Alunos articulavam-se para atos na rua Maria Antônia, local emblemático para a luta estudantil no período da ditadura
Recuos já se tornaram um movimento comum desse governo. Em mais um deles, Jair Bolsonaro cancelou a visita que faria à Universidade Presbiteriana Mackenzie, nesta quarta-feira 27, em São Paulo, depois que protestos foram marcados em repúdio à presença do presidente. A informação foi confirmada pela reitoria da faculdade. Alunos da instituição e entidades como a União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Estadual dos Estudantes (UEE) articulavam-se para uma série de atos na rua Maria Antônia, local emblemático para a luta estudantil no período da ditadura.
Bolsonaro visitaria o centro de pesquisa de grafeno da faculdade, o MackGraphe, juntamente com o Ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes. O anúncio da agenda tinha sido feito nas redes sociais na semana passada.
Desde então, os estudantes posicionaram-se contrários à visita, que retoma simbolicamente o passado da instituição: em 1968, alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, alinhados à resistência contra o regime, entraram em confronto com alunos do Mackenzie, apoiadores da ditadura e da extrema-direita, na que ficou conhecida como Batalha da Maria Antônia. Na época, um estudante morreu por uma bala perdida.
Na segunda-feira 25, Bolsonaro determinou ao Ministério da Defesa que sejam feitas comemorações em unidades militares em 31 de março, numa tentativa de querer homenagear a data de início da ditadura novamente. Diferente do presidente, os alunos da instituição posicionaram-se pela democracia e contra discursos de ódio. No evento de organização dos atos, escrevem: “O avanço do extremismo político, do nacionalismo e da intolerância traz consequências diretas para o modelo de educação que estará vigente pelo próximo período. Após os 50 anos da Batalha da Maria Antônia, vamos mostrar que nós, mackenzistas, estamos ao lado certo da história.”
A recomendação infeliz do presidente gerou ruído e manifestações contrárias. A Defensoria Pública da União pediu que a Justiça Federal em Brasília proíba o governo federal e as Forças Armadas de realizarem comemorações, sob pena de multa. O Ministério Público Federal também contestou Bolsonaro. Em nota emitida pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, o MPF diz: “É incompatível com o Estado Democrático de Direito festejar um golpe de Estado e um regime que adotou políticas de violações sistemáticas aos direitos humanos e cometeu crimes internacionais”.
Fonte: Carta Capital