René Simões é um excelente técnico. Estudioso, é um sofisticado analista de futebol. Em especial num cenário anêmico, desidratado de criatividade.
Mas ele não resistiu. Sucumbiu ao peso do senso comum.
No jogo Uruguai x Egito, sapecou:
“Estamos acostumados com os africanos fortes e indisciplinados, mas o time do Egito tem uma disciplina tática muito boa, graças ao seu técnico, que é português”.
Esse é um fragmento do que sobrou nos escombros do discurso racista do século 19. Os europeus são racionais e disciplinados. Os africanos são emoção ingênua e indisciplina. No meio da enxurrada de banalidades, esse comentário racista passa batido. Mas é perigoso. Ele naturaliza percepções. Fortalece o preconceito. Justifica a segregação e o racismo. Nas copas passadas, colou-se nos jogadores africanos a etiqueta de “ingênuos”. Isso ficou e é repetido por todos os “especialistas”. O racismo precisa ser combatido em todas as suas modalidades. Desnaturalizá-lo é fundamental! Isso não é comentário esportivo! É racismo!
Outro caso, que foi bastante comentado nas redes sociais, foi a foto em que a torcedora ‘liberal’ russa foi assistir ao jogo Rússsia X Arábia Saudita, com o corpo parcialmente desnudo, enquanto que a torcedora saudita foi apoiar a seleção de seu país trajando as típicas vestes muçulmanas e a burca. Comentários contra a cultura islâmica marcaram os twittes da última quinta-feira. O preconceito contra raça, cor e credo tem se agigantado nestes tempos em que o fascismo governa a mente das pessoas.
Fonte: Juarez Xavier/ Vermelho.org