Por uma “pandemia” de racionalidade!

por Edilson Silva

Foto: Reprodução da internet

A sociedade mundial está mobilizada e unida numa guerra de novo tipo. O inimigo ataca a todos, ricos e pobres, em todos os continentes.

Trata-se de um vírus cujos principais aliados são, por um lado, o descaso com a saúde pública, que se converteu em mercadoria em muitas nações, e por outro a ignorância e o obscurantismo, ainda, como no caso do Brasil, em que o próprio chefe da nação propaga em cadeia de rádio e tv a desinformação e desacredita a ciência, convertendo-se assim numa exceção inacreditavelmente desonrosa.

Por tudo isso, talvez, nunca a humanidade, o conjunto de suas nações, tenham estado tão próximas da ciência e da razão simultaneamente. A pandemia do coronavírus trouxe consigo também uma espécie de “surto de racionalidade” em vários segmentos e terrenos do saber: das religiões à economia. Crenças e deuses sendo solapados numa espécie de novo “Fórum da Razão”. Inclusive o “deus mercado”.

A espécie humana neste início de século XXI procura, desesperadamente, uma cura, uma vacina. Voltam-se os olhos, mentes e corações para o estudo, pesquisas, cientistas, para a ciência. E a racionalidade aqui também impõe uma lógica de solidariedade, de compartilhamento de saberes, não a lógica da concorrência, do mercado.

Em meio à guerra, um “esquadrão de elite” é convocado e desembarca na Itália arrasada pelo vírus. Não são marines ou fuzileiros, com suas armas e equipamentos de última geração, desembarcados de aviões ou navios de guerra sofisticadíssimos. São médicos cubanos, portanto jalecos, experiência humanitária (foram à África, esquecida, combater o Ebola), coragem e um senso de solidariedade que deixa nossos olhos marejados e enche nosso peito de esperança, não somente na cura do coronavírus, mas na capacidade humana de ser humanista.

Que belo exemplo aquela pequena ilha do Caribe nos dá, de novo! “Vai pra Cuba” nunca esteve tão sem sentido quanto nesses dias. Desejamos mesmo é que Cuba venha até nós. Este episódio envolvendo o povo e o Estado cubano é emblemático e paradigmático, penso que mais até que o exemplo chinês, que também nos ensina muito sobre caminhos a seguir, após controlarem o vírus e colocar sua nação e sua experiência exitosa a serviço do mundo.

Que a cura da covid-19 traga em sua esteira também a cura para outros males da sociedade contemporânea. Que este tempo de quarentena, em que se reaprendeu o que são serviços básicos, que saúde não pode ser mercadoria, sirva como uma incubadora para um vírus de racionalidade. Que viralize no mundo pós coronavírus uma forte reforma de valores e princípios, em que, como ensinava Norberto Bobbio, se conjugue o máximo possível de igualdade, democracia e liberdade.

Fonte: publicado no Vermelho.org

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