Uma espiada na conjuntura política

por Juca Ferreira

A política não é mesmo uma operação aritmética. Se parece mais com álgebra superior. Neste momento da disputa política, um mais dois pode não ser igual a três. O jogo está complexo. É preciso decifrá-lo.

Estamos todos tensos e preocupados porque sabemos que o destino do país está sendo decidido agora. Estamos em meio a um processo golpista e muita coisa pode acontecer.

Muitos, desde o início, negaram a estratégia petista e a afirmação de que sem Lula a eleição seria uma farsa. Esses céticos não acreditaram que essa leitura contribuiria para politizar as próximas eleições e revelar seu caráter plebiscitário em torno da questão democrática e que Lula conseguiria depois transferir os votos para Haddad.

Muitos chegaram a propor que o PT teria que passar o centro da disputa para outra legenda acreditando que o partido estaria derrotado de antemão.

O golpe tentou de fato tirar definitivamente Lula e o PT do jogo político e, apesar de um certo sucesso inicial, está fracassando neste intento para sorte do Brasil e do povo brasileiro.
O PT, junto com outros partidos e muita gente que está na luta contra o golpe, querendo retomar a normalidade democrática, conseguiu reverter o impacto devastador inicial e revelar a farsa da narrativa golpista da qual fazia parte a criminalização de Lula e do PT. Narrativa esta que a grande mídia tentou incutir na população e transformá-la em realidade.

Ao mesmo tempo, o enfrentamento dos que lutam pela retomada da normalidade democrática conseguiu também caracterizar para boa parte da sociedade a perseguição deliberada contra Lula e o PT por parte do judiciário e do MP.

Foi correto ter insistido no caráter golpista do impeachment da presidenta Dilma e ter denunciado a participação, nesse processo, das instituições encarregadas de defender a democracia.

O PT, do golpe para cá, se recuperou e está batendo recorde do número de filiados; tem hoje, como um feito memorável, considerando a gigantesca manipulação da opinião pública, a preferência como partido de uma grande parcela dos brasileiros. Mais incrível ainda, somando o índice da preferência de todos os outros partidos, o percentual petista é ainda maior.

E, de quebra, o tema central dessa reflexão, a chapa do partido caminha para ser a escolhida nas próximas eleições. Lula seria eleito no primeiro turno se o deixassem concorrer.
O jogo é pesado, é política com interferências partidarizadas de instituições do Estado, uma aberração na democracia.

É disputa palmo a palmo da sociedade. Política com letra maiúscula, dos que lutam pela retomada da normalidade democrática, com a grandeza que há muito não se via no Brasil.

Lula e o PT estão construindo uma saída para o buraco que o golpe levou o país. Para colocar em marcha essa alternativa à crise econômica, política e social, precisarão do apoio da maioria da população e de todos os democratas.

Precisaremos ganhar as eleições. A estratégia petista de enfrentamento político do golpe está dando certo até agora.

Além do crescimento nas intenções de voto, a estratégia petista revelou para boa parte da população essa natureza plebiscitária das eleições de outubro: ou se vota pela legitimação do projeto neoliberal e pela continuidade do processo de golpe, perdendo direitos sociais já conquistados e perdendo emprego, ou votaremos pelo retorno da normalidade democrática para recuperarmos o caminho do desenvolvimento com inclusão e redução das desigualdades sociais.

Simples assim.

Uma coisa tem a ver com a outra: o caráter plebiscitário das próximas eleições foi revelado porque Lula e o PT analisaram corretamente o momento que o Brasil estava vivendo e assim pode definir a contradição principal. Toda a movimentação petista deu visibilidade a essa natureza do momento político, mostrando que a eleição é uma farsa ao excluir Lula e que é preciso rejeitar o golpe. Não podíamos participar da campanha aceitando a interdição de Lula e a tutela golpista como se, ainda assim, fosse uma eleição normal. E, ao mesmo tempo, não poderíamos abrir mão de participar das eleições.

Complexo assim.

Outros candidatos não se posicionaram tão claramente e por isso não polarizaram e não encarnaram a rejeição ao golpe e tudo que ele significa de negativo para a sociedade.

Se o PT tivesse tomado a iniciativa de retirar a candidatura de Lula, teria assumido o ônus da sua não participação: perderia tudo que construiu e perderia força porque pareceria puro jogo de cena.

Por outro lado, a chapa já está registrada, e Haddad, diante da interdição de Lula representará o projeto político para o país do qual Lula é o líder.

O judiciário têm sido parte importante da quebra da normalidade democrática. Chafurdaram na ilegalidade e expuseram mais ainda o golpe na tentativa de justificar a manutenção da interdição de Lula. Politicamente, essa ilegalidade desmascarou, aos olhos da maioria do povo, que as instituições jurídicas brasileiras e a Lava Jato estão comprometidas, desrespeitam a Constituição e se movem na ilegalidade, exercendo o protagonismo no golpe.

Alguns céticos já estão reconhecendo que estão diante de uma estratégia bastante lúcida de Lula e do estado maior petista.

Estão acertando, com um errinho aqui e ali, como quando, por exemplo, alguns hostilizaram Ciro gesto que Lula, atento desde a cela da prisão, desautorizou.
Haddad já está em campanha. A transferência de votos para ele já começou. Lula é líder e tem um partido e um projeto de nação, ao contrário dos líderes populistas. Nenhuma outra candidatura cresce, neste momento, tanto quanto a candidatura de Haddad.

No nosso campo, temos uma outra candidatura que está crescendo na disputa dos votos, a candidatura de Ciro. Acho bom, porque, na soma, temos uma maioria folgada votando contra o golpe.
O cenário mais provável é um segundo turno Haddad x Bolsonaro. O PT já está tentando criar as condições para isolar o representante do projeto fascista e para arregimentar parte dos votos dos que ficarão pelo caminho no primeiro turno, incluindo parte dos votos de Alckmin, se ele estiver de fato fora do segundo turno.
Daí a importância da luta democrática nesse momento. Para vencer e, mais ainda, para governar depois, precisaremos estar unidos, sustentando, juntos, a nossa democracia e avançando socialmente.

O perigo que vejo é um golpe dentro do golpe e arranjarem algum pretexto para anular a chapa ou inviabilizarem Haddad. Difícil, mas nada é impossível depois que se quebra a ordem jurídica que sustenta a democracia.

Acho que nós estamos no jogo e, como estamos, nos posicionamos para ganhar as eleições.

Uma vez ganha a eleição, sentiremos na pele o que sofrem outras democracias. Toda essa escumalha mobilizada, preparada e financiada para afirmar o projeto de subalternidade do país e de supressão de direitos sociais virá para cima sem aceitar a derrota, questionando a democracia, a eleição e o resultado. O PSDB não fez isso, dois dias depois de terem perdido as eleições de 2014?
Precisaremos estar unidos e preparados politicamente para enfrentar esse espectro que ronda o Brasil. Sou otimista. Venceremos!

O Brasil tem futuro e vamos abraçá-lo com firmeza.

Lula será solto pela força do povo vitorioso. E voltaremos a ser um país feliz, enfrentando os desafios e as mazelas.

O século XXI promete.

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