldas e da compostagem como adubo natural da terra, a distância do Acampamento de latifundios e monoculturas que fazem uso de pesticidas, os alimentos do Maria da Conceição são 100% orgânicos, livres de OGMs e de pesticidas e venenos. Nossa Equipe, teve a oportunidade de saborear os alimentos retirados diretos da terra, e é fácil perceber o aroma e o sabor de um alimento que, mais do que orgânico, é repleto de vida, carinho e amor das mãos que plantaram e o colheram.

Atualmente, o Acampamento tem plenas condições de vender nos mercados do município e na Feira de Alimentos de Itatiaiuçu, entretanto, os governantes do município mineiro não permitem que os acampados participem com a montagem de 1 banca, sequer uma única vez na semana para comercializar os alimentos orgânicos, alegando que a autorização de comercialização afetará os outros produtores rurais da região.

 

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