Ex-governador de São Paulo é o nome do capital para dar sequência à política de desmonte do Estado e retirada de direitos. “O PSDB é o cérebro do golpe e deste projeto”, diz João Sicsú.
Segundo informações divulgadas na mídia comercial, boatos que circularam na tarde de terça-feira (7) derrubaram o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, que fechou em queda de 0,87%. O motivo seria uma possível delação premiada envolvendo o candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
Uma segunda corrente de boatos, porém, teria informações de que uma pesquisa traria notícias de que o desempenho do candidato não estaria dando sinais de recuperação. A pesquisas CNT/MDA, divulgada hoje a partir de sondagem restrita ao estado de São Paulo – que traz Alckmin atrás de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera –, não permitiu comparação com o levantamento anterior, de maio, que teve abordagem nacional.
Levando em consideração que os boatos circulavam em torno de Alckmin, a queda é justificável, já que, depois de tatear em busca de um candidato ideal, o mercado financeiro, pelo menos no momento, aposta suas fichas no ex-governador de São Paulo. Ele é tido como “confiável” para dar sequência ao projeto implementado por Michel Temer desde 2016.
“O mercado está feliz. Com espaço na TV, dinheiro, locução internacional, Alckmin é o candidato dos sonhos do mercado financeiro”, diz Giorgio Romano Schutte, professor de Relações Internacionais e Economia da Universidade Federal do ABC (UFABC). “Mas estamos falando de uma fotografia do momento. Muita coisa pode mudar. É um quadro instável.”
Para o economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), trata-se de uma tentativa de empolgar o eleitorado com Alckmin. “É um processo de tentativa e erro para apoiar um candidato que seja mais viável para continuar o projeto em curso desde o golpe de 2016, de privatização e desnacionalização da economia brasileira associada à retirada de direitos trabalhistas e sociais”, diz.
“Alckmin é o adversário da esquerda de fato, no momento. Embora Bolsonaro esteja à frente dele [nas pesquisas], o adversário é quem, na verdade, é o cérebro do golpe e deste projeto: o PSDB”, avalia o professor da UFRJ. Porém, se o tucano não empolgar, acredita, os chamados investidores podem se bandear para outra alternativa, como Marina Silva (Rede). Alckmin terá o apoio do “centrão” (PP, PR, PTB, PPS, DEM, PRB, SD e PSD), além dos recursos midiáticos e financeiros representados pelo apoio do mercado.
“Mas uma coisa eles têm como certa: Lula não pode ser candidato, e a segunda certeza do mercado é que o PT não pode voltar ao governo e dar continuidade ao projeto que existia até 2014”, aponta Sicsú.
Para o economista e deputado federal Enio Verri (PT-PR), não há dúvida de que Alckmin, hoje, preenche os requisitos para ter apoio do sistema financeiro. “Ele traz o sossego necessário para o mercado manter suas altas taxas de lucro. A eleição de Alckmin não traria nenhuma alteração à política econômica de Temer. Sem dúvida, a ideia dos grandes meios de comunicação, Rede Globo, Estadão, Veja ou aqueles que sobrarem depois dessa crise, junto com o mercado, é fazer do Alckmin o grande salvador da pátria.”
Giorgio Romano lembra que pesquisas qualitativas indicam claramente que a população tende mais para um projeto de centro-esquerda, com demandas como a não privatização da Petrobras, o controle do preço da gasolina e o Estado para garantir políticas sociais.
No final de maio, pesquisa Datafolha mostrou que 55% da população brasileira é contra a privatização da Petrobras. E para mais de três quartos dos entrevistados (74%) a petroleira não deve ser vendida a estrangeiros.
Na opinião do professor da UFABC, o sistema financeiro estava extremamente preocupado com uma “fórmula” política que permitisse a formação de uma grande frente de centro-esquerda, unindo o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes. Como, pelo menos até o momento, essa união não se deu, “isso acalmou o mercado”, diz.
Um de quatro
Para Giorgio, em tese, seriam quatro os candidatos que, dependendo das circunstâncias, poderiam representar o sistema financeiro na eleição: além de Alckmin e Marina, Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e Henrique Meirelles, pelo MDB. “Ficaram aguardando qual seria mais viável para apostar as fichas. Bolsonaro é imprevisível, difícil de controlar, e já houve a experiência com Collor. Marina tem assessores simpáticos ao mercado, mas não vai para frente nem para trás.”
Meirelles, como indicam as pesquisas, não tem chance e a expectativa é de que retire sua candidatura em favor de dividir o menos possível os votos conservadores.
Sicsú também avalia que os simpáticos ao mercado são os quatro, mas, dependendo do desempenho de Alckmin daqui para a frente, para ele, “pode ser que apoiem a Marina”.
Que o PSDB e Alckmin, um dos principais líderes do partido, apoiaram as contrarreformas de Temer não há a menor dúvida. Segundo dados do Banco de Dados Legislativos do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), citados pela Folha de S. Paulo, 88% dos parlamentares tucanos votaram com o governo a partir do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
O desafio, para a centro-esquerda, é conseguir “colar” essa informação em Alckmin e convencer o eleitor de que o tucano representa a continuação do desmonte do Estado, patrocinado pelo governo Temer com o apoio inestimável do PSDB. “Quem vai explicar isso para a população? Alckmin tem mais tempo de TV e a Globo junto com ele”, diz Giorgio Romano.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não definiu oficialmente o tempo de TV na propaganda eleitoral, o que só será feito depois do dia 15, prazo final para o registro das candidaturas. Mas as avaliações são de que o tucano terá mais tempo do que seus cinco principais oponentes juntos.
Fonte: RBA/ Portal O Vermelho