O pastor Marco Feliciano (Podemos-SP), conhecido por sua defesa intransigente de posições LGBTfóbicas e machistas, como a tentativa de emplacar a “cura gay”, foi indicado por igrejas evangélicas para ocupar o Ministério da Cidadania do governo de Bolsonaro
Marco Feliciano, pastor da Assembleia de Deus e deputado federal da bancada da bíblia, é a mais recente indicação das igrejas evangélicas para o governo de Bolsonaro. Os poderosos empresários da fé querem que seu indicado ocupe o Ministério da Cidadania, uma pasta na qual Bolsonaro pretende acochambrar os atuais ministérios de Esporte, Cultura, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social.
Evidentemente, trata-se, para tais lideranças, de um posto no governo para prosseguir não apenas com seu “projeto de poder”, como diz o título de Edir Macedo da Igreja Universal, mas de ter uma trincheira no executivo para pregar com o valor de lei os dogmas reacionários de suas instituições.
Marco Feliciano tem vasta experiência com isso no executivo, e no governo Dilma chegou a ocupar – por meio de um acordo costurado com o PT – a presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Quando nesse posto, em 2013, o principal projeto de Feliciano era o absurdo que ficou conhecido como “cura gay”. A ideia era legalizar que “psicólogos” oferecessem “tratamento” para homossexuais, como os que existem nos EUA sob o nome de “terapias de reversão” (ou conversão) – um relato desse “tratamento” pode ser visto aqui. O projeto de lei de autoria do deputado João Campos (PSDB-GO) queria derrubar dois artigos de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia (CFP) que impedem que os profissionais de psicologia exerçam esse tipo de atuação, sob pena de perderem seu registro profissional. Foi o que aconteceu com a principal porta-voz dos dogmas evangélicos nesse meio, Marisa Lobo.
O projeto, com mobilizações na rua, foi derrubado, mas Feliciano jamais desistiu de aprova-lo, voltando a defendê-lo na Câmara em 2015, e, mais recentemente, propondo uma CPI contra os conselhos de psicologia em defesa do “direito” de camuflar seu ativismo LGBTfóbico como prática terapêutica. O poderoso lobby dos evangélicos levou a que a justiça aprovasse a prática em 2017, o que mais uma vez foi barrado nas ruas com fortes mobilizações que tomaram o país.
Importante sempre lembrar que não é meramente ideológico o interesse de figuras abjetas como Feliciano transformar a prática LGBTfóbica de seus “psicólogos” em lei. Há, como sempre é no caso dessas grandes empresas da fé, muito dinheiro em jogo. O seu aliado, pastor Silas Malafaia, por exemplo, investiu pesado em “clínicas psicológicas” de recuperação, que lhe trariam novas fortunas com pais doutrinados pelas igrejas afluindo em massa para impor torturas a filhos gays e outras bizarrices do tipo.
Esse é apenas um exemplo do que Marco Feliciano fará à frente de um ministério de Bolsonaro. O Escola Sem Partido, por exemplo, para impedir o debate sobre questões de gênero e sexualidade nas escolas, ou qualquer tipo de pensamento livre e crítico, certamente será prioridade na agenda do pastor. Ou ainda a militância contra o direito ao aborto para as mulheres, ou pela criminalização da união estável entre homossexuais.
São todos ataques que fazem parte do programa dos evangélicos e de Bolsonaro. Como ficou demonstrado em 2017, com a derrubada da aprovação na justiça da bizarra “cura gay”, ou na primavera feminista que impediu Eduardo Cunha de impor novos ataques às mulheres e criminalizar o aborto mesmo nos poucos casos em que ainda é legalmente permitido, o que pode barrar esses imensos retrocessos é a mobilização. A juventude, os trabalhadores, as mulheres e os LGBTs se organizando para ir às ruas. Por isso, para tornar essas mobilizações fortes e enraizadas, com um plano de lutas capaz de unir o combate aos direitos democráticos com a também imprescindível luta contra os ataques econômicos de Bolsonaro, como a reforma da previdência, defendemos a criação de comitês de mobilização em cada local de trabalho e estudo, e a exigência a que as entidades sindicais e estudantis, como CUT, CTB e UNE, coloquem seu peso para essas mobilizações.
Infelizmente, o que vemos o PT fazendo – seguido, tragicamente, pelo PSOL – é justamente reeditar o caminho que levou a que colocassem Marco Feliciano como base de seu governo e à testa da comissão de direitos humanos da Câmara em 2013: o caminho dos conchavos e acordos parlamentares. Haddad deu na semana passada uma coletiva de imprensa em que dizia que queria uma frente “amplíssima”, que incluiria mesmo a centro-direita e “liberais” de todo tipo para combater os ataques a direitos civis por parte do governo Bolsonaro. É mais uma vez a estratégia impotente e derrotista do PT de procurar em nossos inimigos os aliados para uma luta fundamental, ao invés de recorrer às imensas reservas de força da mobilização e luta dos trabalhadores em aliança com a juventude e todos os setores oprimidos. É fundamental lutarmos com todas as forças por uma saída pelo caminho da luta para impedir o avanço de Bolsonaro, Feliciano e seus aliados.
Fonte: Esquerda Diário