Rendimentos de profissional de marketing e publicitário despencam com o subemprego
“Não existe mais emprego. Já fui ao Sine (Sistema Nacional de Empregos) mais de 20 vezes em seis meses. Está tudo parado. O cenário é de incerteza”, desabafa o publicitário Rodrigo*, 41, desempregado há mais de um ano. Além do curso superior, ele é pós-graduado em gestão de negócios e lembra que em 2011 tinha um salário de R$ 8.000. “Minha renda mensal voltou, pelo menos, dez anos”, admite. Ele declara receber, atualmente, menos de R$ 3.000 por mês com bicos na área.
A taxa de desocupação no Estado cresceu 77,6% em quatro anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No primeiro trimestre de 2014, 7,1% da força de trabalho não tinha emprego. No mesmo período deste ano, são 12,6%, ou seja, mais de 1,4 milhão de trabalhadores sem ocupação formal, segundo os dados do instituto.
“É chocante. Tive depressão numa época porque levava uma vida tranquila antes, frequentava bons restaurantes, comprava o que eu queria. Agora, mando currículo, participo de processos seletivos, quatro dias em função de uma única empresa, passando por várias fases, para no fim não dar em nada”, conta o profissional de marketing, eventos e turismo Gustavo de Paula Pinto, 39.
Entre 2010 e 2015, ele trabalhou em cruzeiros marítimos internacionais e tinha renda mensal de cerca de US$ 4.000 (cerca de R$ 14,8 mil na cotação atual). Hoje, sua renda mensal é de R$ 2.500. “Sou fluente em inglês, italiano, espanhol e francês. Nos cruzeiros, realizava eventos para 7.000 pessoas. Conheço 34 países, 150 cidades e, mesmo assim, não consigo recolocação no Brasil”, lamenta. Ele voltou para o país em 2015, quando a mãe adoeceu. “Moro na casa dela hoje porque aluguei meu apartamento para ajudar a pagar as contas”, diz. Pinto também atua como motorista de aplicativo enquanto busca um emprego. “Fui contratado por uma produtora de eventos, mas, em junho de 2017, com o mercado parado, eles não tinham mais como pagar meu salário”, lamenta.
O coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, explica que a crise afetou principalmente as vagas com carteira assinada. Entre 2014 e 2018, Minas Gerais perdeu 265 mil empregos formais, segundo o instituto. “(No país) Em quatro anos, perdemos 4 milhões de empregos com carteira assinada”, informa Azeredo.
“As pessoas estão com menos garantias, menos estabilidade, e, por isso, cai o consumo. Isso gera um círculo vicioso”, afirma Azeredo. Ele explica que a queda do consumo faz a produção interna cair, o que emperra a geração de novas vagas qualificadas.
Para o coordenador de política econômica do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antônio Corrêa de Lacerda, o fato afeta a juventude. “A crise está criando uma geração com pouca qualificação e pouca experiência porque não encontra oportunidades”, adverte Lacerda. É o caso da jovem Ludmila de Paula, 21. “Desde os 18 anos procuro meu primeiro emprego, qualquer emprego, mas é difícil, porque não tenho experiência. Até faxina está difícil de conseguir, as pessoas não querem pagar”, reclama.
* Nomes fictícios
Currículo bom demais está atrapalhando
A necessidade de ser aceito em qualquer oportunidade faz com que os candidatos escondam suas qualidades até no currículo. “Ser formado e ter uma pós-graduação pode atrapalhar. Tem informação que eu tiro do currículo porque as pessoas acham que você vai cobrar muito. Já fiz currículo em que coloquei só ensino médio”, afirma Rodrigo*. “Hoje em dia não dá para escolher muito, se aparecer alguma coisa que você não tenha experiência, você faz um curso, aprende e vai para cima”, acrescenta. Em busca de recolocação há quatro anos, a designer Flávia*, 30, diz que já mandou currículos para vagas de recepcionista e atendente. “Falaram que estava muito capacitada”, lamenta. Para ela, retirar o curso superior do currículo é uma alternativa para manter-se competitiva no mercado. Ela ainda reclama que falta retorno das empresas. “A gente manda o currículo e não recebe nenhum contato depois”, relata.
Para o profissional de marketing Gustavo de Paula Pinto, 39, a capacitação acaba sendo um problema. “Quando vou a uma entrevista faço questão de salientar que aceito qualquer remuneração, que não quero subir rápido nem tirar o emprego de ninguém”, diz. Ele admite que o tratamento chega a ser desrespeitoso. “Acho falta de educação quando vamos a uma entrevista, nos empenhamos nos processos seletivos e não recebemos nem um telefonema. Merecemos respeito”.
Fonte: O Tempo