Após a mudança para casa nova, Ocupação Carolina enfrenta desafios e vence dificuldades. A Ocupação Carolina Maria de Jesus é um importante processo na luta pela reforma urbana no país.
Após cerca de dois meses da mudança do Endereço do alto da Afonso Pena para a Rua Rio de Janeiro, a Ocupação Carolina Maria de Jesus enfrenta novos e velhos desafios, vence dificuldades e persiste na luta por moradia para as mais de 200 famílias que residem no prédio. O acordo extrajudicial de desocupação pacífica foi firmado entre as famílias, representadas pelo Movimento de Luta no Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e o governo de Minas com a participação da Prefeitura de Belo Horizonte, Defensoria Pública do Estado, Companhia de Habitação do Estado de Minas Gerais (Cohab Minas) e do Ministério Público estadual. A mudança contaria com o auxílio de caminhões cedidos pela Prefeitura de Belo Horizonte a pedido da Cohab Minas. As famílias são levadas para um outro prédio, que fica na rua Rio de Janeiro, nº 109, e ficarão lá por até três anos.
O “novo” local da Ocupação, trata-se de um hotel falido e que embargado por inúmeras dívidas estava desativado há anos, sem exercer nenhuma função social, e que agora abriga mais de 200 famílias num exemplo de reforma e reestrutura urbana. Após nove meses de negociação, as famílias que vivem na Ocupação Carolina serão reassentadas na região do Barreiro, onde serão construídas unidades do programa Minha Casa, Minha Vida.
Tranquilidade não tem preço
“Hoje podemos deitar e dormir tranquilos, sem a presença da polícia e porque sabemos que não nos tirar daqui”, afirma Mara, da coordenação do movimento. Por ter sido um acordo firmado entre o MLB, as famílias e os governos estadual e municipal, a coação da polícia fazendo pressão para saída dos moradores não acontece.
Além da tranquilidade e segurança em ter um teto, a segurança emocional e financeira com o auxilio por parte da prefeitura em disponibilizar um terreno e ajuda para as familias desasistidas.
Velhos problemas e novos desafios
Mesmo com toda negociação com o poder público, e acordos para que as famílias pudessem ter acesso a moradia digna, quando da ocupação do prédio, este apresentou diversos problemas estruturais. Assim que houve a mudança, o prédio que deveria estar limpo pelo antigo proprietário, estava completamente sujo e cheio de entulhos, apresentando problemas de vazamento de esgoto e de energia elétrica. Os encamentos de esgoto romperam e inutilizaram a cozinha do prédio. “Foi muito difícil, vazando esgoto e sem o devido apoio da prefeitura e do proprietário, nós mesmos que tivemos que meter a mão na massa”, afirmou Mara.
Para evitar problemas de incêndio, cada família utiliza apenas duas tomadas elétricas e não podem sobrecarregar com mais de 2 aparelhos ligados. Esta decisão foi tomada visando a segurança, e também porque a CEMIG instalou um quadro de força que não comporta distribuição de energia para todo o prédio, o que leva muitas famílias a utilizarem somente lanternas, uma vez que não tem energia elétrica.
Os banheiros são coletivos em dois andares, pois o proprietário e a COPASA ainda não disponibilizaram uma bóia de pressão para a caixa d’agua, o que impede que a pressão chegue aos quartos.
Uma casa para todos
A cozinha e o restaurante são coletivos, e as tarefas são distribuidos por todas as famílias e as tarefas de portaria, limpeza e da cozinha são compartilhados por todos. O projeto do restaurante, da biblioteca para as crianças e de um centro de cultura tem recebido apoio do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG.
Os alunos do curso de medicina e odontologia da UFMG tem prestado apoio às famílias, com visitas e acompamhamento médico-odontológico.
Apoiadores e voluntários tem oferecido as crianças aulas de dança, capoeira, mas que há ainda muito mais por fazer, como a ajuda na criação da biblioteca e em aulas de reforço escolar.
Luta e resistência
Sem contar muito com o apoio da prefeitura, que sempre dificulta o diálogo com as lideranças da Carolina, muito mais poderia ser feito pelo poder público, como a prestação de serviços de saúde às famílias, a inserção profissional de jovens e adultos, em que muitos pais de família tem dificuldade em conseguir um emprego, presença de assistentes sociais para acompanhamento das famílias, mulheres gestantes e crianças, maior apoio na solução dos impasses junto ao atual proprietário do prédio, entre outros.
Uma das maiores vitórias conseguidas pela Ocupação Carolina foi de conseguir retirar a presença da polícia Militar de participar da mesa de negociação para as decisões não só da Carolina, mas de todas as ocupações de Belo Horizonte e região metropolitana.
Um exemplo de reforma urbana e cidadania
Local bem organizado, limpo, ainda que com diversos problemas estruturais, mas que as pessoas do Carolina, tem procurado cuidar e mais do que isso, melhorar o lugar. É um exemplo de que com o devido apoio, prédios inabitados podem se tornar casa para muitas pessoas. Pessoas de bem, pessoas que a despeito de terem passado tanta dificuldade na vida, não perdem o sorriso no rosto e a esperança no olhar, pessoas como a Mara, mãe, batalhadora, guerreira e do Seu Sandro, homem humilde, batalhador, sempre disposta a ajudar quem quer que seja, e que agora não só eles, mas inúmeras famílias tem um lugarzinho pra chamar de seu, e que dentro em breve estarão morando em seu próprio terreno.
Se você ainda não conhece a Ocupação Carolina, como é carinhosamente chamada, vá lá, conheça, visite-a, e será bem recebido, e sairá com uma impressão maravilhosa de que por lá moram pessoas honestas, pessoas de bem, que estão lutando por ter sua casa e por criar sua família.
Apoie a causa das famílias da Ocupa, doando alimentos, roupas e demais gêneros.
#ResisteCarolinaMariadeJesus
Nota da Redação: agradecemos ao Edinho, da direção do MLB, Mara, da Coordenação e o Sr Sandro, pelo apoio e carinho.