Muita gente ingênua pensa que diante da crise política a melhor solução é a intervenção das forças armadas, que realizaria uma espécie de purificação moral e institucional.
Essa percepção baseia-se numa confusão imaginária que assimila fortaleza militar a fortaleza moral, ignorando que qualquer ser humano pode ser corrompido, independente da patente. De todo modo, contra a tese que vem se difundindo do golpe militar “purificador” é bom não esquecer alguns acontecimentos negativos por ocasião da mistura promíscua entre forças armadas e política:
1- Militares receberam propina do governo norte-americano para darem o golpe
No caso do golpe de 64 no Brasil que derrubou à traição João Goulart, o coronel Erimá Pinheiro Moreira declarou ao presidente da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, Gilberto Natalini, sobre a propina de US$ 1,2 milhão que o presidente da Fiesp, Raphael de Souza Noschese, entregou ao general Amaury Kruel, no dia 31 de março de 1964. ( A esse respeito, ver https://www.youtube.com/watch?v=P5DcOsYldPA ). Houve propina do governo americano, que supostamente temia a alegada “revolução comunista” em nosso país e desejava mantê-lo alinhado à zona de influência dos EUA.
2- Atentado a bomba no Riocentro
A bomba no Riocentro na noite de 30 de abril de 1981, quando ali se realizava um show comemorativo do Dia do Trabalhador. Foi uma tentativa de setores mais radicais do governo (principalmente do CIEx e do SNI) de, colocando a culpa na oposição radical pela carnificina prevista, convencer os setores mais moderados de que se fazia necessária uma nova onda de repressão, capaz de paralisar a lenta abertura política em andamento.
3- Carta bomba na sede da OAB-RJ
Na tarde do dia 27 de agosto de 1980 uma explosão na sede da Ordem dos Advogados do Brasil, no Rio de Janeiro, matou a secretária Lyda Monteiro da Silva, que tinha 60 anos de idade. Era uma carta bomba detonada pela própria vítima ao abrir o pacote enviado pelo Correio. Muitos anos depois, em abril de 2010, um dos comandantes da repressão durante a ditadura, o general Newton Cruz – num depoimento ao jornalista Geneton Moraes Neto – admitiu ter conhecimento daquelas ações terroristas.
4 – Ataques a bomba em bancas de jornal
“Era moda aquele negócio de bomba”, disse cinicamente esse mesmo general, referindo-se aos ataques contra bancas de jornal que vendiam os periódicos da imprensa alternativa de oposição à ditadura. Pois depois de censurar as redações de jornais e revistas da grande imprensa e da imprensa alternativa, a ditadura civil-militar buscou intimidar também os jornaleiros que vendiam determinadas publicações. Com o objetivo de impedir a propagação de reportagens e artigos contra o regime, a repressão realizou mais de 30 atentados a bomba contra bancas de jornal.
5- Ameaças terroristas de Bolsonaro
O recente candidato à presidência da república pela extrema-direita, Jair Bolsonaro, também planejou ações terroristas. Iria explodir bombas em quartéis do Exército e outros locais do Rio de Janeiro, como na principal adutora de água da capital fluminense, para demonstrar insatisfação sobre índice de reajuste salarial do Exército. Diz o relatório secreto do Centro de Inteligência do Exército (CIE), nº 394, de 1990, com 96 páginas (fonte DCM):
“Punido por ter elaborado e feito publicar, em uma revista semanal, de tiragem nacional, sem conhecimento e autorização de seus superiores, artigo em que tece comentários sobre a política de remuneração do pessoal civil e militar da União: ter abordado aspectos da política econômica e financeira fora de sua esfera de atribuição e sem possuir um nível de conhecimento global que lhe facultasse a correta análise; por ter sido indiscreto na abordagem de assuntos de caráter oficial, comprometendo a disciplina; por ter censurado a política governamental; por ter ferido a ética, gerando clima de inquietação no âmbito da OM (Organização Militar) e da Força e por ter contribuído para prejudicar o excelente conceito da tropa paraquedista no âmbito do Exército e da Nação (NR 63, 65, 66, 68 e 106 do anexo I, com agravantes do NR 2 e letra “C” NR 6 do artigo 18, tudo do RDE, fica preso por 15 (quinze) dias”.
Enfim, essa compilação de 5 atos perigoos de alguns militares não deve senão reforçar o cuidado em não se confundir poderio bélico com grandeza moral.
Fonte: Causa Operária.org