Segundo a atriz e empresária, há diversos campos que se opõem ao atual governo que precisam ser respeitados
A atriz e empresária Paula Lavigne, que convocou uma passeata com artistas, ambientalistas e entidades do meio ambiente em Ipanema no domingo, 25 de agosto, questionou a menção ao seu nome na reportagem “Antes Apoiadores do bolsonarismo, artistas descobrem a censura” (publicada originalmente na revista CartaCapital em sua edição 1070 com o título “Madalenas arrependidas”). Caetano Veloso cantou Podres Poderes durante o protesto, que teve grande adesão. A reportagem atribui a Paula a ordem para a retirada de um boneco gigante de Lula que tinha sido colocado por ativistas nas imediações do protesto, um ato contra a prisão ilegal do ex-presidente.
Paula negou que tenha ordenado a retirada do boneco e brigado com os manifestantes. “Nem posso retirar, a praia não pertence a ninguém”, rebateu. “Fui lá para conversar, argumentar.” Disse que a participação na passeata foi abrangente e tinha até “bolsominions arrependidos”, e que a nenhum grupo de ativistas foi vetada a participação. Para dar sua versão dos acontecimentos, Paula concedeu a seguinte entrevista a CartaCapital:
CartaCapital: Por que você acredita que a questão da liberdade do Lula deve ser separada do problema da Amazônia?
Paula Lavigne: A Amazônia é uma pauta que une muita gente. O que eu disse é que a gente tinha chamado para uma causa da Amazônia, e é óbvio que causa da Amazônia não necessariamente vai ter todas as pessoas ali que são Lula Livre. Eu acho que está na hora de a esquerda começar a se organizar, a gente não pode ficar brigando com aliado. E uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Não que eu seja contra, eu acho que o Lula está preso injustamente. Isso é óbvio, todo mundo sabe, qualquer pessoa que me conhece sabe que a gente pensa isso. Muito bem. E se a gente, como eles fizeram, e eu não mandei tirar porque não tenho esse poder, e nem foi retirado, estirar aquilo ali na saída da marcha da Amazônia, iria confundir. E eu acho que a Amazônia é um ponto em que a gente pode se fortificar muito contra esse governo. E não é todo mundo que é contra esse governo que é Lula Livre. Isso é óbvio, e a gente tem que poder ter esses espaços dentro da esquerda. É isso que eu estou falando, e é óbvio.
Só que é sempre uma coisa muito polarizada, muito raivosa, e as coisas acabam dessa maneira: aliado brigando com aliado. E a gente chamou para uma causa que une. Naquele momento, as pessoas não podem se sentir enganadas, sendo chamadas para uma manifestação pró-Amazônia e ter um boneco na saída da marcha com Lula Livre. Não porque eu seja contra o Lula Livre, mas você não pode chamar para uma coisa e aquilo ser outra. Foi isso que argumentei, e eles foram superagressivos. E tudo bem, hastearam o boneco e o boneco lá ficou. Nem um minuto eu falei “ah, meus artistas”. Nem fiquei furiosa. A gente tentou o diálogo. Tanto que a Luciana Ceveró, que estava lá e é do PT, era quem já estava conversando com eles, e achava a mesma coisa que eu. Um monte de gente. A Mídia Ninja estava lá, todo mundo acha, isso é uma coisa óbvia.
Agora, ficar arrumando pêlo em ovo para a gente se desentender dentro do nosso campo? Eu acho um tiro no pé. É isso, fiz uma crítica à esquerda como todo mundo faz. Por favor, bote isso muito claro. E é chato transformar uma coisa que eu disse em outra. Como se eu tivesse ficado furiosa porque eu não seria a favor do Lula Livre. Isso não existe, mas se a gente chama para uma manifestação da Amazônia e tem um boneco enorme do Lula, as pessoas podem se sentir traídas. É isso. Eu trabalho com o público, trabalho com chamar as pessoas para as coisas e eu sei o que estou dizendo. Isso não significa que eu seja contra Lula Livre, de jeito nenhum. Essa coisa raivosa de todo mundo brigar com todo mundo não é produtivo para o campo da esquerda. Fui clara?
CC: Você diz que organizaria um evento Lula Livre, se fosse chamada para isso.
PL: O que eu disse é que eu já colaborei com vários, chamando artistas, fazendo tudo que a gente pode fazer. E continuo colaborando. Durante a manifestação, muita gente puxava o Lula Livre, como acontece em todos os shows do Caetano, como o Moreno Veloso fala em todos os shows do Caetano. E as pessoas puxavam (o grito) e tudo bem, não tem problema, desde que puxem espontaneamente, ok.
Agora, levar um boneco do Lula numa manifestação que foi chamada em prol da Amazônia eu não acho produtivo. Eu sou uma pessoa super-pragmática, eu gosto de resultados, e acho que isso é um sintoma muito ruim da esquerda, de ficar brigando com aliado, de não saber que há vários espaços diferentes dentro da esquerda. A gente precisa se unir, entender melhor as situações. Por isso que a gente está nessa, o Lula lá, preso, e essa coisa polarizada, e esse ódio, e essa coisa toda. Não acredito combater o governo atual brigando com aliado.
Fonte: Carta Capital