Mulheres à frente contra Bolsonaro, o golpismo e para que os capitalistas paguem pela crise

Em meio às eleições manipuladas pelo judiciário golpista e tuteladas pelas Forças Armadas, que impediram o direito do povo de decidir em quem votar, as mulheres apontam um caminho para combater por meio da luta a extrema direita de Bolsonaro e o golpismo, com manifestações marcadas em todo o país para o próximo dia 29. Mas não podemos entregar nossa energia para as estratégias do “mal menor”, que manterão o pagamento da dívida pública e também vão descarregar a crise duplamente sobre as costas das mulheres.

Na mesma semana em que o golpe institucional retira o direito da população de decidir em quem votar, as mulheres dão exemplo e convocam atos em várias cidades contra Jair Bolsonaro, a cara mais reacionária da extrema-direita em nosso país hoje. O fenômeno internacional de mulheres se expressa no Brasil pela via das redes sociais. Em menos de 5 dias, reuniu mais de 2 milhões de mulheres em um grupo de Facebook contra Bolsonaro. Agora pode ir das redes às ruas de todo o país, em diversas mobilizações que estão sendo chamadas para o dia 29 de setembro.

Bolsonaro é o fruto descontrolado do golpe institucional e da Lava Jato, que expressa a face mais podre desse regime degradado e, por isso, tem 49% de rejeição entre as mulheres. O candidato da extrema-direita representa o programa ultraneoliberal da burguesia, que, frente à crise capitalista, busca atacar ainda mais a classe trabalhadora. No Brasil, isso significa ataques, sobretudo, às mulheres negras. Seu discurso de ódio contra mulheres, negros, indígenas e LGBTs serve para aumentar ainda mais a divisão da nossa classe.

O autoritarismo judiciário com a proscrição de Lula aprofundou o golpe institucional. Retiraram do povo o direito de decidir em quem votar, um dos poucos direitos que são concedidos na degradada democracia burguesa. Nós, do grupo de mulheres Pão e Rosas, sempre estivemos na linha de frente da luta contra o golpe institucional e na defesa do direito do povo de decidir em quem votar, mas nunca apoiamos o voto no PT. Esse partido abriu caminho para o golpe institucional ao governar com a direita de Eduardo Cunha, Silas Malafaia, Marco Feliciano e tantos outros. Na presidência, também rifou os nossos direitos para manter seus acordos com o Vaticano e as bancadas evangélicas. Assim foi com o direito ao aborto, que, durante os 13 anos de governo do PT, seguiu sendo negado, tendo como resultado a morte de milhares de mulheres, sobretudo mulheres pobres e negras. O PT também triplicou a terceirização e o trabalho precário, que em nosso país tem rosto de mulher negra, e abriu espaço para a terceirização irrestrita. Com o aprofundamento da crise capitalista, a política de conciliação de classes desse partido faz do próprio PT o implementador dos ajustes exigidos pelos patrões.

Na tentativa de cooptar nossa luta, muitos setores vêm tentando se alçar como um mal menor frente a Bolsonaro, querem nos enganar com discursos de incluir as mulheres no poder, mulheres como Kátia Abreu e Ana Amélia, que estão a serviço do interesse dos patrões. Toda essa demagogia é porque o voto feminino é apontado por muitos analistas como o elemento decisivo nestas eleições. Somos mais da metade do eleitorado brasileiro, sendo que 54% estão indecisas e 26% decididas a anular.

Em todo mundo, nós, mulheres, viemos mostrando que a nossa força não está no voto, mas sim, no enorme potencial de ser a vanguarda das lutas da classe trabalhadora, como foi com a maré verde na Argentina e com a primavera docente nos Estados Unidos. No Brasil, não podemos aceitar que toda nossa indignação com o golpismo e a extrema-direita se reduza a simplesmente escolher o “menos pior” em uma eleição manipulada. Não podemos aceitar que nosso ódio contra Bolsonaro seja cooptado por partidos que também querem servir ao capitalismo, como aconteceu nas enormes marchas de mulheres contra Donald Trump no início de 2017.

Isso porque o capitalismo é o verdadeiro mal maior para as mulheres, em especial as mulheres trabalhadoras. A crise sempre é descarregada primeiro em nossas costas e nós a sentimos duplamente. Se nos momentos de crescimento econômico, quando concessões precárias nos são dadas – precárias para não mexer nos lucros capitalistas –, o aumento do trabalho terceirizado tem rosto de mulher, o que dizer agora, com a terceirização irrestrita, no contexto de uma classe operária cada vez mais feminina e negra. Nos oferecem a reforma trabalhista, a reforma da previdência, cortes no orçamento dos serviços públicos, e tudo isso tem efeitos nefastos, principalmente na vida das mulheres trabalhadoras.

Por isso lutamos com todas as nossas forças contra o autoritarismo judiciário, contra o avanço do golpe institucional e contra esses juízes que retiraram o direito do povo de decidir em quem votar. Lutamos contra a politização das Forças Armadas e sua subserviência ao imperialismo, pela retirada da intervenção federal no Rio de Janeiro e por justiça para Marielle. Sabemos que todo esse autoritarismo fortalece um inimigo frontal das mulheres, que é Jair Bolsonaro, e grande parte de sua base, que quer destruir ainda mais a vida das mulheres. Mas, se levantamos nossa força no próximo dia 29, não o façamos com a ilusão de que podemos resolver nossos problemas pela via eleitoral. Façamos confiando nas nossas próprias forças, pela via da luta de classes, com as mulheres à frente. Façamos como as mulheres lutadoras de nossa história, que lutavam não somente pelos seus direitos, mas contra todo esse sistema capitalista.

Os candidatos que emergem hoje como “mal menor” também defendem continuar pagando a dívida pública, um mecanismo utilizado por todos os governos até hoje para descarregar a crise em nossas costas. Com essa dívida, garantem a submissão do país ao imperialismo ao entregar o dinheiro nacional aos capitalistas estrangeiros, deixando de investir na saúde e na educação que seguem sendo destruídas. Isso também mostra como o “mal menor” não responde a nossos anseios. As mulheres precisam lutar pelo não pagamento da dívida pública, e por direitos que nos são negados, como o aborto legal, seguro e gratuito. Precisam se contrapor a esse avanço do autoritarismo judiciário e militar, defendendo uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que possa avançar nestas e em outras medidas na perspectiva de uma revolução operária e socialista, a única possibilidade de abrir caminho para a nossa emancipação.

Por isso o Pão e Rosas e as candidatas e os candidatos anticapitalistas do MRT nestas eleições manipuladas lutam para construir uma alternativa que aposte na mobilização independente das mulheres, dos trabalhadores, da juventude e dos negros contra esse golpismo e a extrema-direita. Uma alternativa que supere o PT pela esquerda e seja parte de fazer triunfar as nossas lutas. Nossa força é imparável, nossa força é maior do que essas eleições manipuladas. Nos preparemos em cada local de trabalho e estudo, exigindo que os sindicatos e entidades estudantis construam o dia 29 de setembro na perspectiva de colocar de pé fortes mobilizações no Brasil, que transcendam as eleições e lutem para que os capitalistas paguem pela crise!

Convidamos todas e todos para construir conosco os blocos do Pão e Rosas nos atos de “Mulheres contra Bolsonaro”, mas principalmente a travar, em cada local de trabalho e estudo, uma batalha por essas ideias de um feminismo socialista e com independência de classe.

Fonte: Esquerda Diário

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