Ao longo dos últimos dias, o Chile vem sendo sacudido por uma surpreendente convulsão social, que induziu o governo conservador de Miguel Juan Sebastián Piñera a decretar estado de emergência, toque de recolher e intensificar a repressão, entregando o controle da capital do país (Santiago) aos militares. Até o início de segunda-feira (21) tinham sido computadas pelo menos 11 mortes, centenas de feridos e cerca de 1500 pessoas presas.
Ao analisar o drama do país vizinho, não se devem ocultar suas causas fundamentais, cujas raízes residem na política econômica ultraliberal adotada pelo atual governo, uma orientação que a rigor teve início ainda no último quartel do século 20 sob a ditadura militar liderada pelo general Augusto Pinochet, que chegou ao poder em 1973 através de um golpe, apoiado e instruído pela CIA, contra o socialista Salvador Allende.
Não é sem razão que muitos analistas apontam o Chile como o “laboratório” do neoliberalismo, ideologia que iria ganhar a hegemonia mundial, como antítese do chamado Estado de Bem-Estar Social e do keynesianismo, a partir dos anos 80 do século passado, nos governos de Ronald Reagan (EUA) e Margareth Thatcher (Inglaterra).
Em todos os países onde foi imposto, o neoliberalismo ampliou escandalosamente a concentração da renda, as desigualdades sociais e a miséria das massas trabalhadoras. No Chile não foi diferente, muito embora a propaganda veiculada na mídia burguesa sugira o contrário.
Entre outros retrocessos impostos pela ditadura de Pinochet, destaca-se a privatização da Previdência com a instituição do regime de capitalização, gerido pelos bancos, que condenou milhões de idosos a sobreviver com menos da metade do salário mínimo. A educação pública foi outro alvo predileto dos golpistas.
A ira popular vem sendo gestada há anos pelo acúmulo de retrocessos sociais. O reajuste das passagens do Metrô (que Piñera apressou-se a revogar) foi apenas o estopim da explosão, como ficou evidente com a continuidade dos protestos.
O modelo chileno é idolatrado pelo ministro Paulo Guedes, que por aqui insiste inclusive com a malfadada ideia de privatizar a Previdência e instituir o regime de capitalização. É a receita para o caos e a convulsão social. Reprimir não vai resolver o problema. Não serão os militares que devolverão a dignidade ao povo chileno.
A solução para os graves conflitos econômicos e políticos que perturbam não apenas o Chile, mas a grande maioria dos países latino-americanos e caribenhos, requer a rejeição, derrota e superação do neoliberalismo, a construção de um novo projeto de desenvolvimento, fundado na valorização do trabalho, na soberania das nações, respeito ao meio ambiente, democracia e integração dos países da região.
É por isto que devemos lutar.
* Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil)
Fonte: Vermelho.org