As cestas variam de 13 a 18 produtos, que vêm de nove regiões e quatro estados
A partir da necessidade de pensar todo o processo de produção de alimentos, desde o plantio e a colheita até a comercialização, o MST de Minas Gerais colocou o desafio de comercializar as cestas de Natal do Armazém do Campo BH em larga escala, para as nove regionais. Além de Minas, foram mais três estados participantes da cadeia produtiva – Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Paraná – para entregar cestas em dois tamanhos. Variando de 13 a 18 produtos, a cesta partilha e a cesta comunhão representam a diversidade do território mineiro, e do MST a nível nacional, com doces, cachaça, geleia, e outras delícias.
As cestas de Natal reforçam que alimentar-se é um ato político. Para Maíra Santiago, da Direção Estadual do movimento, o desafio posto para o MST é o de pensar uma produção de alimentos a baixo custo para a classe trabalhadora, que sustente o povo camponês e também dê acesso à variedade de alimentos saudáveis para o povo da cidade. “Só existimos enquanto movimento, enquanto camponeses, pois existe cooperação entre nós. Desde a cooperação para a ocupação do latifúndio improdutivo até a cooperação na produção de alimentos. Desde o plantio, à colheita e comercialização. Esse é um diferencial que faz com que nossa produção tenha história de solidariedade e amor à vida e à terra, diferente da história dos produtos do agronegócio que tem veneno e morte”, explica.
Uma forma solidária de produzir na terra
A cooperação é um princípio do MST, e dentro desse desafio de garantir comida saudável por um preço justo para a classe trabalhadora, é preciso construir coletivos de produção e comercialização. Henrique Samsonas, do MST no Vale do Mucuri, é um dos técnicos responsáveis pelo feijão da cesta de Natal, que além de cooperado, é agroecológico, pois “não é utilizado nem adubo de síntese química e nem agrotóxico na sua produção”. Os principais desafios para a produção na região, o armazenamento e a produção em larga escala, foram pensados com muito zelo para garantir a entrega de mais de 2 mil sacas de feijão sem veneno.
Henrique afirma que esta é a primeira vez que a regional, local da primeira ocupação do MST de Minas Gerais, ensaca feijão, e todo o processo de limpeza e preparo foi feito forma coletiva, por meio de mutirões, fundamental para garantir o envolvimento da comunidade.
As mulheres também se destacam na produção agroecológica das cestas de Natal do MST. Na Zona da Mata mineira, o Coletivo de Mulheres Olga Benário uniu o trabalho coletivo à cumplicidade das mulheres para produzir. “Fizemos 2100 vidros de pimentas, foi a primeira vez que fizemos essa grande quantidade. Essa experiência trouxe mais alegria, deu mais esperança para trabalhar e trouxe algumas mulheres que ainda não estavam produzindo para o processo”, explica Sheila Pagnussatti, coordenadora do Coletivo.
Segundo Sheila, o trabalho desenvolvido pelas mulheres do Assentamento Olga Benário, que também comercializam em feiras locais, foi importante para construir a emancipação financeira, política e emocional das mulheres. “O Coletivo tem buscado o cuidado com a mulher, a independência”, ressalta. Ela reforça que o trabalho não está ligado só à renda, mas aos desafios que surgem na vida das mulheres camponesas, como o cuidado dos filhos, a divisão de tarefas e a vida no assentamento. Sobre as perspectivas de expansão do Coletivo, Sheila reforça que a cooperação é o caminho: “As companheiras ficaram empolgadas em continuar os trabalhos”.
Na relação da luta pela reforma agrária com a cidade, a agroecologia aparece como central para o MST, e é reforçada pela produção e comercialização das cestas de Natal feita de forma libertadora, sem exploração da terra, das pessoas e dos recursos naturais. “A agroecologia vem para resgatar toda essa forma solidária de trabalho e produção de alimentos saudáveis. Vem no intuito de democratizar as terras. Ela está na contramão do agronegócio. É um embate político, econômico e técnico ao agronegócio”, ressalta Maíra Santiago.
Fonte: Brasil de Fato