Brasil precisa ser soberano também fora de campo

A Copa começou e nossa seleção é novamente uma das favoritas. O talento dos brasileiros e, em especial, o de Neymar, impõe respeito. Mesmo com o fantasma do 7 x 1 e o desalento na economia, continuamos sendo grandes neste esporte.

Foto: Lucas Figueiredo

Mas, fora de campo, a história é outra. O respeito desaparece. O Brasil não escolhe suas jogadas e nem decide o que vai fazer, não é independente. Onde está nossa soberania? As decisões são tomadas por “cartolas”, quer dizer, grandes corporações estrangeiras, bancos e fundos de investimentos. As principais escolhas estão nas mãos do “mercado”, isto é, de uma dúzia de ricos e poderosos.

Nossa economia é muito dependente da exportação de minério, petróleo e produtos do agronegócio. Exportamos produtos primários e importamos bens industrializados. Dependemos diretamente da cotação lá fora. Veja o exemplo dos combustíveis. Apesar de termos reservas, tecnologia e capacidade de refino, o brasileiro paga mais de R$ 5 no litro de gasolina, porque a Petrobrás aplica a tabela do mercado internacional. Para os acionistas, pouco importa que 61% da população esteja contra essa política ou que 1,2 milhão de famílias cozinhe usando lenha.

Somos reféns do capital especulativo que nas últimas semanas tem deixado o País, buscando maior rentabilidade em função da alta da taxa de juros no EUA. Antes do Brasil estrear na Copa, o Brasil já terá queimado 24,5 bilhões de dólares em operações futuras para acalmar o mercado e segurar a cotação do dólar, esvaziando parte das reservas.

É GOOOLLLLLLLLPPPEEEEEE!!!!!

Foto: Coletivo Alvorada

Nosso país tem sofrido com a retirada de riquezas e lucros por parte do grande capital internacional. Isso é resultado da crise econômica iniciada em 2008, e agora acelerada pela disputa agressiva entre as principais nações imperialistas.

Foi por conta dessa crise econômica que o Brasil teve uma virada de mesa em 2016, no golpe parlamentar, feito para controlar mais ainda nossa economia.

Não que o Brasil fosse um País independente de verdade nos governos do PT. Nesses anos, o País aprofundou a sua inserção no mercado mundial como fornecedor de commodities e ainda liderou a ocupação no Haiti. Mas mesmo os governos de conciliação de classes tornaram-se incapazes de atender às exigências do imperialismo e do capital internacional. O golpe veio para ir além, para avançar na recolonização.

Temer, depois de políticas de austeridade e redução do custo trabalho, avança na entrega das riquezas. Ampliou o controle estrangeiro de terras e reservas de petróleo e, mesmo com o governo em crise, quer entregar aos estrangeiros Eletrobrás, Correios, Embraer e nossa maior empresa, a Petrobras.

BRASIL CAMPEÃO DA DESIGUALDADE
Nossa economia é uma das maiores, mas, quando o assunto é a distribuição dessa riqueza, voltamos a ser “vira-latas”, a estar entre as últimas posições. Somos o décimo país mais desigual do mundo, empatados com a Suazilândia, pequena nação africana de área 490 vezes menor que a nossa. Somos mais desiguais que Honduras e Guatemala.

O golpe ampliou essa desigualdade e deixou 31 milhões sem emprego. Seis pessoas têm o mesmo que 100 milhões de brasileiros. Os 5% mais ricos tem a mesma riqueza que 95% da população. O rico está mais rico. O trabalhador está endividado ou sem emprego. Principalmente se for mulher, negro ou LGBT.O controle sobre o Brasil provoca não só essa desigualdade, mas também impede que o País cresça e se desenvolva, aproveitando nossas riquezas. É como se jogássemos com as pernas amarradas. Com soberania, nosso país poderia crescer, explorar suas potencialidades e, assim, distribuir essa riqueza entre o nosso povo.

NAS ELEIÇÕES, QUEREM JOGAR POR VOCÊ
Temer mudou a regra do jogo, a mando do mercado. A Emenda Constitucional 95 determina um Teto de Gastos públicos, que reduzirá o alcance de programas sociais e da saúde. Em 12 anos, essa decisão causará a morte de mais 20 mil crianças. Leis assim são criadas para impedir que as principais decisões saiam do controle do mercado. Mesmo se o time estiver perdendo, o técnico fica impedido de mudar o esquema tático e até de substituir os jogadores.

Mas, além disso, o mercado interfere diretamente nas eleições. Age para eleger um presidente que mantenha as políticas de austeridade, sem qualquer mudança na agenda. Foi por isso que perseguiram e prenderam Lula, que lidera as pesquisas.

Querem decidir por você. Querem um governo comprometido com mais submissão, com a reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central, como acaba de fazer a Argentina, em acordo com o FMI. O(a) candidato(a) do mercado será aquele(a) que provar chances eleitorais e transmitir confiança de que continuará fazendo o Brasil perder.

É HORA DE VIRAR O JOGO
Nas próximas semanas, vamos torcer pela seleção. Aos poucos, vamos acabar recuperando o gosto pela torcida, pois não vamos deixar que nos tirem isso também. Já basta levarem os nossos melhores jogadores e jogadoras.

Além de torcer, vamos lutar por um Brasil soberano fora de campo. Para isso, é preciso ser grande para todos e não para uma pequena elite, para o 1% de bilionários. É preciso enfrentar a desigualdade social, herança da escravidão, romper com os de cima.

Não dá para ganhar jogando no mesmo time de quem aposta contra a gente, com quem entrega a partida, de quem dá golpe. Sem acordo com cartola, é possível virar o jogo.

Vamos entrar em campo com um programa anticapitalista, com a pré-candidatura de Boulos e Guajajara, na luta dos de baixo, das mulheres, dos trabalhadores. É possível anular a reforma trabalhista, impedir a da Previdência, enfrentar a dívida e os banqueiros, fazer a reforma agrária e urbana, garantir emprego e o combate à desigualdade.

Vamos para a Copa torcendo pelo Brasil e lutando por soberania. Essa é uma luta importante para todos os socialistas, que não querem só ganhar uma partida, mas vencer o campeonato, para que os trabalhadores controlem e usufruam da riqueza que produzem.

O Brasil não precisa seguir o mesmo caminho das principais potências, que exploram e sugam as riquezas e o povo dos demais países. Pode ser soberano, independente e também solidário e irmão de outras nações, como parte de uma mesma classe trabalhadora, em todo o mundo. Seja no Brasil, na Argentina ou na Palestina.

Fonte: Editorial Diário da Esquerda

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