Em manifestação na Cinelândia (RJ), parlamentares e movimentos sociais cobram solução do caso
Até agora, nem a motivação para o crime, nem seus autores, foram identificados pela polícia, mas o cerco investigativo vem se fechando
Há exatamente dois meses, a vereadora Marielle Franco (PSOL) e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro. Até agora, nem a motivação para o crime, nem seus autores, foram identificados pela polícia, mas o cerco investigativo vem se fechando.
Marielle foi morta com quatro tiros na cabeça, quando voltava de um debate na Lapa. Ela, Anderson e sua assessora, que sobreviveu, iam em direção à Tijuca, na zona norte, quando, no caminho, um Cobalt prata clonado emparelhou com seu carro e disparou.
Nos últimos dias foram dados passos importantes na investigação do crime. Uma reportagens revelaram que uma testemunha procurou a polícia para contar que o vereador carioca Marcello Siciliano (PHS) e Orlando Oliveira de Araújo (um ex-PM acusado de chefiar milícias na Zona Oeste) queriam a morte da vereadora. Ambos estão entre os investigados pelo assassinato, confirmou o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, na última quinta-feira.
A testemunha disse que foi obrigado a trabalhar como segurança de Orlando, depois que o miliciano tomou o controle da comunidade onde o delator trabalhava. Por isso, esteve presente em pelo menos quatro conversas entre o ex-policial e Siciliano, que, segundo a testemunha, teriam negócios em conjunto na Zona Oeste, reduto eleitoral do vereador e onde Orlando chefia milícias.
Ainda segundo a testemunha, dois policiais militares participaram do crime e estariam dentro do Cobalt usado na execução, na companhia de mais dois homens. Segundo informações, policiais civis e promotores do Ministério Público estadual estão negociando um acordo de delação premiada com Orlando, que está preso desde outubro do ano passado sob acusação de chefiar milícias. De acordo com o jornal, o ex-PM será levado nesta semana até a Divisão de Homicídios para conversar com os investigadores.
Segundo o ministro da Segurança, Raul Jungmann, o caso “está chegando a sua etapa final”, mas ainda sobram perguntas a serem respondidas. O fato de as câmeras no trajeto percorrido pelo carro de Marielle estarem desligadas ainda não foi esclarecido pela prefeitura, por exemplo.
Também não se sabe o porquê de, logo após o crime, os policiais ordenaram às pessoas que estavam na região deixarem o local e voltarem para suas casas. Até agora, esses policiais não foram chamados para explicar seu comportamento.
Siciliano teve pelo menos duas conversas telefônicas com supostos milicianos captados pela Polícia Civil do Rio de Janeiro. O vereador nega envolvimento com a milícia, mas o envolvimento de policiais militares e de políticos é, no momento, a principal linha de investigação para elucidar o crime.
Manifestantes lotaram nesta segunda-feira (14) as escadarias da Câmara do Rio e a praça da Cinelândia para lembrar os dois meses do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes. Durante o ato, parlamentares e representantes de movimentos sociais cobraram das autoridades a solução para o crime.
Para a ativista do Movimento Negro Unificado (MNU), Silvia Mendonça, as esquerdas precisam se apropriar das bandeiras de Marielle e ir em direção aos espaços das periferias com o objetivo de ampliar a consciência do povo. Silvia recordou a época em que conheceu Marielle, em 2014, quando as duas lutaram por justiça para a família de Claudia Silva Ferreira, morta na Zona Norte do Rio depois de ser arrastada por uma viatura da Polícia Militar por 300 metros.
“A gente tem que sair daqui agora e sempre para buscar essa unidade entre nós. Assim como essa burguesia e esse fascismo exercem essa unidade, a gente tem que ampliar a consciência do nosso povo que não está aqui, ir para os territórios, para as favelas e para os espaços onde nós não estamos conseguindo trazer quem não está aqui”, clamou a representante do Movimento Negro Unificado.
Fonte: com informações do Brasil de Fato/Exame