por Joan Edesson*
A pandemia, no Brasil, é agravada por outro vírus, o vírus do bolsonarismo.
Do meu isolamento, acompanho o desenrolar da tragédia brasileira. Um vírus avança de forma devastadora pelo país, faz suas primeiras vítimas fatais, ameaça uma mortandade sem precedentes e um desastre social de proporções incalculáveis, durante e após a duração da pandemia.
Quem conhece minimamente o Brasil sabe o quanto as condições de vida do povo pioraram nos últimos anos. A miséria e a fome, mãos dadas irmãmente, galopam livres nas regiões mais pobres do país, correm à solta nas periferias das grandes e médias cidades. No meio dessa população miserável, muitas das vezes sem as mínimas condições de saneamento, a pandemia pode deixar um rastro de mortes muitíssimo mais alto. A economia já combalida pela condução irresponsável de Guedes, beirando o naufrágio, pode afundar de vez, e os mais pobres serão, uma vez mais, os mais penalizados, os que se afogarão na onda trágica da política econômica errática e contrária aos interesses do povo.
O cenário que vejo da minha janela é, portanto, de desolação, uma tragédia sem precedentes na vida nacional.
A pandemia, no Brasil, é agravada por outro vírus, o vírus do bolsonarismo. Por onde passa, Bolsonaro deixa como rastro uma gosma fétida, uma mistura de autoritarismo, ódio ao diferente, ignorância, burrice gigantesca, insanidade, irresponsabilidade sem limites. Quando já atingimos uma curva de crescimento da pandemia semelhante à italiana, a mais grave até agora, o pretenso chefe da nação insiste que tudo não passa de histeria, uma gripezinha sem maiores consequências.
Não há uma única voz sensata no desgoverno federal. O filho 03, tão bem apelidado pelo vice Mourão de Bananinha, resolve complicar as coisas ainda mais e provocar uma crise diplomática com a China. O presidente não consegue sequer pronunciar os seus balbucios dementes e desconexos para estancar a crise. A única reação firme veio do aluado ministro das Relações Exteriores, que exigiu uma retratação… da China. A seriedade da idiotice é tamanha que nem serve mais como comédia.
É difícil, num quadro assim, em que a nossa maior preocupação é como se esconder da Moça Caetana, pensar no futuro, por mais próximo que ele seja. E, entretanto, precisamos fazê-lo. Mais do que nunca é necessária uma frente ampla, que pense para além do incerto calendário eleitoral, como todo o mais ameaçado pelo fantasma da pandemia. É necessária uma frente que pense em como salvar a nação dos destroços nos quais ela ameaça sucumbir. Haveremos de passar pela pandemia, haveremos de atravessar a tormenta. Precisamos é minimizar o número de mortos, é garantir que os efeitos futuros não sejam tão perversos.
Mas, se não enfrentarmos e derrotarmos nesse processo o vírus mortal do bolsonarismo, inoculado na sociedade brasileira por parte de uma elite irresponsável e sem compromissos com o Brasil, pouco adiantará sobrevivermos ao coronavírus. A destruição da nação, que já estava em curso, prosseguirá ainda com mais força.
Ou nos unimos todos para derrotar o coronavírus e o bolsonarismo, as duas graves ameaças que pairam sobre nós, ou o futuro será desolador, e dificilmente veremos novamente o Brasil tal como o conhecemos. Quem sobreviver, verá.
Joan Edesson de Oliveira é Educador, Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará.
Fonte: publicado em Vermelho.org