por Editorial do Esquerda Online
Nesta terça-feira, 01 de janeiro de 2019, toma posse o ex-capitão do Exército Brasileiro, Jair Messias Bolsonaro, feito presidente em um controverso processo eleitoral no qual seu principal adversário, o petista Lula da Silva, esteve e segue preso em um processo judicial sem provas, mas repleto de convicções.
Bolsonaro foi eleito com uma espécie de anticampanha apoiada em uma rede de mentiras e histórias mal contadas num verdadeiro elogio a tudo o que não é democracia. Não foi aos debates mesmo quando os médicos o liberaram nem muito explicou devidamente seu plano de governo. Surfou o sentimento antipetista e o tsunami reacionário que tomou conta do país. E assim, democraticamente, elegeu-se um inimigo declarado da democracia, admirador dos regimes autoritários brasileiros e de seus torturadores e assassinos.
Junto com o ex-capitão assume um verdadeiro antiministério para usar um termo que circulou recentemente nas redes sociais, que nem de longe é a cara do nosso Brasil, nem por sua composição, muito menos por seus valores. No país de maior população afrodescendente do mundo, nenhum negro assume papel no primeiro escalão. Com mais de um quarto da população brasileira e quase 20% do território nacional, a região Nordeste não terá um único nome chefiando ministérios.
Já quanto às mulheres, em um país majoritariamente feminino, serão somente duas entre os vinte e dois nomes: Tereza Cristina do DEM, a “musa do Veneno” e parceira da corrupta JBS na pasta da Agricultura e a pastora antiaborto e antifeminismo Damares Alves no Ministério das Mulheres, Família e Direitos Humanos. É a lógica da “Raposa cuidando do galinheiro” que, aliás, se repete nas mais diversas pastas. Um militante anti-SUS na Saúde, um defensor do desmatamento no meio-ambiente, um inimigo dos professores na Educação, um adepto do estapafúrdio “antiglobalismo” nas Relações Exteriores, um homem do Santander no Banco Central, um corrupto declarado na Casa Civil, um privatista desenfreado na Economia, um justiceiro na Justiça e assim em diante.
Chama atenção no antiministério bolsonarista a presença de militares compondo o governo via Gabinete de Segurança Institucional, Defesa, Secretaria de Governo, Ciência e Tecnologia, Infraestrutura e Minas e Energia, sem falar no próprio vice, Hamilton Mourão, demonstrando um nível de tutela militar de um governo nunca visto desde a redemocratização. Mourão, inclusive, a todo instante vem se mostrando preparado para assumir um papel menos “decorativo” para relembrar a expressão do agora ex-presidente e para sempre golpista Michel Temer. E nesse Brasil pós golpe não é de bom feitio ignorar os vices e muito menos suas sedes por poder.
Não há como imaginar que dessa cumbuca saia algo de bom. Ainda assim, há quem de bom coração, ou não, acredite que é preciso dar tempo ao tempo e esperar pra ver como se sairá Bolsonaro e sua trupe à frente do governo. Nós, por outro lado, estamos entre aqueles que acreditamos que não há um único minuto a esperar na organização da resistência em todo o país.
Não temos razões para menosprezar as ameaças do novo governo. Ainda nos últimos dias de 2018, o presidente eleito mandou pelo menos dois recados pelo twitter: o primeiro no dia 29 afirmando que garantirá por decreto a “posse” de arma de fogo com registro definitivo assinalando sua disposição de fazer um governo fortemente marcado pelo discurso da violência como forma de segurança.
O segundo recado, no último dia do ano, foi direcionado a toda comunidade escolar e universitária do país ao colocar como umas das metas de seu governo “combater o lixo marxista que se instalou nas instituições de ensino” como forma de tirar o país das “piores posições do ranking de educação” em uma clara referência à perseguição ao livre pensar nas escolas e universidades públicas, e na nítida intenção de manter um nível de polarização que deixe seus seguidores em uma “guerra santa” permanente contra a “esquerdalha”.
Não há porque baixar a guarda. Muito pelo contrário. Não temos porque duvidar da intenção deste governo de acabar com os direitos trabalhistas instaurando a carteira “verde amarela” ou fazendo com que o emprego “beire a informalidade”. É preciso construir unidade na luta para erguer as trincheiras e desde o primeiro momento. Dialogar com nosso povo em todos os lugares e preparar as imensas lutas que virão por aí. Desde o Carnaval com toda sua irreverência, até o 8 de março, dia de luta das mulheres trabalhadoras que há de ser o maior de toda nossa história.
Um vigoroso e vibrante abril vermelho em memória de todos os que tombaram na luta pela terra em nosso país. Um primeiro de maio combativo e de imensa unidade em defesa dos direitos dos que vivem do trabalho e do direito à aposentadoria e aos benefícios previdenciários conquistados a duras penas. E em todos os atos, todas as lutas e em todos os cantos que brote povo consciente e organizado. Serão dias intensos os que teremos em 2019. Pois que assim o sejam. Estaremos juntos e seremos Resistência.
Fonte: Esquerda Online