Paulo Freire em cartaz: espetáculo revive memórias do educador atacado por Bolsonaro

Segundo os produtores, a peça busca o diálogo mesmo em tempos de ataques frequentes

O ATOR E PALHAÇO RICHARD RIGUETTI DÁ VIDA AO EDUCADOR NO ESPETÁCULO “PAULO FREIRE: O ANDARILHO DA UTOPIA”. CRÉDITO: DIVULGAÇÃO

“Paulo Freire vive entre nós, ele está em todos os lugares e cantos porque ele é a síntese do que temos de melhor. Ele é como massa de pão, quanto mais apanha, mais cresce.”

É de uma maneira incisiva e, não por acaso, lúdica, que o ator e palhaço Richard Riguetti fala sobre o novo desafio poético que incorporou à sua trajetória de 40 anos de palcos e apresentações populares: o de recontar as histórias, memórias e o legado do educador pernambucano, Paulo Freire.

Desde o dia 28 de março deste ano, o ator segue encenando a produção Paulo Freire: o andarilho da utopia, que, como explica, é mais do que uma peça teatral. “Criamos um ato poético, que não é feito para alguém, como no caso das peças, mas com alguém”, explica, reforçando a interação à qual o público é convidado ao longo dos 70 minutos de duração.

O espetáculo tem um objetivo claro: “Retratar Freire a partir da afetuosidade que marcou a sua vida”. A ideia veio a partir de um encontro de Riguetti e Luiz Antônio Rocha, dramaturgo do espetáculo, com a viúva do educador, Nita Freire. “Saímos de lá convictos de que precisávamos desse projeto”, conta.

Durante a apresentação, o espectador se depara com quatro personagens que ajudam a propor reflexões e a ‘revisitar’ os territórios que fizeram parte da vida do educador, como a infância, o exílio, a prisão e outros lúdicos, como o território da palavra, que reforça o direito à palavra escrita e falada defendida por Freire, e o da utopia, que resgata a esperança também amplamente ventilada por ele.

“No palco, ora um andarilho, ora um palhaço, ora Freire, e ora o próprio Richard”, explica o ator que dá vida a todos os personagens. “O andarilho propõe o revisitar dos territórios pelos quais Freire passou; o palhaço, representa o olhar de Freire numa perspectiva futura; o Richard é o artista, cidadão público, que olha para o educador a partir de uma coletividade, das demandas sociais e políticas, e faz a ponte entre o que Freire viveu e o que estamos vivendo hoje; e, por fim, Paulo Freire, este ser cheio de conteúdos, que perpassa toda a narrativa”.

A produção, que tem uma ficha técnica com 22 profissionais, e já soma 50 apresentações em cidades do Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, Amazonas, Tocantins e Paraná, busca por um momento de diálogo. “As narrativas são propositivas nesse sentido. O diálogo expõe as diferenças naturais do ser humano e precisamos praticá-lo até mesmo com o diferente”, coloca Riguetti em clara referência aos ataques que o educador vem sofrendo ao longo do tempo e no atual governo. (Confira as datas de apresentação do espetáculo)

Ainda assim, reforça: “a ideia do espetáculo é ignorar essas possíveis fronteiras, ultrapassar os limites do tempo, até porque Paulo Freire não se limita. Esse cenário que estamos enfrentando é temporário e Freire transcende qualquer situação e sempre nos coloca uma perspectiva de futuro”, defende o ator.

Fonte: Carta Capital

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