Desde que foi anunciada a prisão dos supostos hackers, que teriam invadido os celulares de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, lideranças políticas no país já avaliavam o processo como esquisito, sem contexto e carente de provas.
Numa coletiva à imprensa nesta quarta-feira (24), os delegados da PF não apresentaram provas de conexão da prisão com a revelação das conversas entre Moro e Dallgnol, vazadas pelo Intercept Brasil.
Em menos de 20 minutos, os agentes federais apresentaram dez slides com resultados das buscas contendo fotos de computadores, celular e de uma mala com dinheiro.
Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) a história e a falta de contexto são esquisitas. “Parece operação pra sustentar a narrativa do ministro da Justiça. Aguardemos os próximos capítulos. E já que o hacker preso está entregando tudo, o ministro poderá confirmar ou negar o conteúdo das conversas, que é tema bem relevante”, disse o deputado.
O vice-líder do PCdoB na Câmara, deputado Márcio Jerry (PCdoB-MA) criticou o roteiro adotado por Sergio Moro e a falta de embasamento provas e afins.
“Basta não ser um xiita bolsonarista para concluir que tá muito mal contado o tal caso dos hackers. Sequência tão óbvia quanto suspeita e uma característica de armação tão grande quanto os desvios ilegais já cometidos por Sergio Moro”, afirmou o deputado.
Ele ainda alertou para os riscos da democracia brasileira. “Os que hoje contemplam inertes à escalada antidemocrática no Brasil correm sério risco de terem motivos para se arrepender muito. Fora da democracia política é a barbárie, o vale tudo”, concluiu.
Ex-candidato a presidente da República pelo PSOL Guilherme Boulos alertou para o fato de que em nenhum país do mundo um ministro da Justiça pode chefiar investigações de ataques que ele mesmo diz ter sofrido.
“Por que Moro não avança na investigação dos mandantes do assassinato de Marielle, dos desvios de Queiroz à família Bolsonaro e do laranjal do PSL?”, questionou.
“É impressionante a rapidez que a Polícia Federal atuou no caso dos supostos hackers. Mesma agilidade não tem para encontrar o amigo do presidente Jair Bolsonaro que segue sem paradeiro definido. Alguém viu o Queiroz?”, ironizou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
Nada vai mudar
O editor do Intercept Brasil Glenn Greenwald diz após as prisões “nada mudou, e nada nunca vai mudar”. “A montanha da evidência mostrando que a) inúmeros jornais, revistas e outras pessoas públicas verificaram a autenticidade do material publicado por nós, Folha, Veja e tantas outras e b) Moro, Deltan cometerem impropriedades graves”, disse.
Segundo ele, os governos dos EUA e Reino Unido tentaram a mesma tática que Moro: distrair de sua própria má conduta gritando sobre os “crimes” de Snowden (Edward Snowden que revelou o caso mais notório de espionagem feita pelos Estados Unidos). “Ele cometeu crimes? Talvez. Mas isso não mudou o fato de que os documentos eram reais e mostravam crimes graves por parte desses governos”, concluiu.
Fonte: Vermelho.org