por Wadson Ribeiro
Os dados preocupantes do aumento de casos da Covid-19 em todo o Estado não permitem a Belo Horizonte relaxar o isolamento social. A explosão de casos hoje é fruto de uma política de subestimação da doença por parte do governo estadual. Minas escamoteia seus dados epidemiológicos em relação à Covid-19 ao não testar e ao não investigar se as causas das mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foram por Covid-19. Uma noção distorcida da real situação do Estado conduz as prefeituras e cidadãos a atitudes erradas.
Minas Gerais, que até dias atrás se orgulhava por apresentar dados relacionados à pandemia muito melhores do que a maioria dos demais estados brasileiros, vê agora a realidade se impor e os casos da doença explodirem. Diferentes instituições, como o Ministério Público e a Universidade Federal de Minas Gerais, assim como uma série de especialistas e médicos, alertaram, desde abril, que a abertura em pleno período de crescimento das contaminações poderia causar sérios riscos e colapsar o sistema de saúde.
O Estado tinha, até a quarta-feira (25), 29.897 casos confirmados; 17.295 casos recuperados; 11.882 casos em acompanhamento e 720 óbitos, o que representaria uma taxa de letalidade de 2,4% – índice inferior aos 4,63% registrados nacionalmente.
Esses dados poderiam ser positivos para Minas se comparados aos de outros estados, não fosse a incerteza de seus números. As hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave cresceram 718% se comparadas ao mesmo período do ano passado. De acordo com o Boletim da Gripe da Secretaria Estadual de Saúde, até 13 de junho deste ano, 2.220 pessoas morreram por SRAG. Desse total, 15 foram por influenza; uma morte por outros vírus e 486 por Covid-19.
Segundo o boletim, 148 mortes ainda estão sob investigação e, simplesmente, 1.570 estão sem diagnóstico. Com isso, 70% das mortes no Estado por SRAG passam ao largo das estatísticas de Covid-19 – daí a baixa letalidade aparente em Minas. Além disso, o Estado é um dos que menos testa, apenas 155 exames para cada 100 mil habitantes.
Fruto da baixa quantidade de testes e das altas subnotificações, aliado ao reduzido diagnostico das mortes por SRAG, as políticas de enfrentamento ao vírus no Estado podem ter subestimado a necessidade de preparar em quantidade e com profissionais e equipamentos, como os chamados Kits de intubação e EPI’s, os hospitais em toda Minas Gerais.
Projeções do Centro de Operações de Emergência em Saúde apontam para o esgotamento dos leitos de UTI’s da rede pública em alguns dias. Em Belo Horizonte, 85% dos leitos de UTI’s estão ocupados. Desde o início da flexibilização, em 25 de maio, até hoje, a cidade viu dobrar sua ocupação de leitos clínicos, o número de mortes e o número de infectados. Está evidente que esses aumentos têm ligação direta com a flexibilização e o aumento no número de pessoas circulando na cidade. Neste momento, o governo estadual, através do programa Minas Consciente, deveria voltar os municípios para a onda verde e apenas liberar os serviços essenciais.
Estima-se que o pico da pandemia no estado se dê em 15 de julho. Até lá, Belo Horizonte não pode sucumbir às pressões, como o fez em 25 de maio ao afrouxar o isolamento. Agora, depois de tanto sacrifício da população, dos micro e pequenos empresários, dos trabalhadores da saúde, dos serviços essenciais, das crianças sem escolas, não é razoável em plena curva ascendente da pandemia jogar todo esse esforço no lixo.
Quanto maior for o isolamento social, mais rápido sairemos da crise sanitária e mais condições teremos de reerguer a economia.
Wadson Ribeiro é Presidente do PCdoB-MG, foi presidente da UNE, da UJS e secretário de Estado
Fonte: Publicado em Vermelho.org