Bolsonaro agradece autoritarismo judicial que o elegeu: presenteando Moro com ministério
Bolsonaro quer agradecer os serviços prestados pela Lava Jato de Sérgio Moro, derrubando Dilma em 2016, prendendo Lula arbitrariamente e vetando sua candidatura, fatores fundamentais para que fosse eleito nas eleições mais manipuladas da história recente do país. Com isso, Bolsonaro reconhece a importância do autoritarismo judicial no fortalecimento da extrema direita, e, como parte fundamental disso, de sua vitória eleitoral.
Assim, Bolsonaro ofereceu o Ministério da Justiça como “prêmio” ao juiz pelos seus serviços prestados. Além da prisão de Lula, vetando o único candidato que poderia com facilidade vencer as eleições no primeiro turno e deixar Bolsonaro para trás, Moro seguiu auxiliando Bolsonaro durante o período eleitoral. Fez isso, por exemplo, vazando a delação de Antonio Palloci em que ex-ministro de Lula o acusa de utilizar o pré-sal para conseguir dinheiro para as campanhas do PT, entre outras ilegalidades que teriam sido articuladas diretamente pelo ex-presidente.
Como apontamos recorrentes vezes aqui no Esquerda Diário, o judiciário tem cumprido um papel político decisivo desde o golpe institucional que tirou Dilma do governo, mas não o faz de maneira “autônoma”, mas sim vinculado a um plano cuidadosamente arquitetado pelo imperialismo americano para poder recobrar sua influência sobre a América Latina, que vinha muito desgastada do período anterior. Documentos do Departamento de Estado dos EUA explicitaram seus planos de, por meio dos judiciários e sob o pretexto do “combate à corrupção”, ingerir na política dos países do subcontinente. Não à toa, seu principal testa-de-ferro nesse plano no Brasil, o juiz Sergio Moro, foi diretamente treinado nos EUA para melhor cumprir sua função.
Bolsonaro, outrora só um deputado da extrema-direita e de relevância nula na política nacional, que se esbaldava em seus discursos anti-esquerda e de cunho machista, racista e LGBTfóbico, foi capitalizando esse espaço aberto pela operação capitaneada por judiciário e mídia de transformar o PT no espantalho da “corrupção que acabou com o Brasil”. Os tucanos, mesmo cuidadosamente preservador por Sergio Moro para que pudessem posar de “paladinos da ética”, já tinham uma cara demasiadamente ligada ao regime. Bolsonaro, permanecendo nas sombras por décadas, pôde fazer da sua retórica virulenta uma peça funcional para aparecer como uma suposta “saída radical” contra o regime.
O grande capital, a mídia e mesmo o judiciário não perderam tempo em se realinhar com esse “novo herói”, tomando, é claro todas as medidas necessárias para “domesticar” Bolsonaro dentro do seu programa para atacar os trabalhadores e favorecer o imperialismo – sempre, é claro, num delicado jogo de forças que ninguém pode prever ao certo em que resultará. Paulo Guedes foi responsável por dar o corte neoliberal à roupagem de Bolsonaro, fazendo da reforma da previdência e das privatizações o carro-chefe de seus planos.
Além do papel decisivo do judiciário, as Forças Armadas, em cujos altos escalões também Bolsonaro foi ganhando influência aos poucos, também avançaram a passos largos para se tornarem os “guardiões” desse podre regime. Desde os tweets dos generais intimidando os tribunais a condenar Lula, passando por Dias Toffoli nomeando um general como assessor especial e depois chamando o golpe de 64 de “movimento”, até chegarem no executivo com Mourão e Bolsonaro. Não à toa, hoje Augusto Heleno, general que Bolsonaro colocará no Ministério da Defesa, disse “torcer muito” para que Moro aceite o convite. Um convite que, para alegria das casernas e dos capitalistas, o juiz aceitará amanhã após reunião com Bolsonaro no Rio.
A declaração de voto em Bolsonaro da esposa de Moro, e, depois, sua comemoração com a vitória do militar eram sinais inequívocos de que Moro já havia pulado fora do barco furado dos tucanos e embarcado com suas malas na candidatura da extrema-direita. Bolsonaro, por outro lado, nunca poupou elogios à Lava-Jato, sempre consciente de que, sem a imensa ajuda do judiciário e sua manipulação de cabo a rabo das eleições, ele jamais teria chegado tão longe.
Passado o desafio das urnas, resta a Bolsonaro agradecer os serviços prestados, e para isso concede a Moro não apenas o Ministério da Justiça tal como ele é hoje, mas, como antecipou a colunista do Estadão, lhe ofereceu o “super-ministério” como Moro queria: além das atuais atribuições do Ministério da Justiça, Moro terá sob seu controle a Segurança Pública, a Secretaria de Transparência e Combate à Corrupção, a Controladoria Geral da União e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras. Talvez o mais importante é que a Polícia Federal, o braço armado da Lava-Jato, passará a ficar diretamente subordinada a Moro e seu superministério. Com todos esses “superpoderes” na mão do juiz que não hesita em vazar ilegalmente delações, prender sem provas e com convicção, ou passar por cima das provas e convicções para defender seus aliados, fica claro que a “justiça” do governo Bolsonaro é um pagamento à altura para aquele que foi uma das pessoas mais importantes para garantir uma improvável vitória eleitoral para o outrora obscuro deputado da extrema-direita.
A parceria da extrema-direita e do judiciário golpista hoje vive sua lua-de-mel, e tem como objetivo primordial garantir as reformas e ataques que Temer não pôde implementar, com as privatizações das estatais e, antes de mais nada, a reforma da previdência.
Fonte: Esquerda Diário