Acampamento Maria da Conceição: luta, resistência e solidariedade

O Acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Maria da Conceição em Itatiaiuçu – MG, além de ser um berçário de plantio e cultivo de alimentos orgânicos, livres de agrotóxicos, sementes transgênicas e fertilizantes híbridos, é um exemplo de sociedade colaborativa e solidária.

O Acampamento teve sua fundação no dia 08 de março de 2017, dia internacional de lutas das mulheres. A ocupação foi feita por mulheres do MST e famílias que foram organizadas para a ocupação, que durante e desde então, tem sido feito todo um trabalho de aproveitamento da terra, que antes estava abandonada, improdutiva e desmatada e agora produz hortaliças, frutas, verduras e legumes que abastecem Belo Horizonte, com alimentos orgânicos, e dão sustento as mais de 300 famílias que moram ali.

A revolução começa pela Educação

A Plenária, espaço construído para ser utilizado para o Programa “Sim, Eu Posso!”, um programa de alfabetização de jovens e adultos e de reforço escolar para as crianças, além de servir também para as reuniões dos núcleos, e eventos culturais. As aulas acontecem de segunda à quintas feiras, e conta com cerca de 60 alunos assíduos frequentadores, as aulas são ministradas por professores e voluntários do próprio Acampamento. Aos finais de semana, são promovidos eventos culturais, como rodas de cantiga, cirandas e cultos ecumênicos.

Ciranda das Crianças: Sem Terrinhas em ação!

As crianças hoje, estudam nas escolas do município, mas isto só foi conseguido com muita luta, afirma Adriana, coordenadora da Ciranda das Crianças. O município, se negava a disponibilizar o ônibus escolar para que as crianças pudessem ir. Cerca de 150 crianças participam da ciranda, espaço construído e pensado para as crianças, em que são ensinadas sobre a importância de cuidar da terra, do amor que devemos ter pela natureza e sobre a luta do movimento, “elas amam este espaço, se estiver aberta a porta, mesmo sem a gente (professores) elas entram pra brincar”, diz Adriana com um brilho no olhar de satisfação e amor por poder ajudar os baixinhos a aprenderem mais sobre a vida e sobre a militância.

Organização

O Acampamento possui cerca de 300 famílias que são distribuídas em núcleos. Cada núcleo, é divido em tarefas específicas que cada família executa em prol da comunidade. A divisão coletiva do trabalho, é algo que salta-nos a vista, imersos num mundo em que uns se preocupam com os outros, que se conhecem pelo nome, mostra-nos que a preocupação com o coletivo, com as pessoas é uma virtude que reside bem ali, a 78 km de Belo Horizonte.

A construção dos lotes particulares, são ajudados por todos, quando os acampados não possuem condições financeiras e materiais de erguerem seu barraco. As construções da Plenária, da Ciranda, do Galpão de Produção (espaço aonde são armazenados as colheitas e os alimentos que são separados, pesados e embalados para serem carregados para o transporte), e das futuras instalações da escola foram erguidas por todo(a)s, homens e mulheres que carregaram pedras e tijolos, e que com suor estão erguendo a “escolinha dos sem terrinhas”.

Local da Plenária e escola temporária, em que é ministrado o “Sim, Eu Posso!”

A fundação da futura instalação da escola e que se encontra em construção, será um espaço com salas de aulas, refeitório, biblioteca e salas de professores. Os materiais de construção foram doações espontâneas para que os acampados pudessem construir um espaço mais adequado para as crianças.

Casa da Saúde

 

A Casa da Saúde, é o local em que em casos de emergências, são atendidas os campanheiro(a)s, mas todo o tratamento é por meio de medicamentos fitoterápicos e conhecimentos tradicionais.

Apego a terra

As hortas particulares e comunitária, são um belíssimo exemplo de sustentabilidade, agroecologia e cultivo de alimentos saudáveis, totalmente orgânicos, desde o preparo da terra, a semeadura (os grãos são crioulos) até a colheita (manual) que mostram o respeito e apego a terra. Nossa Equipe conversou com Seu Baiano, como é chamado. Seu Baiano, senhor simples, de conversa verdadeira, com um coração grande e generoso, mostrou-nos a horta que tanto cuida e zela, “o que falta, hoje em dia, é as pessoas respeitarem a terra, os alimentos. As pessoas estão morrendo cada vez mais cedo, porque não tem este contato com a terra e com alimentos que não sejam feitos num laboratório ou que tenham veneno que pinga no chão, quando são colhidas” disse seu Baiano retirando uma linda cenoura da plantação.

Grãos orgânicos produzidos na Horta Particular de família de Acampados

Este apego a terra, o respeito pelo chão, tão próprio de pessoas que plantam, mas que regam com amor, carinho e paixão pelo alimento. É impossível, não sair emocionado.

O Acampamento conta ainda com 2 tanques experimentais de criação de tilápias. Há um projeto, por parte do Governo Estadual o PSA (Programa de Segurança Alimentar), que visa a criação de aves, suínos e abelhas, mas que devido a problemas orçamentários ainda não foi repassado para que seja implantado no Acampamento.

Dificuldades

A aceitação do Acampamento Maria da Conceição no município, é um fator de embargo econômico e social. A proibição da prefeitura em permitir que o Acampamento possa comercializar seus produtos no mercado local são motivos constantes de reinvidicações por parte da liderança do Acampamento. A ausência de visitas médicas e de assistentes sociais do município, também são exemplos de ausência de um assistencialismo presente por parte do poder público.

A cerca de 100 metros corre fiação de energia elétrica, porém o Acampamento não possui luz. A energia é por meio de gerador, placas solares (doações). A água potável é disponibilizada nas caixas de reserva, e que cada família tem de ir pegar e abastecer as vasilhas, não possuindo água encanada e tratamento de esgoto.

A construção da escola depende unicamente de doações de materiais de construção e donativos para que a obra seja continuada e as cerca de 150 crianças possam estudar com dignidade.

Solidariedade: leve-a adiante

A despeito de todas as dificuldades que o Acampamento 8 de Março viveu e vive a cada dia, a vontade das pessoas de fazer o sonho de plantar na terra alimentos orgânicos ao alcance de todos, e de terem um lugar pra chamar de seu e que tem garantido a existência deste importante lugar de resistência e liberdade. Pessoas, anônimas que se desprendem dos seus afazeres diários e que mensalmente prestam trabalho voluntário de apoio de saúde aos acampados tem ajudado a melhorar as condições de vida, e com doações de tijolos e arrecadação de mantimentos, integrantes do Coletivo Alvorada, Coletivo independente e militante de Belo Horizonte tem apoiado o trabalho dos acampados.

Mesmo com toda dificuldade, a alegria, o amor e o carinho e a união são os principais valores usados pra superar e vencerem as dificuldades.

Nestes dias de inverno rigoroso, muitas famílias estão precisando de roupas de frio, cobertores, e agasalhos, as famílias carecem também de medicamentos, além da oportunidade de poderem ter seus alimentos negociados no comercio da cidade, mas principalmente de agasalhos e roupas de frio.

Terminamos esta matéria, disponibilizando os telefones que poderão passar maiores informações e endereço bancário para depósitos, e pedimos todo e qualquer apoio para que sejam feitas as doações e colaborações com o Acampamento Maria da Conceição.

Telefones: (35) 9 8437 6294 / (31) 9 9670 4022

“Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade, e verdade.”

Leon Tolstoi

 

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