Órgão do governo aponta mercado de trabalho precário e desigual

Motivo de ‘angústia’ para Paulo Guedes, emprego novo é ruim e de baixo salário, segundo Ipea

Foto: G1

O desemprego é de dois dígitos desde 2016 e segue alto e com pouca variação. Era de 11,6% em dezembro de 2018 e passou a 11,8% em julho de 2019, um total de 12,6 milhões de pessoas. Além de não serem muitas, as vagas surgidas este ano são precárias. Na maioria informais e com salário de até dois salários mínimos (1.996 reais). Apenas os mais ricos e escolarizados, que não são numericamente muitos, não têm do que lamentar.

A má qualidade do atual mercado de trabalho e suas desigualdades acabam de ser descritas por um órgão do governo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). É um reforço do que afirmam certos analistas, como o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wellington Leonardo da Silva: a economia vai mal pois o emprego existente é ruim, um freio ao consumo.

Para o ministro Paulo Guedes, o emprego vai melhorar depois que o investimento empresarial fizer o PIB acelerar. Se bem que um deputado com quem ele reuniu-se há dias, o carioca Pedro Paulo (DEM), que é  economista e liberal como o ministro, conta tê-lo sentido “angustiado” diante do desemprego alto e sem recuo significativo este ano. Idem para a marcha lenta do PIB, inferior a 1%.

A análise do Ipea foi divulgada em 18 de setembro. Partiu de pesquisas mensais sobre desemprego feitas pelo IBGE, o órgão oficial de estatísticas, e pelo Caged, o banco de dados oficial do emprego formal. Mostra que, apesar de uma melhora pequena do primeiro para o segundo trimestre (queda de 12,7% para 12% no desemprego) o panorama geral não é de comemorar.

De autoria dos pesquisadores Maria Andreia Parente Lameiras, Carlos Henrique Corseuil, Lauro Roberto Albrecht Ramos e Sandro Sacchet de Carvalho, o documento aponta “piora de composição e do rendimento médio (da população ocupada) – em parte devido ao crescimento da informalidade, no período recente”.

A piora na composição da massa de trabalhadores decorre “não apenas porque vem reduzindo o número de pessoas com nível superior em postos de trabalho que exigem tal qualificação, mas especialmente porque vem recuando a participação do emprego formal no total da ocupação”, diz o texto.

Na soma de setor público e privado, o emprego formal era de 51,4% em 2015 e caiu a 47,1% em julho passado. Nesse período, a informalidade e o trabalho por conta própria (pipoqueiro, engraxate, essas coisas) avançaram de 41,2% para 45,9%.

Do segundo semestre de 2018, anota a análise, o emprego formal voltou a ter algum dinamismo. Surgiram 521 mil vagas de lá para cá. O salário médio de contratação também melhorou, embora siga inferior ao que era pago a alguém demitido na mesma vaga, algo mais ou menos histórico. “Deve-se ressaltar, entretanto, que, em termos de salário mínimo (SM), a grande maioria das novas vagas geradas no país possui uma remuneração máxima de até 2,0 SMs”, afirma o documento.

O baixo salário ajuda a explicar por que “a massa salarial dos trabalhadores formais (com carteira e funcionários públicos) subiu tão somente 1,0%” na comparação entre o segundo trimestre de 2019 e o de 2018, diz o texto. Na informalidade, onde a renda já é menor, é o oposto. A remuneração nesse período subiu 4,6% para trabalhador sem carteira e 3,7% para quem ganha a vida por conta própria.

Os pesquisadores examinaram o mercado de trabalho por segmentos de renda e notaram que a situação é pior para quem já está na pior, os mais pobres.

Fila gigantesca em busca de emprego em SP Foto: G1

O estudo divide os brasileiros em seis faixas de renda mensal: muito baixa (até 1.638 reais), baixa (de 1.638 a 2.453), média-baixa (de 2.453 a 4.097), média (de 4.097 a 8.195), média-alta (de 8.195 a 16.391) e alta (acima de 16.391). E diz: “Observa-se que, no segundo trimestre de 2019, as duas faixas de renda mais baixa foram as únicas a apresentar queda [salarial] na comparação com o mesmo período do ano anterior”.

Prossegue o texto: “Enquanto as famílias de renda muito baixa registram um recuo de 1,4% nos seus rendimentos médios reais, o segmento mais rico da população aponta uma alta salarial de 1,5%”. A explicação para isso é que os mais pobres sofreram mais com “um aumento mais forte” nos preços da conta de luz, das tarifas de ônibus e dos remédios.

Não é por acaso que o governo Jair Bolsonaro tem seu melhores índices de aprovação entre os mais ricos e os piores, entre os mais pobres. Na pesquisa Datafolha do início de setembro, a aprovação do geral governo era de 29%. Entre quem ganha até dois salários mínimos, era de 22%. Entre quem ganhava acima de dez, de 37%.

Fonte: Carta Capital

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