100 mil mortos e Kalil declara “do governo federal a prefeitura de BH não tem nada a reclamar”

Em entrevista, nesta terça-feira, para a rádio CBN de Belo Horizonte, o prefeito da capital mineira declarou que não tem nada a reclamar do governo federal. Enquanto ultrapassamos os 100 mil mortos pela Covid-19, o desemprego e a fome afligem milhões de brasileiros, Kalil retira a responsabilidade do governo Bolsonaro e Mourão diante da crise que afeta sobretudo os trabalhadores e a população pobre e negra

Foto: UOL

Ao declarar na entrevista que “do governo federal a prefeitura de BH não tem nada a reclamar”, Kalil mostra como as diferenças com Bolsonaro sempre foram pequenas divergências pontuais, pois no fundamental, que é governar para os capitalistas estão de acordo. Afinal, não questionar a responsabilidade do governo de Bolsonaro e Mourão diante das 100 mil mortes, da catástrofe de desemprego e da fome que aflige milhões de brasileiros, somente porque o pequeno orçamento que a União deveria destinar aos municípios foi repassado, enquanto bilhões foram destinados para os grandes empresários e banqueiros, é uma forte expressão de como ambos governam para servir os lucros capitalistas.

Kalil é reconhecido por ser um dos prefeitos que mais defendeu a estratégia do “fique em casa” em todo país, juntamente com governadores como Dória e instituições do regime como o STF, em muitos momentos buscaram aparecer em oposição ao negacionismo de Bolsonaro e em Minas, a posição do governador Romeu Zema. No entanto, enquanto demagogicamente dizia “fica em casa”, o prefeito de BH nunca buscou dar uma solução para os milhares de trabalhadores que eram obrigados por seus patrões a seguirem trabalhando, muitas vezes sem nem mesmo ter garantido os equipamentos básicos de proteção sanitária.

Justamente porque governa a serviço dos interesses dos patrões e dos capitalistas, Kalil nunca teve uma política que permitisse organizar uma quarentena racional, com testes massivos, EPIs, proibição das demissões, reconversão da produção para combater a pandemia, e liberação de todos os trabalhadores dos serviços não-essenciais e do grupo de risco com licença remunerada paga pelos patrões. Algo que também não foi levado adiante pelo governo federal e muito menos o governo estadual.

Segundo boletim epidemiológico publicado neste dia 11 de agosto, Minas Gerais chegou mais de 156 mil casos confirmados de coronavírus, e 3.613 mortes. Isso sem levar em conta a enorme subnotificação existente, já que o estado é o que menos realiza testes em todo país. Como se não bastasse isso, sob o comando do governador Romeu Zema, o governo estadual utilizou apenas 7% do orçamento destinado à saúde, sendo o estado que menos investe na área em todo país. Quantas vidas poderiam ser salvas se fosse feito o mínimo, que era investir todos os recursos destinados à saúde para poder ampliar a capacidade de atendimento do SUS e salvar as vidas?

A pandemia agravou a situação de precarização de milhares de trabalhadores, como os entregadores de aplicativos que protagonizaram duas importantes mobilizações nacionais. O medo do desemprego é constante, e faz com que milhares de trabalhadores continuem se expondo aos riscos da Covid para garantir o sustento das suas famílias.

Ao ter como estratégia somente o “fique em casa”, sem se importar com a situação dos milhares de trabalhadores que eram obrigados pelos seus patrões a irem trabalhar, o prefeito da capital mineira abre espaço para que a extrema direita bolsonarista, representada em BH por figuras como o pré-candidato a prefeito Bruno Engler (PRTB), possa usar o exemplo da capital mineira para defender as políticas negacionistas que sempre menosprezaram o significado da doença na vida dos trabalhadores, fazendo demagogia com o desespero de milhares de famílias que perderam seus empregos por conta da doença.

O próprio PSDB, que com a pré-candidatura de Luísa Barreto, busca se recompor no estado fazendo oposição pela direita ao prefeitura de Kalil vem questionando justamente a fragilidade do discurso do prefeito que sempre declarou se pautar pela ciência, mas agora reabre a economia num dos momentos mais alarmantes dos números de casos. Ambos fazem isso não porque estão preocupados com os direitos e a vida da classe trabalhadora e da população, mas simplesmente porque querem canalizar o sentimento de desespero diante do agravamento da crise econômica, para com muita demagogia ganhar novos setores para suas políticas capitalistas.

A classe trabalhadora – especialmente os setores mais precarizados e pobres, com maioria de negros – está espremida entre duas grandes ameaças: de um lado a pandemia, de outro o desemprego, a miséria e a fome. Enquanto os políticos capitalistas buscam criar uma oposição entre ambas, seja com o negacionismo bolsonaristas por um lado, seja com a demagogia do “fique em casa” de Kalil, STF e dos governadores por outro, ambos terminam concordando quando se trata de garantir os lucros dos empresários e dos patrões.

Assim como o PT, que nos estados em que governa vem comemorando juntamente com outros governadores do nordeste o refluxo parcial da pandemia, que não se deve a qualquer política responsável ou “científica”, mas por terem feito os trabalhadores, especialmente os negros e os setores mais precários, responsáveis pela “imunização coletiva”, ao custo de milhares de vidas que poderiam ser salvas, para salvando os lucros capitalistas. Eles inclusive chegaram a assinar a carta dos governadores contra a criação de uma fila única do leitos do SUS e do sistema privado de saúde.

Por isso, não surpreende que em BH o pré-candidato a prefeito desse partido, Nilmário Miranda, se limite apenas a dizer que ficou “decepcionado e surpreso” quando a prefeitura decidiu abrir prematuramente a cidade, afinal seria absolutamente contraditório com a estratégia petista ir além da resignação com essa ação e defender efetivamente os direitos dos trabalhadores, a partir de organizá-los desde os sindicatos que esse partido dirige, pois seu projeto também é administrar BH junto aos interesses dos empresários e capitalistas, com uma utópica visão de que é possível conciliar os interesses dos trabalhadores e patrões.

Quando organizações de esquerda como o Psol e a sua pré-candidata a prefeitura da capital, Áurea Carolina, declaram que Kalil fez uma boa gestão da pandemia, acabam deixando os milhares de trabalhadores que estão desesperados com a situação atual da crise sem uma alternativa que questione pela esquerda o quanto o “fique em casa” não responde a real situação dos trabalhadores e da população pobre. Na prática o “Fique em Casa” significa manter os sindicatos dirigidos pelo PT e PCdoB em quarentena sem organizar os trabalhadores contra os efeitos da crise sanitária e do desemprego, da fome e da retirada de direitos.

Apesar dos discursos demagógicos e populistas do prefeito, a lógica capitalista sempre vai falar mais alto e quem paga os custos da crise são os trabalhadores. Contra o desemprego, a precarização e a pandemia, precisamos unir a classe trabalhadora para fazer com que os capitalistas paguem pela crise e que sejam os trabalhadores junto com a população e não os empresários e seus políticos que definem como e de qual maneira os serviços essenciais devem ser mantidos assim como sobre a reabertura ou não de outros serviço, atendendo às necessidades da população e não dos lucros.]

Fonte: Esquerda Diário

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