por Bernardo Gomes
O individualismo e a competição, inerentes ao capitalismo, devem ser substituídos pelo coletivismo e pela união das classes trabalhadoras.
O ano que se anuncia além de inaugurar uma nova década do Calendário Gregoriano, prevê uma inflexão na história, sendo as lutas políticas em todo o mundo decisivas para guiar a humanidade por novos tempos, sejam eles sombrios ou prósperos.
Qual é o objetivo da existência humana? De fato não existe uma reposta. O ser humano ao longo da evolução de sua espécie se organizou de diferentes maneiras, costumes, tradições, símbolos, cultura e poder. São muitos e muitos milhares de anos para que a história nos conte o que somos hoje. Todo esse processo que configura a realidade em que vivemos é fruto de disputas, dominação, guerra e política.
A política é o que nos move, é o processo de acomodação das disputas, das diferenças, do conflito, das desigualdades em processos decisórios negociados, onde o resultado será compartilhado pelo conjunto da sociedade em instituições que garantam o cumprimento do que foi decidido. O ser humano é um animal político já diria Aristóteles.
Já ha alguns anos a política parece estar fora de moda, muitos líderes ascenderam ao poder com discursos contra a política, criminalizando a política e seus atores, se colocando em um lugar de pureza absoluta como os verdadeiros guardiães da verdade e do poder, salvadores da pátria, inquisidores contra o grande mal que assola a humanidade. São eles porém, a verdadeira ameaça a sociedade e a vida coletiva, não existindo vida fora da política, usam de discursos e retórica demagoga para impor as suas próprias vontades sobre toda sociedade de maneira autoritária, sufocando o debate e o contraditório, são os verdadeiros tiranos.
A volta da tirania como forma de poder e governo, coincide com a grave crise do modelo produtivo capitalista, que não consegue suprir as expectativas da maior parte da sociedade moderna. Assim como na crise da Bolsa de Valores de 1929, hoje o capitalismo concentra riquezas e deixa as classes médias e os pobres cada vez mais pobres.
A sociedade de consumo, que necessita vender 24 horas por dia os seus produtos fúteis, não responde as demandas reais da economia, a fome e a miséria ainda são fantasmas que assombram o mundo. Marx já previa em seus estudos que o capitalismo é a anarquia da produção, um sistema que produz sem controle não existe para atender as necessidades da sociedade e sim para o acúmulo sem fim dos lucros dos capitalistas.
Uma vez empobrecida, a população se revoltou contra o centro político estabelecido não questionando o sistema econômico e sim a política. Desta forma, discursos demagogos que se insurgiram supostamente contra o sistema, ganharam notoriedade e acabaram conquistando corações e mentes, porém a resposta não foi uma mudança do sistema capitalista e sim muitas vezes o seu aprofundamento, em governos com força autoritária para reprimir as revoltas populares.
Com essa conjuntura nefasta que tenta sufocar a democracia, o capitalismo avança na sua forma mais hostil, revelando o fascismo como condição necessária para a reprodução desenfreada do capital e seu acúmulo. O neoliberalismo – forma atual do capitalismo – é antidemocrático! Bancos nunca lucraram tanto, o capital financeiro bate recordes e recordes, a concentração de renda é alarmante, a desigualdade aumenta em proporções astronômicas.
Por que um mundo que evolui tecnologicamente para produzir tanta riqueza não consegue melhorar a condição de vida da coletividade humana?
Esse é o questionamento que está sendo colocado para o sistema de produção capitalista. Os pobres do mundo e agora as classes médias, estão ficando mais pobres com um sistema que concentra renda e poder na mão de poucos, e para isso destrói os recursos naturais, o meio ambiente e explora a mão de obra humana de maneira sem precedentes na história. Não há equilíbrio aí que possa nos conduzir para uma convivência harmônica entre os povos.
Para fazer o contraponto é necessário fazer a disputa política. A realidade da situação econômica é muito diferente daquela da propaganda, as pessoas irão se levantar contra a opressão e contra a violência do capital sobre o trabalho. As tiranias que estão sendo impostas em governos de extrema-direita, serão questionadas pela memória da democracia liberal e a partir daí conflitos serão inevitáveis.
A radicalização não interessa a setores de esquerda nesse momento, é preciso diálogo e didática para recuperar o debate político perdido em meio a diversionismos dos ultraconservadores. O que a extrema-direita quer é suprimir o debate esclarecido de ideias, o que o capitalismo quer é não ser questionado em seus métodos. Avançam as ideias extremistas, o ódio e a violência. Querem tirar a política do jogo e quando a política sai o que resta é o vale-tudo, é a barbárie.
A disputa política na institucionalidade deve servir para criar coalizões políticas amplas que isolem o fascismo, assim como aconteceu na Itália com a queda de Salvini e na Argentina com a união do Kichnerismo e do Peronismo, impondo a derrota ao neoliberalismo. Nas ruas é preciso manifestações sociais cívicas capazes de educar o povo para o seu papel político para além do voto, na reivindicação, na conquista e principalmente na manutenção de seus direitos.
Assim, os corações devem ser tomados com sentimentos de fraternidade, solidariedade e cooperação, deixando o ódio e a violência política no esquecimento. É possível conviver com as diferenças, sempre foi. O individualismo e a competição, inerentes ao capitalismo, devem ser substituídos pelo coletivismo e pela união das classes trabalhadoras. Juntos somos mais fortes, organizados somos o poder popular.
2020, um ano de luta política para derrotar o fascismo no Brasil e no mundo!
Fonte: publicado em Vermelho.org