por Mateus Pereira e Valdei Araujo
Por trás de simulações alucinadas, Bolsonaro admite que trocou diretoria do IPHAN para beneficiar o amigo Luciano Hang
#Sextou. O decano do STF, ministro Celso de Mello, decidiu, na tarde de hoje, que o vídeo da reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril deveria ser divulgado na íntegra, mantendo sigilo para “determinados Estados estrangeiros”. Provavelmente, a China, já que vemos uma interrupção da fala onde o ministro da Educação afirma que o Partido Comunista [chinês] pretende transformar o Brasil numa colônia.
O vídeo faz parte do processo de investigação das denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro sobre as interferências de Bolsonaro na Polícia Federal. Em meados de maio, Moro pediu para que o vídeo fosse divulgado, pois seu conteúdo confirmaria suas acusações ao presidente. Desde então, só vieram a público alguns trechos de falas do presidente, transcritos pela Advocacia-Geral da União (AGU), que o defende. Um deles é este a seguir: “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f… minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.
Vários políticos de oposição ao governo passaram a pedir ao STF que tornasse público o vídeo da reunião, como o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Os meios de comunicação, também, criaram grande expectativa em relação ao vídeo. Seria a bala de prata de Moro, do lava-jatismo versus o bolsonarismo. Como disse um amigo, hoje assistiríamos o fim de uma temporada.
Em reação às três notícias-crime a decisão de Celso de Mello, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), rapidamente publicou uma “Nota à Nação Brasileira” em seu Twitter, na qual afirma que o pedido de apreensão do celular do presidente é “inconcebível” e “inaceitável” e diz que o GSI “alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Seria isso uma ameaça ao STF? Umas das pessoas que melhor resumiu a situação foi a senadora Kátia Abreu: “É muita ousadia e pretensão assistir a um ministro, general do glorioso Exército Brasileiro, ameaçar a DEMOCRACIA. Faça-me o favor, meu senhor.”
O que percebemos é que Heleno tentou pautar o debate, a recepção, e já mobilizou as redes bolsonaristas. Nessa direção, a expressão que mais ouvimos até agora é de que o tiro saiu pela culatra. Se um dos efeitos do Bolsonarismo é a corrosão da democracia e suas instituições, substituindo-a por uma versão simulada e fantasiosa de poder, o que a reunião mostra é que os seus principais personagens vivem a simulação como realidade.
É certo que figuras como Mourão e outros parecem deslocados do multiverso compartilhado pela ala chamada ideológica. Weintraub, Damares e Ernesto Araújo fazem parte do mesmo arco narrativo e não saem dele. Além dos militares e Moro, que parecem tentar manter alguma distância do circo, figuras como o ministro do Meio Ambiente e Paulo Guedes procuram inserir suas agendas de desmonte do Estado e das proteções sociais tentando não confrontar o delírio coletivo de seus colegas e usando a pandemia como cortina de fumaça para avançar suas agendas.
#Sextou. O decano do STF, ministro Celso de Mello, decidiu, na tarde de hoje, que o vídeo da reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril deveria ser divulgado na íntegra, mantendo sigilo para “determinados Estados estrangeiros”. Provavelmente, a China, já que vemos uma interrupção da fala onde o ministro da Educação afirma que o Partido Comunista [chinês] pretende transformar o Brasil numa colônia.
O vídeo faz parte do processo de investigação das denúncias feitas pelo ex-ministro Sérgio Moro sobre as interferências de Bolsonaro na Polícia Federal. Em meados de maio, Moro pediu para que o vídeo fosse divulgado, pois seu conteúdo confirmaria suas acusações ao presidente. Desde então, só vieram a público alguns trechos de falas do presidente, transcritos pela Advocacia-Geral da União (AGU), que o defende. Um deles é este a seguir: “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f… minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar, se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.
Vários políticos de oposição ao governo passaram a pedir ao STF que tornasse público o vídeo da reunião, como o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Os meios de comunicação, também, criaram grande expectativa em relação ao vídeo. Seria a bala de prata de Moro, do lava-jatismo versus o bolsonarismo. Como disse um amigo, hoje assistiríamos o fim de uma temporada.
Em reação às três notícias-crime a decisão de Celso de Mello, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), rapidamente publicou uma “Nota à Nação Brasileira” em seu Twitter, na qual afirma que o pedido de apreensão do celular do presidente é “inconcebível” e “inaceitável” e diz que o GSI “alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os Poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”. Seria isso uma ameaça ao STF? Umas das pessoas que melhor resumiu a situação foi a senadora Kátia Abreu: “É muita ousadia e pretensão assistir a um ministro, general do glorioso Exército Brasileiro, ameaçar a DEMOCRACIA. Faça-me o favor, meu senhor.”
O que percebemos é que Heleno tentou pautar o debate, a recepção, e já mobilizou as redes bolsonaristas. Nessa direção, a expressão que mais ouvimos até agora é de que o tiro saiu pela culatra. Se um dos efeitos do Bolsonarismo é a corrosão da democracia e suas instituições, substituindo-a por uma versão simulada e fantasiosa de poder, o que a reunião mostra é que os seus principais personagens vivem a simulação como realidade.
É certo que figuras como Mourão e outros parecem deslocados do multiverso compartilhado pela ala chamada ideológica. Weintraub, Damares e Ernesto Araújo fazem parte do mesmo arco narrativo e não saem dele. Além dos militares e Moro, que parecem tentar manter alguma distância do circo, figuras como o ministro do Meio Ambiente e Paulo Guedes procuram inserir suas agendas de desmonte do Estado e das proteções sociais tentando não confrontar o delírio coletivo de seus colegas e usando a pandemia como cortina de fumaça para avançar suas agendas.
Assim, o principal evento da semana não foi a divulgação do vídeo, e sim o movimento Sleeping Giants, que tornou um pouco mais visível a política oculta das grandes empresas na horas de distribuir suas verbas de publicidade. Mas essa novidade vai apenas ser mais uma força a polarizar e politizar todos os aspectos da vida cotidiana. Talvez seja a realidade dessa fragmentação que alimente o desejo paranoico de Bolsonaro e seus discípulos olavistas pela unidade do “povo”, mesmo que isso seja obtido pela destruição dos que são “diferentes”, negros, mulheres, pobres, indígenas, ciganos, os de esquerda. Aliás, um olhar rápido em seu ministério revela o tipo de povo que ele tem em mente: os bons homens brancos. Cidadãos de bem!
Um último fato: quando Bolsonaro grita que vai interferir nos serviços de informação é mesmo para Sérgio Moro que ele olha. Afinal, o presidente patriarcal vai nos espionar para o nosso próprio bem, como um pai que ouve atrás da porta. Em outro trecho ele revela que mudou a diretoria do IPHAN para beneficiar uma obra de Luciano Hang.
Enfim, os bolsonaristas estão recebendo o vídeo como uma vitória, ele confirma todas as suas alucinações. Uma análise mais pontual revela que por trás das simulações alucinadas o que predomina é o velho hábito de tratar o Estado como o espaço doméstico em benefício dos amigos. A respeito dos comentários do ministro da Educação sobre prender os juízes do Supremo, cabe à corte reagir ou confirmar a ideia que basta mesmo um cabo e um sargento para fechá-la.
(*) Autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem.
Mateus Pereira e Valdei Araujo são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), em Mariana*
Esse artigo contou com a colaboração de Mayra Marques, doutoranda em História pela UFOP
Fonte: Jornalistas Livres