Contra privatização e negligência, trabalhadores dos Correios entram em greve

Segundo o sindicato, não há prazo para o fim da paralisação na estatal

Centro de Tratamento de Encomendas dos Correios em Benfica, zona norte da cidade, durante a greve decretada após assembléia geral dos trabalhadores (Fernando Frazão/Agência Brasil)

A Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas dos Correios e Similares (FENTECT) anunciou que os trabalhadores da estatal de todo o País entraram em greve nesta segunda-feira 17.

Os grevistas alegam “negligência com a saúde dos trabalhadores” durante a pandemia e a possibilidade de privatização da empresa. Segundo a entidade, não há prazo para o fim da paralisação.

“Foram retiradas 70 cláusulas com direitos como 30% do adicional de risco, vale alimentação, licença maternidade de 180 dias, auxílio creche, indenização de morte, indenização de morte, auxílio para filhos com necessidades especiais, pagamento de adicional noturno e horas extras”, diz o texto publicado no site da federação.

A entidade afirma ainda que desde julho os sindicatos tentam dialogar com a direção dos Correios sobre os pedidos, mas sem sucesso.

Os Correios não pretendem suprimir direitos dos empregados. A empresa propõe ajustes dos benefícios concedidos ao que está previsto na CLT e em outras legislações, resguardando os vencimentos dos empregados.

Sobre as deliberações das representações sindicais, os Correios ressaltam que a possuem um Plano de Continuidade de Negócios, para seguir atendendo à população em qualquer situação adversa.

No momento em que pessoas e empresas mais contam com seus serviços, a estatal tem conseguido responder à demanda, conciliando a segurança dos seus empregados com a manutenção das suas atividades comerciais, movimentando a economia nacional.

Desde o início das negociações com as entidades sindicais, os Correios tiveram um objetivo primordial: cuidar da sustentabilidade financeira da empresa, a fim de retomar seu poder de investimento e sua estabilidade, para se proteger da crise financeira ocasionada pela pandemia.

A diminuição de despesas prevista com as medidas de contenção em pauta é da ordem de R$ 600 milhões anuais. As reivindicações da Fentect, por sua vez, custariam aos cofres dos Correios quase R$ 1 bilhão no mesmo período – dez vezes o lucro obtido em 2019. Trata-se de uma proposta impossível de ser atendida.

Respaldados por orientação da Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (SEST), bem como por diretrizes do Ministério da Economia, os Correios se veem obrigados a zelar pelo reequilíbrio do caixa financeiro da empresa. Em parte, isso significa repensar a concessão de benefícios que extrapolem a prática de mercado e a legislação vigente. Assim, a estatal persegue dois grandes objetivos: a sustentabilidade da empresa e a manutenção dos empregos de todos.

Bolsonaro defende privatização

Embora seja um defensor da privatização dos Correios, o presidente Jair Bolsonaro reconhece as dificuldades.

“A gente pretende [privatizar]. Se eu pudesse privatizar hoje, privatizaria, mas eu não posso prejudicar o servidor dos Correios”, declarou em janeiro.

“Vocês sabem, o Supremo Tribunal Federal decidiu que as empresas-mães, a privatização tem que passar pelo parlamento. E você mexe nas privatizações com dezenas de milhares de servidores. É um passivo grande, você tem que buscar solução para tudo isso.”

Segundo o presidente, a alta fiscalização do processo de privatização torna a medida mais difícil.

“Você não pode jogar os caras para cima. Eles têm que ter as suas garantias, você tem que ter um comprador para aquilo, é devagar. Você tem o TCU com lupa em cima de você. Não são fáceis as privatizações, não são fáceis”, disse.

Baixas no governo

A demora nas privatizações fez com que Salim Mattar, ex-Secretário de Desestatização e Privatização, deixasse o cargo na terça-feira 11.

De acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes, Mattar se demitiu por “insatisfação com o ritmo de privatização”.

“O que ele me disse é que é muito difícil privatizar. Que o establishment não deixa haver a privatização. Que é tudo muito difícil, tudo muito emperrado, que tem que ter um apoio mais definido, mais decisivo”, afirmou o ministro.

Fonte: Carta Capital

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