Tragédia da Vale em Brumadinho: cresce o número de mortos

Presidente da Vale disse que barragens críticas serão desativadas. Porta-voz informa que empresa doará 100 mil reais a familiares de vítimas (até quando o lobbymismo falará mais alto do que vidas humanas?)

Foto: Léo Vieira/Planeta MG

Até a manhã desta quarta-feira 30, o Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil de Minas Gerais confirmavam a morte de 84 pessoas após barragens do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), terem se rompido na última sexta-feira 24. A quantidade de vítimas fatais, no entanto, deve subir já que o número divulgado diz respeito apenas à quantidade de corpos já resgatados. Desses, 67 já foram identificados. As autoridades estimam que ainda há 276 desaparecidos.

O porta-voz da Vale, Sérgio Leite, afirmou na manhã desta quarta que familiares das vítimas receberão 100 mil reais. Questionado se o valor é um adiantamento de uma indenização e da responsabilização da empresa pelo rompimento de barragem, ele afirmou tratar-se de uma “doação” e “uma forma de estar solidário com a dor”.

Na terça-feira 29, o presidente da mineradora Vale, Fabio Schvartsman, anunciou que a empresa vai eliminar dez barragens semelhantes às que romperam em Brumadinho e em Mariana (em 2015). Todas elas estão localizadas nos arredores de Belo Horizonte.

“É a resposta cabal e à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho. Este plano foi produzido três a quatro dias após o acidente”, disse o executivo.

O presidente da Vale disse que o projeto para descomissionar as barragens – preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza – está pronto e será levado para os órgãos federais e estaduais em 45 dias. Segundo ele, o prazo para executar as ações é de um a 3 anos.

Impactos

De acordo com a ONG WWF-Brasil, os impactos da enxurrada de lama serão sentidas por anos no âmbito ambiental.  “Aproximadamente 125 hectares de florestas foram perdidos, o equivalente a mais de um milhão de metros quadrados, ou 125 campos de futebol”, indica o relatório divulgado.

A Agência Nacional de Águas (ANA) estima que a onda de rejeitos e lama chegará entre 5 e 10 de fevereiro à hidrelétrica de Retiro Baixo, a 300 km da mina do Córrego do Feijão.

O órgão ainda avalia se o rejeito alcançará a  hidrelétrica de Três Marias, no rio São Francisco, 30 km abaixo da barragem de Retiro Baixo. O Serviço Geológico do Brasil, no entanto, estima desde segunda-feira que os resíduos alcançarão Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro.

O São Francisco é um rio de vital importância econômica e social para cinco estados.

Rompimento

A barragem de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, rompeu na sexta-feira, liberando quase 12 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos minerais e deixando um rastro de destruição em instalações da Vale e numa comunidade de Brumadinho. A lama e os rejeitos também atingiram o rio Paraopeba.

Segundo a Vale, o lugar havia sido inspecionado pela certificadora alemã TÜV-Süd em junho e setembro de 2018, ocasião em que foi atestada como estável. Ontem, dois engenheiros da firma alemã que atestaram a estabilidade e três funcionários da Vale, responsáveis pela mina e seu licenciamento, foram presos.

Oficialmente, a barragem que rompeu não recebia novos rejeitos havia três anos e estava em processo de desativação. A estrutura foi construída em 1976 pela antiga mineradora Ferteco Mineração, que já foi a terceira maior companhia produtora de minério de ferro do Brasil e pertenceu ao grupo alemão ThyssenKrupp. A barragem e a mina passaram para a Vale em 2001, quando a Ferteco foi vendida.

Cerca de mil policiais militares estão acampados na zona rural de Brumadinho, fazendo o patrulhamento da área para evitar saques. Segundo o major Flávio Santiago, serão dois dias de grande operação, mas o comando da Polícia Militar definirá se haverá necessidade de estender a ação por mais tempo.

A tragédia em Brumadinho ocorre cerca de três anos após o rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), responsável pela morte de 19 pessoas e por uma das maiores tragédias ambientais do mundo, com o despejo de mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério, o que afetou rios e florestas em Minas Gerais e no Espírito Santo.

A mineradora responsável pela barragem, Samarco, também pertencia à Vale S/A, em sociedade com o grupo anglo-australiano BHP Billiton.

Fonte: Carta Capital

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