por Gabriel Lopo*
Hoje em BH aconteceu um grande e animado protesto de entregadores de aplicativos. Cerca de 300 pessoas, uns de moto, outros de bicicleta e alguns a pé. Muitos deles com as bags — mochilas e caixas voltadas para o transporte de cargas. Essa foi a multidão de pessoas que marcou presença da Praça da Assembleia Legislativa de Minas até a Praça Sete, passando pela Praça da Liberdade.
A grande maioria dessas pessoas moram em periferias de Belo Horizonte e região e hoje vivem na pele os reflexos do desemprego e da precarização do trabalho. Existem pesquisas que também mostram que grande parte desses entregadores de aplicativo são jovens e grande parte também negros.
O que isso tudo significa então? Entregadores de aplicativo como Ifood, Uber Eats, Rappi, Loggi, trabalham como motoboys sem nenhum vínculo empregatício com as grandes corporações. As mega-corporações desenvolveram a tecnologia e contrataram advogados para garantir um contrato que tirasse a suas obrigações como empregadoras e colocasse o entregador como autônomo.
Desde de que o modelo de trabalho baseado em aplicativo começou a crescer no mundo mais e mais empresas começaram a explorar esse mercado. De acordo com os relatos de entregadores, no começo as propostas desses aplicativos eram atrativas contudo assim que elas se estabelecem as taxas começam a diminuir e passam a ser abusivos com quem está trabalhando via aplicativos.
Essa situação que já estava ruim piorou com a chegada da pandemia. Embora o serviço de entregas não seja um serviço considerado essencial os trabalhadores de aplicativo continuaram nas ruas trabalhando justamente por essa forma de trabalho ser o ganha pão de milhares de pessoas no país hoje. Muitos motoboys se infectaram pelo coronavírus e as ações das empresas foram lentas e ineficientes. Isso gerou uma situação insustentável e já era uma panela de pressão prestes a explodir.
Essas condições de trabalho de aplicativos junto com a precarização da vida, o aumento do preço dos itens básicos e as reformas contra os direitos dos trabalhadores. Tudo isso formou a panela de pressão que começou a explodir hoje no Brasil. E o que aconteceu em BH faz parte de uma luta de todo o Brasil e talvez no mundo que está cada vez mais tomado por essa forma de trabalho de aplicativos.
Trabalhar por aplicativo não deve significar mega-exploração, falta de seguros, falta de apoios e ter que se submeter a condições desumanas de trabalho em pleno século XXI. Cabe a nós ajudar que essa panela de pressão possa explodir e o resultado dessa explosão seja a ampliação dos direitos de milhares de entregadoras e entregadores de todo o país.
Fonte: publicado inicialmente no Medium
Gabriel Lopo é comunicador popular e integrante do Fórum das Juventudes.