As atrocidades de um presidente, dia após dia

por Kátia Gerab Baggio

Alegoria do Triunfo de Vênus, de Agnolo Bronzino. Pintura representa a loucura e a insanidade humana

Espantar-se com as aberrações que têm sido ditas por Jair Bolsonaro desde que assumiu a Presidência da República, há quase sete meses, é o mesmo que desconhecer o que ele disse ao longo dos 28 anos em que atuou como deputado federal (um assombro), assim como durante a campanha eleitoral de 2018.

O que choca é saber que este indivíduo asqueroso e desprezível —que vomita diariamente preconceitos, impropérios e mentiras— recebeu, em 2018, 57,7 milhões de votos, de brasileiros e brasileiras, para exercer o mais alto cargo da República.

Os eleitores do “mito” não sabiam que ele defende torturadores e milicianos? Não sabiam que ele despreza mulheres, negros, indígenas, homossexuais e adversários políticos? Não sabiam que elogiou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra no momento de seu voto a favor do impeachment da ex-presidenta Dilma? Não sabiam que, uma semana antes do segundo turno das eleições, afirmou que os “marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”? Que disse, no Acre, durante a campanha eleitoral: “Vamos fuzilar a petralhada”?

Não sabiam que é um indivíduo que não merece nenhum, absolutamente nenhum crédito?

Se sabiam, votaram, conscientemente, em um indivíduo que simboliza os porões da repressão, um capitão da reserva que representa o que de pior a ditadura militar produziu: torturadores, isto é, criminosos, assassinos.

Se não sabiam, foram levados a essa escolha por qual razão? Ódio ao Partido dos Trabalhadores, aos movimentos sociais e às esquerdas? Um ódio cultivado todos os dias e noites nas telas, grandes e pequenas —nos noticiários e “redes sociais”—, contra Dilma, Lula, o PT e as esquerdas? Por ódio às políticas sociais e de inclusão? Como consequência de um hipócrita discurso anticorrupção disseminado pelos integrantes da Operação “Lava Jato”, em colaboração estreita com as corporações de mídia e instituições da República?

Jair Bolsonaro deveria ter tido seu mandato cassado por apologia à tortura, além de manifestações racistas e misóginas. São inúmeras as situações que poderiam ter levado à cassação de seu mandato na Câmara dos Deputados, por quebra de decoro parlamentar. Mas seus colegas direitistas se recusaram a fazer o que deveria ter sido feito.

Para derrubar Dilma, prender Lula e impedir que o PT ganhasse as eleições presidenciais em 2018, valeu tudo: até permitir que um protótipo de ditador, um indivíduo totalmente inescrupuloso, baixo, vil, desprezível, vulgar e autoritário chegasse à Presidência.

Um presidente de um desgoverno que despreza as universidades públicas, o conhecimento e a ciência; que contribui para o desmonte da saúde pública; que está destruindo os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários da população brasileira; que está contribuindo para a destruição do meio-ambiente e da Floresta Amazônica; que é conivente com o assassinato de indígenas e líderes de movimentos sociais; que corrói a soberania nacional; e que está, cotidianamente, atentando contra os direitos individuais e os valores democráticos.

Em síntese, um desgoverno que está destruindo o que de melhor o país criou e produziu em décadas. Um desgoverno que está destruindo o Brasil.

A democracia brasileira foi severamente aviltada nos últimos anos. Quem não enxerga o risco que o Brasil está correndo, de absoluta desonra diante do mundo, não está entendendo nada.

Vergonha, infinita vergonha, é o que sinto. E tenho clareza que esse é, também, o sentimento de milhões de brasileiros e brasileiras diante do horror, do que é absolutamente inaceitável, de uma baixeza medonha que nos violenta diariamente, de um indivíduo torpe e sórdido que só chegou ao cargo que ocupa por uma sucessão de infâmias, vilanias, mentiras, manipulações e torpezas.

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