Em entrevista ao Brasil de Fato, dirigente nacional do MST analisa o Censo Agropecuário 2017
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta quinta-feira (26), resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017.
Com verba reduzida em relação às edições anteriores, o levantamento apresenta dados sobre a estrutura agrária, perfil dos produtores e proprietários rurais, arrendamento e uso de agrotóxicos, entre outras informações.
Em entrevista à Rádio Brasil de Fato, Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), analisou os resultados do Censo Agropecuário.
Confira alguns trechos da entrevista:
Brasil de Fato: Com base nos dados do censo, o que podemos concluir sobre a situação da concentração fundiária no Brasil?
Gilmar Mauro: Eu acho que o IBGE inclusive inovou, trazendo este dado novo, sobre as propriedades acima de 10 mil hectares no Brasil, o que caracteriza, de fato, essa abissal diferença socioeconômica na realidade brasileira. Apenas 2.400 fazendas acima de 10 mil hectares ocupam um tamanho de terra maior do que a maioria das terras na mão do povo que produz alimento e que emprega a maior parte da mão de obra no campo, que são as pequenas propriedades até 50 hectares.
É evidente que ainda é difícil, porque os dados foram lançados hoje, tirarmos conclusões, entretanto, nós podemos afirmar, com algum grau de certeza, que nós continuamos com concentração de terra. Um dos país com maior concentração de terra no mundo. E apesar de toda a luta pela terra, demarcação de terras indígenas, quilombolas, que evidentemente conseguimos avanços no último período, há um indicativo de maior concentração de terra.
Também existe um outro lado interessante que é o aumento do arrendamento. E é um arrendamento do tipo capitalista, em várias regiões do país, e é, fundamentalmente, para a produção de monocultura.
E em relação a diminuição do número de produtores individuais, o que isso significa?
Concentração. Concentração do pólo capitalista. É o típico que nós falamos, agronegócio. São agrupamentos capitalistas que aumentaram a quantidade de terras. E são esses agrupamentos que dominam e jogaram para cima os dados sobre arrendamento no campo.
Por outro lado, no pólo oposto, os agricultores pequenos perderam terreno, perderam espaço. Seja por renda, seja pelas precárias condições que nós estamos assistindo no Brasil. Então, há uma diminuição em número e, principalmente, em terra. O que, evidentemente, nos mostra que o processo de concentração fundiária, ao longo dessa década, aumentou no Brasil, ao invés de diminuir.
Mesmo com as políticas públicas e algum pouco de reforma agrária que foi estabelecida. Agora, ainda não está contido nestes dados apresentados pelo Censo é que a pequena agricultura é que emprega e produz alimentos no Brasil. Grande parte da mão de obra paga no campo é, fundamentalmente, nas propriedades até 50 hectares, que são essas que estão diminuindo.
Por outro lado, as grandes propriedades que aumentam a quantidade de terra e a concentração de terra são quem empregam menos e são quem produz menos alimentos para o povo brasileiro, porque, estão voltadas, fundamentalmente, para a exportação. E são a produção de grandes monoculturas. Com maior tecnologia, aumento no número de tratores, mas voltadas para a exportação.
Fonte: Brasil de Fato