Nos últimos dias vimos verdadeiras jornadas revolucionárias, com destaque para o Chile e Equador, tomarem conta do cenário internacional. É um retorno da luta de classes que teve seu início no último ano com a irrupção dos coletes amarelos na França que deu início a uma nova onda de manifestações mundo afora. Que impactos essa situação tem para o Brasil?
Há algumas semanas o Equador despertou um foco de esperança em milhões de jovens e trabalhadores de toda a América Latina e também no Brasil quando saíram às ruas, com o povo indígena à frente para rechaçar os acordos com o FMI e assim fizeram o presidente Lenin Moreno retroceder. Poucos dias atrás se desatou uma incontrolável revolta no Chile da qual o governo Piñera chama de “guerra aberta” quando seu toque de recolher é a cada dia rechaçado pela juventude e a população pobre que não aguentam mais esse regime herdado da ditadura que relega a juventude nenhum futuro e aos aposentados uma velhice de miséria. Esse é o modelo de Bolsonaro e Paulo Guedes, apoiado por Rodrigo Maia e Dias Toffoli, todos que estiveram juntos, apesar das brigas e crises, para garantir com eficácia que o plano de golpe institucional fosse implementado e a crise descarregada em nossas costas.
No Haiti também vemos fortes manifestações contra a carestia de vida e o atual presidente, e na Catalunha segue uma forte luta pela liberdade dos presos políticos que lutaram pela auto-determinação deste país. São explosões em vários países, a que se soma Honduras, Líbano, Iraque entre outros, que vão marcar toda uma nova geração depois de muitos anos sem jornadas revolucionárias que coloquem em questão a ordem direitista que se abriu com a entrada de Donald Trump nos Estados Unidos. Assim como os massivos protestos que desde o começo do ano em Hong Kong vem estremecendo o controle da burocracia do PC chinês. Essa força da luta de classes se encontrar no marxismo revolucionário e nas ideias do socialismo um caminho pode ser ainda mais explosivo.
Para Bolsonaro e seus amigos essas são péssimas notícias. Além das crises internas e das várias derrotas que vem tomando, as notícias que vinham da América Latina não eram nada promissores. Primeiro a derrota acachapante de seu amigo Macri nas primárias – que deve se repetir no próximo domingo – com a população argentina rechaçando um governo de ajustes. Mas ainda neste caso a saída não foram as ruas, e sim as eleições, com fortes ilusões na chapa peronista/kirchnerista. Agora com um cenário de luta de classes aberta aumentam as chances de isolamento de Bolsonaro a nível internacional o que poderá ser coroado se Trump sofrer uma derrota nas próximas eleições norte-americanas.
Neste cenário, é sintomático que a esquerda que hoje esteja fazendo eco destes processos seja a Frente de Esquerda e dos Trabalhadores – Unidade encabeçada pelo PTS com o candidato a presidente Nicolas Del Caño. Em debate eleitoral visto por milhões, com transcendência internacional, Nico homenageou os mortos no Equador e ontem citou a luta chilena como exemplo de resistência o que fez disparar, na Argentina, as buscas no Google pela luta no Chile. Foi também o único que se dirigiu a juventude, defendeu a legalização da maconha e falou sobre as cotas para pessoas trans conseguirem emprego, explodindo nas redes sociais.
No Brasil, entretanto, o PT está calado sobre o Chile, afinal seus aliados da antiga Concertación estão negociando com Piñera e bem sabem que a luta de classes lá coloca em questão não somente o governo direitista mas toda a herança de um regime herdeiro de Pinochet. Lula e seu partido, tal como seus parceiros chilenos se oferecem aos empresários como oportunidade de administrar o capitalismo e suas crises e não de enfrenta-lo, tal como vemos com os governadores do nordeste em sua negociação dos recursos da privatização do pré-sal em troca do apoio que deram à reforma da Previdência de Bolsonaro. A luta de classes no mundo e em nosso continente é uma enorme oportunidade de mostrar uma saída pela luta de classes, mas por enquanto não tem mudado a agenda oficial da esquerda brasileira, que há um ano antes das eleições municipais ordena toda sua atividade em torno de quais seriam as alianças pra “derrotar Bolsonaro”. Até mesmo com Ciro Gomes (!) vimos Luciana Genro do MES-PSOL essa semana. Com essa estratégia meramente eleitoral Bolsonaro pode ficar tranquilo. O que lhe dá verdadeiro medo são esses exemplos que questionam toda a ordem vigente e colocam um limite brutal ao avanço da direita e da extrema-direita no continente. Para que estes processos possam dar um verdadeiro salto a uma situação abertamente revolucionária será decisiva a auto-organização dos trabalhadores recuperando os sindicatos para as suas mãos e passando por cima das burocracias, coordenando cada vez mais a luta num sentido anti-regime e anti-capitalista. Por isso, desde ontem estamos fazendo um forte chamado a todas as organizações de esquerda como PSOL, PCB, PSTU, os parlamentares do PSOL, os movimentos sociais, sindicatos, entre outros a organizarmos urgentemente ações de solidariedade em todo o país. A batalha que estamos dando neste momento pela auto-organização com o chamado por uma greve geral para derrubar Piñera e impor uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana em base as ruínas desse regime expressamos na declaração do Partidos dos Trabalhadores Revolucionários, nossa organização irmã no Chile.
As organizações que viemos construindo ao longo dos anos e décadas tem como objetivo confluir como ala revolucionária desses processos portanto não há nada mais importante do que cercar de solidariedade essas lutas. Nunca restringimos nossa atuação apenas a intervenção eleitoral, como outras correntes da esquerda internacional – como o Syriza e o Podemos -, a perspectiva estratégica de nossa atuação sempre foi o terreno da luta de classes. Como apontou Claudia Cinatti, dirigente do PTS: “Nestes marcos, as tarefas preparatórias que viemos realizando a partir do PTS (partido irmão do MRT na Argentina, NdT) ganham uma nova importância, como a presença política na vida nacional conquistada pela FIT-U, a intervenção em diferentes acontecimentos da luta de classes, a construção do La Izquierda Diario e a preparação teórica e estratégica de uma força militante para intervir nos momentos decisivos. Internacionalmente, impulsionamos junto às organizações irmãs do PTS que integram a Fração Trotskista pela Quarta Internacional, a Rede Internacional de Diários em 8 idiomas, que está presente nos principais acontecimentos da luta de classes: na França, o Revolución Permanente se transformou em uma das vozes das lutas dos “coletes amarelos”, assim como o La Izquierda Diario no Chile hoje dá voz aos que resistem ao estado de sítio de Piñera. E em Barcelona e no Estado Espanhol estamos presentes nas mobilizações e na luta contra a ofensiva reacionária do regime monárquico transmitindo a cada momento os acontecimentos tanto no IzquierdaDiario.Es quanto no EsquerraDiari.Cat em catalão”.
Aqui, o MRT busca com o Esquerda Diário ser a voz da luta de classes como o principal jornal da esquerda revolucionária no Brasil que expressa cotidianamente todos esses processos, e que nesta semana contaremos com a correspondência internacional de André Augusto, do PodCast internacional Ideias de Esquerda direto do Chile. Em todas as batalhas parciais que estamos atuando, seja em lutas como a batalha em defesa dos terceirizados na Unicamp, ou eleições estudantis e sindicais, pulsamos internacionalismo proletário para mostrar que essas lutas podem contagiar e se alastrar por vários países e que é neste sentido que colocamos o Esquerda Diário a serviço da luta de classes. Da mesma forma, nossa militância no MRT tem como objetivo consolidar uma força material que atue em cada estrutura e categoria que estamos presentes para se apoiar e irradiar esses exemplos da luta de classes internacional para a conjuntura nacional. Só através da construção de um partido revolucionário dos trabalhadores é possível atuar de forma consciente na luta de classes nesses momentos decisivos.
Fonte: Esquerda Online