Nomeado por Michel Temer para blindá-lo no STF, Segóvia durou três meses na PF. Bolsonaro também quer ajuda
Jair Bolsonaro queria uma pessoa de confiança na chefia da Polícia Federal (PF), segundo Sérgio Moro, e ao nomear o delegado Alexandre Ramagem, amigo da família, confirmou a versão do ex-ministro da Justiça. Com uma PF dividida, segundo relatos internos, entre bolsonaristas e lavajatistas inconsoláveis diante da briga de seus ídolos, há na corporação quem descreva Ramagem como profissional respeitado. E há quem diga que ele é candidato a novo Fernando Segóvia.
Segóvia durou pouco mais de três meses no comando da PF no governo Michel Temer. Tinha sido nomeado pelo emedebista em novembro de 2017 por razões parecidas com as que levaram Bolsonaro a escolher Ramagem: desejo presidencial de blindagem policial, especialmente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao escolher Segóvia por conta própria, sem terceirizar ao ministro da Justiça, do mesmo jeito que Bolsonaro com Ramagem, Temer era alvo de um inquérito sobre o Porto de Santos no Supremo. Precisava que o processo terminasse sem incriminá-lo. Quem cuidavas das apurações era um delegado da PF, Cleyber Malta Lopes. Em fevereiro de 2018, Segóvia declarou que a tendência era o inquérito ser arquivado. A pressão pública sobre Temer levou à sua demissão.
Atualmente há dois inquéritos do STF de interesse de Bolsonaro e seu clã com delegados da PF à frente das apurações. Miram milícias digitais bolsonaristas e seus financiadores empresariais. Um é de março de 2019, aberto pelo tribunal para investigar fake news contra a corte e há chance de atingir Eduardo e Carlos Bolsonaro, filhos do presidente. O outro surgiu a pedido da Procuradoria Geral da República para investigar o ato bolsonarista de 19 de abril a favor de golpe militar.
As duas investigações estão aos cuidados do juiz Alexandre de Moraes. No dia em que Moro deixou o Ministério da Justiça com acusações a Bolsonaro de “interferência política” na PF, Moraes blindou os delegados de ambos os inquéritos. Enviou à direção da PF um despacho a determinar que não haja troca nas duas equipes.
O inquérito das fake news (número 4781) tem em São Paulo o delegado Alberto Ferreira Neto e, em Brasília, Igor Romário de Paula, Denisse Dias Rosas Ribeiro, Fábio Alceu Mertens e Daniel Daher. O grupo de Brasília participa do outro inquérito também (4828). Detalhe: de Paula era da Operação Lava Jato e, com Moro ministro, chegou a diretor de Combate ao Crime Organizado da PF.
No inquérito sobre o Porto de Santos que assombrava Temer, o delegado que o conduzia também tinha sido blindado pelo juiz do caso no Supremo, Luis Roberto Barroso. Este tomou decisões para impedir eventuais investidas contra Cleyber Lopes por parte da cúpula da PF e da Procuradoria Geral da República, então chefiada por uma indicada de Temer, Raquel Dodge.
Além da proteção garantida por Moraes aos delegados dos inquéritos, a burocracia joga contra a ajuda de Ramagem pró-Bolsonaro. O delegado, que comandava a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), primeiro vai montar sua equipe de diretores, só depois mexerá nos escalões inferiores. Até lá, diz um policial, é possível que os delegados dos dois inquéritos apressem suas conclusões e as botem na praça, para contornar eventuais investidas do novo chefe.
Fonte: Carta Capital