O bloco Juventude Bronzeada desfilou pelas ruas do bairro Floresta, em seu sexto ano consecutivo, na tarde desta terça-feira (5). Um casamento e um forte discurso contra o racismo, a homofobia e outras formas de intolerância marcaram o início do cortejo na avenida Assis Chateaubriand.
Uma criança abriu a cerimônia de união do casal Isabelle Fraga e
Daniel Pacheco – que se conheceu em um show do Juventude Bronzeada, desfilando com uma placa a favor da diversidade. “Qualquer maneira de amor vale a pena”, dizia a tábua.
A madrinha e celebrante do casamento, a arquiteta Luíza Alana, também destacou o respeito à diversidade sexual em seu discurso. “Nada mais significativo do que casar aqui, neste mar de saias coloridas, no bloco que embalou este amor desde o início”, disse ao casal.
E prosseguiu. “São seis as cores de uma bandeira muito importante pro nosso Carnaval e pra nossa sociedade: a bandeira LGBT. Reafirmar o amor de vocês lembrando o direito que casais LGBTs devem ter de celebrar o amor da mesma forma, é de um carinho único”, se emocionou.
Luíza ressaltou a importância do ato. “A forma como vocês nos abraçam, os amigos e amigas LGBT que tanto amam, nos dá forças para seguir vivendo, sobrevivendo e sonhando. Que todos tenham a chance de encontrar um amor cuidadoso como o de vocês e que ninguém jamais precise esconder este amor. Muito obrigada por serem colo, pela empatia e pela força que nos dão”, finalizou.
Bloco faz desabafo contra intolerância
Antes mesmo do primeiro acorde, uma das organizadoras do Juve, a analista de comunicação e marketing Marcela Pieri, fez um discurso emocionado do alto do trio elétrico. “Pra você que acha que quando a gente para a música pra fazer um discurso, a gente está parando o nosso cortejo, não se engane! Esses discursos são o nosso cortejo. São tão ou mais importantes do que as músicas que a gente vai tocar aqui hoje” sinalizou.
Marcela revelou que a organização do bloco teve receio de desfilar neste Carnaval. “O bloco quase não saiu neste ano. E não foi por falta de verba. O que fez com que o Juventude Bronzeada quase não saísse foi o medo com base nos episódios de intolerância que despontaram sob o prenúncio do ódio que vimos crescer no último ano”, disse.
E continuou. “A gente teve medo de estar na rua, porque parece que quem tem se atrevido a ocupar esta rua, muitas vezes não têm conseguido voltar pra casa. Tem gente perdendo a vida por muito pouco, como Pedro Henrique, estrangulado pelo racismo num supermercado”, completou.
A analista também questionou o termo usado para denominar algumas categorias vulneráveis na nossa sociedade. “Pra muita gente, tá cada vez mais difícil de existir. E eu não quero nem falar de minoria aqui. Porque eu to falando de mulheres, de pretos, de pessoas LGBTs e nós somos mais da metade da população”, afirmou Marcela.
Sobre a importância de ocupar as ruas como forma de resistência, Pieri foi categórica. “E porque nós somos muitas e muitos, que não podemos nos deixar subjugar por um grupo dominado pelo ódio e pelo autoritarismo, tão focado em nos exterminar e nos calar. Nós entendemos, finalmente, que é justamente nos tempos mais difíceis de estar na rua, que nós não podemos arredar o pé dela”, declarou.
E finalizou, emocionada. “É por isso que nós estamos aqui hoje. Porque a gente acredita na potência do Carnaval pra marcar a nossa resistência. Que o nosso canto cale o medo e a nossa folia combata o ódio. Nós estamos em bloco porque sabemos que só juntos poderemos vencer esses tempos sombrios. Que a nossa voz, que toda voz, com a força desta festa, possa soar alto”, concluiu.
Fonte: BHAZ