Depois de viverem 20 anos no terreno de uma usina, que foi à falência, em Adrianópolis, em Campo do Meio, Minas, 450 famílias serão despejadas, por decisão do juiz Walter Zwicker Escailler Junior tomada na tarde de quarta-feira.
Esses 20 anos de vida receberam o prazo de sete dias para desocupação da área. A maioria dos trabalhadores ali instalados naqueles 1.200 hectares é de ex-funcionários da usina falida, que sequer lhes pagou o devido, deixando-os sem recursos. Ao longo dessas duas décadas, toda a extensão de terra foi cultivada com lavoura de milho, feijão, mandioca, abóbora, 40 hectares de horta agroecológica, 520 hectares de café. Tudo será destruído e perdido, bem como as centenas de casinhas, os currais e os quilômetros de cerca serão derrubados. É uma sentença de morte para duas décadas de trabalho, e também uma sentença de falência para Ariadnópolis, cidadezinha que respira em função daquela produção agrária.
Ao longo dos anos movimentos e autoridades agrárias discutiam a aquisição da área para sua regularização e distribuição dos títulos aos moradores. Os proprietários originais têm débitos com o Estado. Já havia sido negociado e aceito o pagamento de 90 milhões parcelados por elas. Faltava a homologação do acordo. De repente, surgiu esse juiz agrário, que mora em Belo Horizonte e deu essa sentença que os advogados de defesa das famílias julgam arbitrária e que “fere princípios constitucionais ao não reconhecer valores de dignidade humana”. A audiência foi totalmente atípica, impedindo a entrada da representação das famílias acampadas e de autoridades que se deslocaram para acompanhar. O juiz solicitou a presença da tropa de choque dentro da sala. O juiz foi sumário também na leitura da sentença: limitou-se a informar rapidamente a decisão.
As famílias do Quilombo Campo Grande não se conformam que uma mera liminar de despejo apague tantos anos de luta, e somam coragem para resistir e permanecer nas terras de Adrianópolis. A consequência poderá ser um banho de sangue.
Para quem queria tanto ver correr o sangue dos brasileiros, está aí uma oportunidade.
Fonte:Hildegard Angel/Jornal do Brasil