Os males do uso de agrotoxicos em alimentos para a população se intensifica a medida que os governantes que deveriam se preocupar com problemas de saúde pública, intensificam seu uso indiscriminado
RIGOTTO et al (2014) registra que outro elemento para traçar cenários futuros, considerando o modelo de desenvolvimento e suas implicações para a saúde pública, está nas projeções do MAPA para 2020/2021, apontando que a produção de “commodities” para exportação deve aumentar em proporções de 55% para a soja, 56,46% para o milho, 45,8% para o açúcar, em relação a 2011.
Assinalam os autores que como são monocultivos químico-dependentes, as tendências atuais de contaminação devem ser aprofundadas e ampliadas.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, que reúne atualmente mais de uma centena de organizações sociais, tem desenvolvido, desde 2011, ações de comunicação, formação e articulação política, trazendo visibilidade ao problema e ampliando o debate, a exemplo da produção e divulgação de vídeos como “O Veneno Está na Mesa I e II”, de Sílvio Tendler.
O Dossiê da ABRASCO traz a público o compromisso de profissionais da Saúde Coletiva em disponibilizar para a sociedade as evidências científicas dos malefícios dos agroquímicos, com ampla repercussão no meio acadêmico, na mídia e entre os movimentos sociais.
A preocupação e a indignação geradas neste processo conduzem à construção de uma nova proposta da soberania alimentar, que encontra eco no debate da segurança alimentar e nutricional, e tem sido fomentado no âmbito do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (CONSEA).
Somam-se também nesse contexto a construção do campo agroecológico, consignado especialmente na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e na Associação Brasileira de Agroecologia (ABA).
RIGOTTO et al (2014) registra que “nos últimos anos, a ampliação de escala de experiências agroecológicas, a consolidação de muitos casos bem sucedidos de aplicação prática dos princípios da agroecologia em todas as regiões do Brasil, as sistematizações demonstrando os impactos positivos e a multifuncionalidade da agroecologia, as lutas pela afirmação dos modos de vida e de produção das populações tradicionais, proporcionaram um ambiente fértil para uma estratégia de maior visibilidade pública da agroecologia junto a outros setores da sociedade, principalmente no meio urbano. A agroecologia aparece mais claramente nas pautas dos movimentos sociais do campo, e foi destaque no Encontro Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das Florestas”.
Diante disso, se vislumbra o acirramento do debate entre distintas perspectivas sobre o uso de agrotóxicos numa disputa profundamente assimétrica, tendo em vista o poder econômico, político e de produção simbólica dos que pretendem avançar rumo a um projeto de desenvolvimento hegemônico.
No entanto, diversas forças vêm se somando no sentido da precaução e da promoção da saúde, contribuindo com a emergência de novas perspectivas de futuro. Nesse sentido, o posicionamento crítico de pesquisadores, professores e profissionais de saúde pode colaborar positivamente com novos caminhos.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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Referências:
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA). Relatório de Atividades de 2011 e 2012. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2013.
CARNEIRO, F. F., PIGNATI W., RIGOTTO R. M., AUGUSTO, L. G. S., RIZOLLO A. e MULLER, N. M., et al. Dossiê ABRASCO. Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Parte 1 – Agrotóxicos, Segurança Alimentar e Saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2012.
CENTRO COLABORADOR DE VIGILÂNCIA EM ACIDENTES DE TRABALHO, Universidade Federal da Bahia. Acidentes de trabalho devido à intoxicação por agrotóxicos entre trabalhadores da agropecuária 2000-2011. Salvador: Centro Colaborador de Vigilância em Acidentes de Trabalho, Universidade Federal da Bahia; 2012.
CONSELHO NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL. Carta à Presidente Dilma Rousseff. Brasília: Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; 2013. (E.M. n o 003-2013/CONSEA).
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Brasil: projeções do agronegócio 2010/2011 a 2020/2021. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; 2011.
MONTEIRO D. Alguns elementos do contexto político no Brasil relacionado à agricultura e ao desenvolvimento rural. Rio de Janeiro: Articulação Nacional de Agroecologia; 2013.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE, Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico 2013; 44(10).
RIGOTTO , Raquel Maria, VASCONCELOS, Dayse Paixão e, ROCHA, Mayara Melo, Uso de agrotóxicos no Brasil e problemas para a saúde pública, Cad. Saúde Pública vol. 30 n. 7, Rio de Janeiro Jul. 2014, http://dx.doi.org/10.1590/0102-311XPE020714
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/10/2019
Uso de agrotóxicos e problemas para saúde, Parte 2/2 (Final), artigo de Roberto Naime, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/10/2019, https://www.ecodebate.com.br/2019/10/17/uso-de-agrotoxicos-e-problemas-para-saude-parte-22-final-artigo-de-roberto-naime/