Presidente da Embratur, Gilson Machado Neto, atribui a Macron a maior culpa pela ‘pulverização da imagem do Brasil’ a partir de foto falsa
A forte repercussão internacional negativa dos incêndios na Amazônia causou um prejuízo imediato ainda incalculável para o turismo brasileiro, admite Gilson Machado Neto, à frente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Ele reconhece que a imagem do Brasil no exterior foi “pulverizada”, mas indica que vai aproveitar o interesse do mundo pela região para atrair turistas estrangeiros à floresta.
“Houve um marketing negativo? Sim. Houve cancelamentos de passagens? Sim. O prejuízo foi muito grande e afetou a imagem do Brasil, que foi pulverizada lá fora de forma superlativa e desnecessariamente”, avalia Machado Neto, em entrevista à RFI, durante a maior feira de turismo da América Latina, a FIT, que aconteceu nesta semana em Buenos Aires.
“Tivemos uma queda em torno de 15% dos voos para a Amazônia, de acordo com a companhia American Airlines (a única que voa dos Estados Unidos a Manaus)”, revela Machado Neto, calculando um impacto ainda maior entre os países europeus. “Da Europa, eu não tenho os números ainda, mas o impacto foi maior. Tivemos impacto, principalmente da França. Mas o número exato eu ainda não sei”, indica.
Culpa de Macron
A menção à França não é em vão. Gilson Machado Neto atribui ao presidente Emmanuel Macron a maior culpa pela “pulverização da imagem do Brasil” a partir de uma foto falsa. “Macron publicou uma foto tirada na Índia em 1989 de um fotógrafo que morreu em 2003. Com isso, disparou a reprodução de uma fake news que foi seguida por outras celebridades”, acusa o responsável pela Embratur.
Em agosto, o presidente francês usou uma imagem do fotógrafo da National Geographic, Loren McIntyre, falecido há 16 anos, como sendo uma imagem atual do fogo consumindo a floresta Amazônica. A foto foi reproduzida por famosos como Leonardo DiCaprio.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest – the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen – is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let’s discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon pic.twitter.com/dogOJj9big
— Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) August 22, 2019
“Toda a divulgação negativa começou com Macron”, aponta Machado Neto, que, desde então, reverbera ao mundo que “a Amazônia não está pegando fogo”. “Ele deve ter feito isso para desviar a atenção interna. Como ele está mal politicamente, precisa encontrar um novo foco”, justifica.
O presidente da Embratur refutou os dados segundo os quais as queimadas em 2019 estão mais graves, citando “documentos da Nasa” segundo os quais “tivemos 60% a menos de incêndios na Amazônia”. Machado Neto mostra a tela do seu celular com imagens de 2019 em comparação com as de 2018, que jura serem da agência espacial norte-americana.
“O que pegou fogo foi o Cerrado, uma região pré-amazônica. Não é a Amazônia em si. O capim nativo do Cerrado pega fogo naturalmente na época de seca”, argumenta, antes de diferenciar a Amazônia Legal, que inclui o Cerrado, da Amazônia propriamente dita.
Do limão, uma limonada
Essa será a tônica do governo brasileiro para o mundo. Em setembro, em discurso na cerimônia de abertura da Adventure Travel World Summit (ATWS), em Gotemburgo (Suécia), lá estava Gilson Machado Neto repetindo o mantra de que “a Amazônia está intacta”. “Nessa que é a maior feira de ecoturismo no mundo, falei para 800 dos maiores ‘players‘ de ecoturismo do mundo. Eles pensavam que o Brasil tinha pegado fogo, que São Paulo estava sem receber voos de tanta fumaça. E é isso o que vou fazer a partir de agora: ir às feiras e convidar as pessoas a conhecerem a Amazônia”, conta.
O presidente da Embratur quer aproveitar o repentino interesse do mundo pela floresta para atrair turistas e convencer formadores de opinião. A estratégia foi conversada na própria FIT, em Buenos Aires, com a diretora da Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur), Rosilene Medeiros.
“Levaremos os jornalistas à região para mostrar a verdade: a Amazônia está preservada como nunca antes”, reforça. “Eu acredito que, em seis meses, reverteremos essa imagem negativa porque muita gente agora está querendo saber sobre a Amazônia. Então, vou fazer desse limão uma limonada”, ilustra.
Números oficiais
Nos nove primeiros meses do ano, o número de incêndios na Amazônia ficou 42,1% acima dos primeiros nove meses do ano passado, mas abaixo dos primeiros nove meses de 2017, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
O mês alarmante foi agosto passado, o pior da década, quando 30.901 focos de incêndio foram registrados, número três vezes superior ao mesmo mês de 2018 ao combinar seca, altas temperaturas e desmatamentos. Apesar da queda de 19,6% no número de incêndios na Amazônia em setembro, outros ecossistemas brasileiros tiveram mais focos de incêndio, como o Cerrado e a Mata Atlântica, cujo aumento foi praticamente o dobro.
Mesmo com menos incêndios na Amazônia em setembro, o desmatamento aumentou. A região perdeu 1.173,1 km quadrados de floresta, uma área 58,6 % superior aos 739,4 Km quadrados perdidos em setembro do ano passado.
Fonte: Carta Capital