Inquérito que investiga o senador Aecio Neves (PSDB-MG) cita Bolsonaro em propina na Lista de Furnas.
O torpedo lançado a partir do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta sexta-feira, na direção do senador Aécio Neves (PSDB-MG), encontrará no caminho o presidenciável de ultradireita e deputado Jair Messias Bolsonaro (PSC-RJ). Com a retomada das investigações acerca de possível suborno nas obras da sede administrativa do governo de Minas Gerais – realizadas durante o período em que ocupou o Palácio Tiradentes – o STF quer apurar a presença do parlamentar na chamada ‘Lista de Furnas’. Bolsonaro e o presidiário Eduardo Cunha (PMDB-RJ) estão citados no documento.
A ‘Lista de Furnas’, que integra o processo no qual Neves teve o sigilo quebrado, com os dados entregues ao STF, na véspera, trata-se de uma prova, assim considerada segundo laudo do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, do esquema de propina montado junto às empresas do setor elétrico brasileiro. Vazada para o jornalista mineiro Marco Aurélio Flores Carone, a matéria foi publicada no site de notícias Novojornal; hoje reduzido a uma sombra do que era, no ano 2000.
Após a publicação da denúncia contra os políticos citados, Carone foi preso por nove meses, em Minas Gerais. Posteriormente, a Justiça o absolveu, após um calvário de sofrimento na prisão. Ao sair do presídio mineiro, Carone decidiu contar à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados quais eram as denúncias que ele pretendia fazer contra o senador Aécio Neves (PSDB). Segundo Carone, o hoje presidente nacional do PSDB e senador da República liderava o esquema de corrupção no segmento que engloba as elétricas Cemig, de Minas Gerais, e Furnas, do sistema Eletrobras. O depoimento foi suspenso no último minuto.
Marcos Valério
A ‘Lista de Furnas’ revela documentos sobre as quantias pagas a políticos de PSDB, PFL (hoje DEM), PP e PTB em um esquema de desvio de verbas intermediado pelo publicitário Marcos Valério, em 2000. Trata-se do embrião do esquema que vigorou durante certo período no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deu origem à Ação Penal 470 e culminou no julgamento conhecido como ‘Mensalão’.
O objetivo, então, era abastecer o caixa dois de campanha desses partidos nas eleições de 2002. O caso que ficou conhecido como “mensalão tucano”; em fase de prescrição. Envolve, no entanto, as mesmas personagens e operações constantes das denúncias contra o PT, em 2005.
O PSDB nega a existência do esquema, que pode ter movimentado mais de R$ 40 milhões. Também nega, até hoje, a autenticidade do documento, embora a Polícia Federal tenha comprovado, em perícia, que a lista conta com a caligrafia de Dimas Toledo. Tratava-se do então presidente da estatal de energia. Reaberto no STF, após as declarações de Odebrecht, o rito legal será ditado pela Presidência da Corte. No julgamento contra o PT, realizado entre 2012 e 2013, houve a condenação de 36 pessoas.
Virgem no bordel
A presença de Bolsonaro em uma investigação desse porte coloca por terra o discurso moralista com que tem se apresentado aos eleitores. Segundo o jornalista Kiko Nogueira, editor do site Diário do Centro do Mundo (DCM), “Bolsonaro age como se fosse uma virgem no bordel”.
“Ele era do Partido Progressista, o que mais aparecia; proporcionalmente, nas investigações da Lava Jato — mas sua campanha era irrigada com boas vibrações do Espírito Santo. Acabou migrando para o PSC, ninho de pastores evangélicos. Um deles, Everaldo, o presidente, pediu dinheiro a Cunha, segundo a PF”.
Ainda segundo Nogueira, “depois de se desentender com a liderança do PSC; JB avisou que ia sair — juntamente com o amigão Marco Feliciano, que disputa com Magno Malta o papel de vice na chapa para a presidência em 2018”.
“Vai para o Partido Ecológico Nacional (PEN), que mudará de nome para Patriota. Bolsonaro mandou os amigos abandonarem qualquer vestígio de bandeira ambiental e eles toparam. É melhor jair se acostumando”, conclui.
Fonte: Correio do Brasil