Ao menos 20 famílias vivem em uma aldeia às margens do rio Paraopeba, afluente do rio São Francisco, que já sofre com o impacto da chegada dos rejeitos de minério de ferro. Água tem com peixes mortos e extensão da contaminação é dúvida
Nas margens do rio Paraopeba, afluente do rio São Francisco que banha o Estado de Minas Gerais, vivem também os índios Pataxós Hã-hã-hãe, da aldeia Naô Xohã. Vítimas indiretas do rompimento da barragem 1 da Mina Feijão, em Brumadinho, eles se recusam a deixar a aldeia onde vivem, no município de São Joaquim de Bicas (município vizinho), mas observam com apreensão o avanço da lama e dos rejeitos pelo rio de onde o povo tira seu sustento. Nesta segunda-feira, 28 de janeiro, um grupo de indígenas foi ao rio ver a extensão da contaminação e já encontrou peixes mortos.
A aldeia Naô Xohã chegou a ser evacuada no sábado, 26 de janeiro, um dia após a ruptura da barragem da Vale em Brumadinho que matou ao menos 65 pessoas e deixa mais de 292 desaparecidos. Mas, de acordo com Conselho Indigenista Missionário (Cimi), ligado ao Conselho Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os moradores voltaram ao local onde moram depois. Agora, “a dúvida é como a aldeia irá sobreviver às margens de um rio poluído gerando impacto em todo o meio ambiente local”, disse o órgão indigenista.
De acordo com o mais recente boletim da Angência Nacional de Águas, a onda de rejeitos deve chegar ao reservatório da usina Retiro Baixo entre os dias 5 e 10 de fevereiro.
Mas os estragos da onda de rejeitos já é sentido pelos índios Pataxós. . “O café da manhã era peixe com farinha e mandioca cozida. Agora temos de pedir forças pros nossos encantos. (…) Vidas perdidas, o rio destruído. É uma tragédia”, disse ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi) o cacique Háyó Pataxó Hã-hã-hãe.
Ao menos 25 famílias indígenas vivem às margens do rio Paraopeba, de onde tiram o alimento para viver. A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi até a região e informou que o rompimento da barragem da Vale no município vizinho não deixou feridos entre os Pataxós, mas monitora a situação no local.
Diariamente, desde o desastre em Brumadinho, os índios da aldeia Naô Xohã vão ao rio avaliar a situação, como nesta foto registrada nesta segunda-feira, 28 de janeiro, já que os peixes que pescam no Paraopeba são a base da alimentação das cerca de 80 pessoas que moram no local. O cacique Háyó explicou ao Cimi que mesmo quando o rio enche as águas não chegam na parte da aldeia onde os indígenas decidiram permanecer. “Entendendo que estão seguros e observando de longe o rio, preferem se manter perto das plantações, terreiros e moradias”, informou o Conselho, em nota.
“Já tem um bocado de peixe morto, boiando, com a boca pra fora pedindo socorro”, disse o cacique da aldeia Pataxó Hã-hã-hãe. Na imagem, uma mulher retira um peixe morto no Paraopeba. De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a “água turva” percorre a Rio Paraopeba a uma velocidade de 1km/hora.
Há três anos, o desastre de Mariana (também causado pelo rompimento de uma barragem de mineração da Vale) mudou a vida de 126 famílias do povo Krenak, que vivem espalhadas em sete aldeias às margens do Rio Doce. “Antes do desastre de Fundão, pescavam, caçavam e viviam abastecidos pela água do rio. Com a poluição gerada pela lama de rejeitos, os Krenak se veem hoje dependentes de recursos estatais e da alimentação comprada em supermercados”, recorda o Conselho Indigenista Missionário, da CNBB, que teme pelo futuro agora dos Pataxó Hã-hã-hãe. Nesta segunda, o povoado encontrou vários peixes e outros animais mortos no rio Paraopeba.
Além de ter deixado ao menos 65 mortos, segundo os últimos dados oficiais divulgados pelo Corpo de Bombeiros de MG, o desastre de Brumadinho é um desastre ambiental cujos danos ainda são inestimáveis.
Fonte: EL País