A objetificação da mulher, a naturalização do machismo na mídia e a defesa em Ser Mulher na nossa sociedade

Polêmica envolvendo postagens ofensivas à condição de ser mulher, reacendem a pergunta: que tipo de sociedade estamos construindo?

Nájila Oliveira concede entrevista em canal aberto de televisão Foto: Internet

O caso de acusação de estupro do atacante Neymar feito pela modelo Najila Trindade mobilizou as atenções neste mês de junho. Muitos fatos, fotos, trocas de mensagens e acusações foram surgindo na história ainda sem uma solução. No meio disso tudo, algumas postagens ofensivas à Najila tem circulado por grupos de aplicativos de mensagens. Mais do que ofender a pessoa envolvida, ela é ofensiva à existência e condição e o fato de ser mulher.

A postagem mostra toda a misoginia e o pensamento retrógrado e machista que superabunda em nossa sociedade em que o mostra que o homem é superior à mulher, e que esta não é mais do que um mero objetivo que deve servi-lo. Este conceito de violência emocional e psicológico, além de uma objetificação fascista, tem voltado à tona nesta última semana.

Postagem ofensiva às mulheres, no caso Neymar Foto: Whatsapp

A mulher e a violência sem gritos ou tapas

Violência abrange todas as classes sociais, gêneros, etnias e faixas etárias. Ocorre tanto em espaços públicos como privados, entre classes sociais abastadas e miseráveis e não distingue vítimas: quase todos estamos sujeitos a ela, em determinadas fases de nossa vida.

Quando a vítima é mulher, a violência assume nuances distintas e geralmente se manifesta em diferentes graus de severidade, que podem evoluir para o crescente aumento da agressão e resultar no irremediável: o feminicídio.

A psicológica é uma das piores formas de violência, já que muitas vezes deixa marcas graves (embora invisíveis) na mulher que é vítima de tal covardia, além de possibilitar o cometimento das demais violências e muitas vezes garantir a impunibilidde do agressor. Violência psicológica é toda a ação ou omissão que tenha por objetivo causar danos à autoestima, à identidade e ao bom desenvolvimento psicológico de uma pessoa. Tais atitudes e comportamentos podem vestir a roupagem de insultos constantes, xingamentos, desvalorização, humilhações públicas, chantagem, ridicularização, ameaças, manipulação afetiva, críticas pelo desempenho sexual, omissão de carinho.

Foto: Whatsapp

A violência psicológica, nesses casos, pode se iniciar com simples desentendimentos entre o casal, levando-os à indiferença e a críticas constantes quanto ao modo de comportamento da companheira. Importa considerar que na maioria das vezes o fomentador das discussões é o machismo, que se reflete no sentimento de propriedade do homem sobre a mulher.

A mídia e a objetificação da mulher

O fácil, o delicado, o sem graça, a teoria, o pecaminoso fica com as mulheres, enquanto que o difícil, o interessante, aventureiro, a prática, remetem sempre ao mundo dos homens. Sempre foi assim. O fato é que o sexo feminino vem se destacando na sociedade em geral, embora ainda muitas conquistas precisam ser feitas, sendo a principal delas o inconsciente coletivo das pessoas, de que elas merecem ser respeitadas como pessoas, como ser humano. Nos esportes, na ciência, na aeronáutica, as mulheres estão provando que podem (e devem) quebrar as barreiras da misoginia e serem quem elas bem entenderem.

Não importa o quanto a mulher seja talentosa, ela será diminuída a um nível de objeto. Se estiver dentro dos padrões, será apenas mais um rostinho bonito, uma “musa” “um corpo feito pro pecado”. Se não estiver nos padrões, será humilhada, de modo que todos os seus “defeitos” sejam expostos pro mundo como se ela fosse uma criminosa. A mídia é cruel e naturaliza o machismo e a insuportável cultura do estupro.

Comentários que não apenas a insultam, mas a reduzem a um brinquedo sexual, feito para satisfazer os homens. Como se aquela foto, postagem, status da sua rede social fosse pensada exclusivamente para o prazer masculino, ignorando todo seu talento ou sua própria vontade de querer ser o que ela quiser.

Campanha contra a objetificação feminina

Ser mulher é difícil. A cada dia é uma nova batalha a ser enfrentada contra um mundo que tira nossa humanidade, que nos torna meras bonecas infláveis, que precisam estar sempre lindas, arrumadas e cheirosas para eles, nunca para nós mesmas. Não importa o talento nem a profissão, importa é que você esteja num padrão de mulher linda, calada e submissa. Mesmo ocupando tantos espaços diariamente, todas nós somos testadas diariamente, precisamos provar o tempo todo que somos boas no que fazemos para um homem não ocupar nosso lugar. E mesmo quando provamos, eles estão nem aí. Porque não podemos esquecer que quem comanda a mídia é a elite. A elite, aquela mesma que cresceu no meio de tantos preconceitos, de tanto sexismo e que estimula isso cada dia mais para se manter no poder. Não há espaço dignamente feminino na grande mídia. Mulheres precisam ocupar esse meio e fazer dele um lugar livre de objetificação e misoginia.

A postagem envolvendo a modelo Najila, que conota que seu órgão genital tem “poderes mágicos e místicos” de que ao ser usado prejudicaria pessoas, clubes, personalidades públicas e até grandes emissoras da mídia corporativa, simplesmente denotam que nossa sociedade, mesmo sendo 2019, ainda vivemos na era da pedra lascada! Estamos com a mentalidade presa na idade das pedras, onde a mulher e seu corpo são vítimas de objetificação e violência psicológica e emocional. Postagens e compartilhamentos deste tipo de mensagem, mostram quanto a nossa sociedade, e principalmente os nossos jovens e crianças carecem de ser educados, se queremos um mundo de igualdade, paz e amor, e não uma sociedade fascista e retrógrada.

Este fascismo, este mesmo fascismo, parece que tem se agigantado, crescido e empurrado nossa sociedade para um abismo sem precedentes. Com aumento da intolerância política e social, influenciadas por este governo de extrema violência, Bolsonaro parece expandir sua forma de pensar que o errado virou o certo, e a mentira se tornou verdade.

“Quando perdemos a capacidade de nos indignarmos com as atrocidades praticadas contra outros, perdemos também o direito de nos considerarmos seres humanos civilizados.” Vladimir Herzog

Ser e se tornar: Essa mulher

Não podemos deixar de nos indignar com postagens deste tipo, e a criação deste tipo de pensamento. Mas afinal, o que é ser mulher? Como nos entendemos? Como se emancipar de todos os rótulos que nos foram postos e impostos? Este é o tema central de uma fulcral crítica do espetáculo “Essa Mulher” sobre como o mundo enxerga e pensar a mulher. De como isto, nos leva a aceitar e acreditar que seja a verdade, deixando de sermos nós mesmas, de sermos o que quisermos.

Atriz Iolene Di Stéfano no espetáculo ‘Essa Mulher’

O espetáculo do Grupo teatral Leela, encontra-se em cartaz na Funarte (Rua Januária, 68 – Centro, Belo Horizonte – MG), e vai ao ar hoje às 21h. Os ingressos encontram-se à venda na bilheteria da Funarte (Meia entrada: R$10,00 e inteira: R$20,00). Venha e participe.

Fonte: com informações de Geledes, JusBrasil e UOL

 

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