“Recebemos mais de mil mensagens de pessoas que querem investir juntas, porque não querem mais deixar o dinheiro no Itaú, no Bradesco, do Santander, sem saber a quem estão financiando”
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) anunciou a captação de R$ 1 milhão para investir numa indústria de beneficiamento de produtos agrícolas. Os recursos são oriundos do Financiamento Popular (Finapop), fundo criado pelo engenheiro e consultor Eduardo Moreira, que promete revolucionar a forma de investir, beneficiando projetos com potencial de mudar a cara do Brasil.
Com taxas de taxas de 5,5% ao ano, menores do que aquelas cobradas por bancos públicos e privados, o dinheiro vai servir para a conclusão da construção de uma indústria para a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), do MST, no Rio Grande do Sul.
Cooperativa próspera
A Coopan possui criação própria e abatedouro para venda de carcaça suína. Também produz leite e arroz orgânico, que é um dos mais vendidos do país.
A iniciativa, segundo Moreira, serve para mostrar que o MST “não é esse bicho de sete cabeças”. Ele diz que o movimento conta com uma organização tão eficiente quanto as grandes empresas brasileiras, como a Vale e a Petrobras, o que justifica o baixo risco do investimento.
A diferença, diz ele, é que nos fundos tradicionais, o investidor não sabe exatamente para onde vai o seu dinheiro. No Finapop, os investimentos são transparentes, e a pessoa pode escolher qual projeto pretende beneficiar. A inspiração veio do banco holandês Triodos, que tem uma cartela de investimentos sustentáveis e que privilegiam a economia local.
“Seu dinheiro, que está no Itaú ou no Unibanco pode estar financiando uma fábrica de armas, uma empresa de agrotóxicos. Ou uma multinacional que vem ao Brasil para competir e destruir as empresas locais. Muitas vezes você pode estar financiando aquilo que te destrói”, afirmou Marilu Cabañas.
“No MST, você sabe, 70% da comida na nossa mesa vem da agricultura familiar. A comida orgânica vem quase toda de assentamentos e pequenos agricultores”, afirmou ele.
Em meio a desemprego da pandemia
Segundo Moreira, o lançamento da Finapop representa “uma chuva de esperança” em meio às desgraças decorrentes da pandemia de coronavírus. “Recebemos mais de mil mensagens de pessoas que querem investir juntas, porque não querem mais deixar o dinheiro no Itaú, no Bradesco, do Santander, sem saber a quem estão financiando. Recebemos uma chuva de mensagens de pessoas que querem oferecer serviços gratuitamente, que querem doar terra para o MST.”
Ele destacou que a atual crise exige diferenciar o que é necessidade do que é desejo. O governo, em vez de privilegiar o pequeno agricultor, dando andamento à reforma agrária, prefere atender aos interesses de grileiros e latifundiários, que são exportadores de commodities.
“É nesse momento que a gente tem que falar ‘não’. E focar e premiar quem mais precisa. Precisa de comida na nossa mesa, então vamos premiar quem faz isso. Vamos dar mais terras, mais oportunidades. E quando entregarem a comida, vamos premiar mais ainda, para que mais pessoas queiram ir trabalhar lá. Qual mundo que a gente quer? A gente tem que se fazer essa pergunta.”
Frigorífico em construção
Um dos coordenadores da Coopan, Emerson Giacomelli, explica que os valores dos investimentos já chegaram na cooperativa. “Nós temos como meta concluir as obras em fevereiro do próximo ano e vamos inaugurar ela em maio”, diz.
“Vamos processar mais de 50 produtos e mais de 60 empregos diretos na cooperativa. Hoje, no nosso abatedouro trabalham 37 pessoas, em sua maioria jovens e mulheres. Agora vamos poder trabalhar com inúmeros produtos, mas os principais vão ser a linguicinha, o salame, os defumados, vamos trabalhar com cortes de carne”, completa o agricultor.
João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, explica que “esse fundo vai ser uma revolução, para que milhares de pessoas possam se envolver nesse projeto. Daqui em diante, quando vocês forem comprar arroz orgânico, carnes de qualidade, entre outros produtos, você saberá que ajudou a produzir”.
Stedile lembra que algumas pessoas já o questionaram sobre a ligação do Movimento com o ex-banqueiro e investidores financeiros. Segundo o dirigente, “nós nos juntamos a um ex-banqueiro sim. Nós queremos criar mecanismos de um mundo novo e derrotar o sistema financeiro, não alimentá-lo”, completou.
Fonte: Vermelho.org