A greve abrange 18 estados e reivindica direitos básicos como alimentação e medidas de segurança diante da pandemia
Assim como em vários estados do Brasil, Minas Gerais também adere à greve dos entregadores de aplicativos que acontece nesta quarta-feira (1). A categoria reivindica direitos mínimos como taxa mínima de R$2 por quilômetro percorrido, pagamento pelo tempo de espera nos estabelecimentos e medidas básicas de proteção contra o coronavírus, entre outros.
“Tem dia que o aplicativo paga R$ 0,80 por quilômetro pra você sair na chuva, rodar 5 km para buscar o pedido e mais cinco para entregar. E no final o aplicativo te paga R$10. A gente fica embaixo de chuva, de sol, corre risco. Isso é muito injusto! Queremos melhorias, queremos ser valorizados”, critica Vanessa Barbosa, que integra o movimento Paralisa BH, em depoimento em vídeo.
Na capital, os motoqueiros estão organizando um ato para 9h na Praça da Assembleia. Ozéias Martins, mais conhecido como Oz da União dos Profissionais de Aplicativos, trabalha há 20 anos como entregador. Ao longo das décadas na profissão já passou por quase todos os aplicativos de entrega. O trabalhador, que agora atua prestando apoio para os demais entregadores, afirma que a paralisação será crucial para a categoria “Se a gente aceitar o que está acontecendo agora, a tendência é piorar. Então a classe tem que se unir pra conseguir uma coisa que seja boa pra todo mundo e não só para os aplicativos”, declara. De acordo com o levantamento da UPA, cerca de 80% da categoria aderiu ao movimento, aproximadamente 12 mil entregadores.
Um levantamento realizado por um grupo de pesquisadores das Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, Universidade de São Paulo e de Pernambuco apontou que durante a pandemia a situação de trabalho dos entregadores piorou consideravelmente. A pesquisa, realizada com cerca de 300 entregadores de todo o Brasil, mostrou que 25% dos entrevistados tiveram queda no rendimento durante pandemia e 56,7% estão trabalhando mais de nove horas diárias, de seis a sete dias por semana.
À mercê do contágio
A exposição ao contágio do coronavírus também é uma das pautas da categoria. Ainda de acordo com o levantamento “Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a Covid-19” 85% dos trabalhadores têm medo de serem contaminados durante a prestação de serviço.
Em março, o Ministério Público do Trabalho chegou a editar uma nota técnica afirmando que as empresas de aplicativos deveriam fornecer insumos de proteção para os entregadores sem quaisquer ônus ao trabalhador. No entanto, o levantamento mostra um cenário oposto.
Cerca de 60% dos entrevistados afirmaram que as empresas não oferecem nenhum tipo de medida de proteção. Do percentual de empresas que ofereceram algum tipo de apoio, apenas 24% ofereceram, de fato, álcool em gel para os trabalhadores, o restante forneceu apenas orientações de como não se contaminar. Com isso, os entregadores têm arcado do próprio bolso com a compra de máscaras e álcool em gel.
Mais de 1 milhão na informalidade em Minas Gerais
A situação dos entregadores no estado reflete a alta informalidade do mercado de trabalho em Minas Gerais. Segundo dados divulgados em fevereiro deste ano pelo IBGE, Minas Gerais tem cerca de 1,1 milhão de trabalhadores na informalidade, uma taxa de 40,1%.
Em todo país, os trabalhadores informais somam 32,3 milhões. Nesta semana, o Instituto informou que a taxa de desemprego no Brasil está em 12,9% e que a parcela da população ocupada caiu quase 10%, em comparação com o trimestre anterior.
Como apoiar?
Por meio das redes sociais, os entregadores estão usando a #ApoieoBrequedosApps para orientar a população sobre como se solidarizar ao movimento por condições mais dignas de trabalho. Confira as dicas dos motoboys:
1) Não peça comida pelos aplicativos
Os trabalhadores indicam que os usuários aproveitem o dia de paralisação para cozinhar e priorizar a comida caseira. De acordo com eles, as empresas costumam liberar cupons de desconto nos dias de mobilizações, com o objetivo de enfraquecê-las.
A campanha pede que no dia 1º de junho, as pessoas cozinhem sua própria comida e compartilhem uma foto com a #ApoioBrequedosApps. Se for mesmo necessário, a orientação é que a refeição seja comprada direto no restaurante escolhido.
2) Avalie os apps negativamente
A segunda forma de ajudar a mobilização é acessar as lojas de aplicativos do seu smartphone, como Google Play e Apple Store, e avaliar as apps das empresas de delivery com a menor nota possível. Os entregadores também sugerem postagem de comentários em apoio à paralisação nas lojas de apps para chamar atenção de outros usuários.
3) Ajude na divulgação
Os motoboys apontam que um outro modo essencial para ajudá-los é compartilhar materiais sobre a paralisação o máximo possível.
Com informações do site do Brasil de Fato