Aplicativo criado na UFMG reduz gasto de água com irrigação

Software do instituto da Universidade no Norte de Minas calcula com precisão a vazão que o sistema precisará usar e a quantidade de equipamentos necessários conforme a plantação

O professor Flávio Gonçalves, do Instituto de Ciências Agrárias, um dos criadores do aplicativo, diz que uma das vantagens para o agricultor é poder planejar os custos com irrigação antes mesmo de fazer o plantio
(foto: Luiz Ribeiro/EM/ D.A Press)

A irrigação consiste em um dos custos mais elevados da produção agrícola e que acaba refletindo nos preços dos produtos que chegam à mesa do consumidor. Foi criado um aplicativo que permite a eficiência na irrigação, interferindo também nos custos de produção. A ferramenta permite o cálculo das quantidades exatas de água e de energia necessárias para determinada área plantada. O aplicativo Smartpivô foi desenvolvido pelo professor Flávio Gonçalves, do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em Montes Claros, junto com a engenheira agrícola e ambiental Luara Vieira de Oliveira. Com patente registrada em nome da universidade, o aplicativo já está disponível no Google Play e pode ser baixado gratuitamente.

“Esse instrumento é uma ferramenta preciosa, pois visa minimizar prejuízos e despesas operacionais da irrigação, que, muitas vezes, inviabilizam os empreendimentos produtivos, sobretudo, devido ao elevado custo da energia elétrica”, afirma o presidente da Associação dos Irrigantes do Norte de Minas, Orlando Frota Machado Pinto. O professor Flávio Gonçalves ressalta que uma das vantagens do software é, ao permitir calcular a vazão necessária, possibilita também dimensionar com precisão a capacidade dos equipamentos para bombear a água para irrigação da lavoura. Dessa forma, torna-se possível para o produtor planejar os custos antes de plantar, permitindo, por exemplo, estipular quanto vai gastar com a compra de bombas, motores e tubulação.

A engenheira agrícola e ambiental Luara de Oliveira lembra que, até então, somente as empresas que fabricam e vendem equipamentos para irrigação no Brasil faziam esse tipo de dimensionamento. “Elas fazem cálculos, mas somente com valores estimados. O aplicativo é preciso”, compara.

O Smartpivô precisa de dados sobre o tamanho da área e do levantamento topográfico (declividade) do terreno, podendo serem usadas informações de imagens de satélite. Em seguida, precisam ser levantadas as informações meteorológicas do lugar, principalmente, em relação à temperatura e à luminosidade (radiação solar). A partir daí, o aplicativo calcula a evapotranspiração e a quantidade exata de água (em metros cúbicos) diária que precisa ser usada para o bom desempenho da lavoura.

PRATICIDADE 
Flávio Gonçalves ressalta que o aplicativo tem fácil manuseio. “A pessoa pode carregar no bolso o aparelho celular e, onde estiver, pode fazer o cálculo da água e dos equipamentos de irrigação que vai precisar”, assegura. Por outro lado, o professor do ICA/UFMG lembra que, apesar dessa facilidade, o aplicativo somente pode ser usado pelos produtores com o auxílio de um agrônomo, engenheiro agrícola ou técnico que possam trabalhar com as informações meteorológicas e dados dos terrenos para a realização do cálculo sobre quantidade de água necessária na irrigação, possibilitando também a previsão dos custos da energia elétrica a ser consumida durante o período de produção.

Ele chama atenção para o fato de a ferramenta permitir ao produtor planejar os investimentos em equipamentos e calcular qual a quantidade de água será necessária antes de começar o cultivo irrigado. “É como se a pessoa, ao iniciar a construção de uma casa ou de um prédio, já possa calcular quanto será gasto durante a obra”, compara. “Trata-se de uma ferramenta que faz com que o produtor possa planejar os investimentos de maneira eficiente e otimiza a aplicação de recursos disponíveis”, complementa.

USO CONSCIENTE 
Gonçalves destaca que o aplicativo também garante o uso racional da água, sendo de grande importância para projetos de irrigação implantados em regiões semiáridas. É o caso do Projeto Jaíba, no município homônimo, no Norte de Minas, onde, no ano passado, foi proibida a irrigação em um dia da semana, por causa da diminuição do volume do Rio São Francisco, que abastece o perímetro irrigado. O Jaíba é um dos maiores fornecedores de frutas e verduras da CeasaMinas, em Belo Horizonte.

Luara Oliveira salienta que o aplicativo evita gastos desnecessários. “Muitas vezes, o produtor faz investimentos em equipamentos com capacidade maior do que ele necessita. O aplicativo traz uma eficiência muito grande, tanto no consumo de água como no consumo de energia, impedindo também os gastos excessivos com equipamentos do sistema de bombeamento”, observa a engenheira agrícola e ambiental.

O presidente da Associação dos Irrigantes do Norte de Minas, Orlando Frota Machado Pinto, ressalta que o aplicativo Smartpivô tem grande relevância na melhoria da eficiência do sistema produtivo e na redução dos custos de produção dos alimentos por permitir não somente o cálculo da quantidade de água, mas também da energia elétrica necessária nas lavouras irrigadas. Ele salienta que a energia se tornou um dos insumos mais elevados da agricultura e que, em muitos casos, inviabiliza os empreendimentos agrícolas. “Fizemos um estudos e verificamos que entre abril de 1998 e abril de 2015, a energia elétrica subiu cerca de 700%, enquanto a inflação acumulada no mesmo período, medida pelo IBGE, foi de 200%”, afirma.

ATLAS DA IRRIGAÇÃO Entre 1960 e 2015, a área irrigada no Brasil aumentou expressivamente, passando de 462 mil hectares para 6,95 milhões de hectares, e pode expandir mais 45% até 2030, atingindo 10 milhões de hectares. É o que apontou o Atlas irrigação: USO da água na agricultura irrigada, estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) lançado no fim do ano passado. A média de crescimento estimado corresponde a pouco mais de 200 mil hectares ao ano, enquanto o potencial efetivo de expansão da agricultura irrigada no Brasil é de 11,2 milhões de hectares. O potencial de expansão apontado acentua a necessidade de um esforço crescente de planejamento e gestão a fim de evitar ou minimizar conflitos pelo uso da água, em especial nas bacias hidrográficas que já têm indicadores de criticidade quantitativa.

Fonte: Estado de Minas

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