Livro conta a história da luta pela terra no Brasil através de cartazes e pôsteres do movimento desde o final dos anos 1970
Para comemorar seus 35 anos, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) lançou o livro Sem Terra em Cartaz, com pôsteres e cartazes criados por artistas gráficos, a maioria militantes anônimos, que documentam a história da luta pela terra no Brasil desde o final dos anos 1970. As imagens remontam às primeiras manifestações, nos estertores da ditadura, de indígenas, negros e agricultores pobres pelo direito de ter um pedaço de terra para chamar de seu.
Os cartazes foram classificados por ordem cronológica e de assunto, a partir da luta dos povos indígenas, passando pelos 100 anos de Canudos, as Romarias organizadas pela Comissão Pastoral da Terra nos anos 1980, as manifestações dos trabalhadores rurais e a violência no campo, com os mártires, que não foram poucos, da luta pela reforma agrária –padre Josimo, Chico Mendes, Dorcelina, Dorothy Stang…
A luta do MST nada mais é do que garantir que também os indígenas, os descendentes de negros escravizadas e os agricultores pobres tenham direito à terra. Não só os herdeiros das capitanias e os que conquistam propriedades a bala
Há também pôsteres de filmes e homenagens feitas por celebridades ao MST e do MST a apoiadores do movimento, como o jogador Sócrates, ou a ícones como Nelson Mandela, Florestan Fernandes e Darcy Ribeiro.
A história da luta pela terra no Brasil pode ser facilmente resumida assim: primeiro eram os indígenas os donos das terras; os portugueses “descobriram” o Brasil; a Coroa portuguesa repartiu o território entre nobres de confiança do rei, dividido em capitanias que podiam passar de pai para filho, ou seja, eram hereditárias; 519 anos depois, pouca coisa mudou. Nosso país é até hoje um dos campeões mundiais de concentração fundiária, com extensões inimagináveis de terra sendo herdadas pelos ricos, geração após geração –ou conquistadas a bala.
Segundo o relatório Terra, Poder e Desigualdade na América Latina, divulgado pela Oxfam em 2016, apenas 1% dos proprietários rurais detêm quase a metade de todas as terras do Brasil. São apenas 15 mil propriedades com mais de 2,5 mil hectares ocupando 98.480 milhões de hectares (pense que um hectare de terra é igual a um campo de futebol). Já os pequenos agricultores (com propriedades de até 10 hectares), embora produzam mais de 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro e representem mais de 47% do total de propriedades do país, ocupam menos de 2,3% da área rural total.
O relatório da Oxfam Brasil aponta ainda a desigualdade de gênero, com os homens à frente de 87,32% dos estabelecimentos, representando 94,5% das áreas rurais brasileiras; a desigualdade no acesso ao crédito agrícola: as grandes propriedades rurais, com mais de 1.000 hectares, concentram 43% do crédito rural, enquanto para 80% dos menores estabelecimentos, esse percentual varia entre 13% e 23%.
Apenas uma pessoa, Falb Saraiva de Farias, se orgulha de ser o maior proprietário de terras do Brasil: sozinho, afirma possuir mais de 12 milhões de hectares de terras, ou 12 milhões de campos de futebol, dos quais “6 a 7 milhões de hectares de terra bem documentados. Documentos de 1800 e não sei quanto”, disse ao repórter Altino Machado alguns anos atrás.
Pois então: a luta do MST nada mais é do que garantir que também os indígenas, os descendentes dos negros escravizados e os agricultores pobres tenham direito à terra. Não só os herdeiros das capitanias e os que conquistam propriedades a bala. Hoje o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina e é um dos maiores guardiões de sementes “crioulas” (não-transgênicas) do mundo. Só de feijão são mais de 50 variedades produzidas pelo movimento.
Todos estes anos o movimento foi atacado pela direita. Um dos cartazes exibidos no livro impressiona pela atualidade: em 2005, durante o governo Lula, parlamentares ligados ao agronegócio tentaram criminalizar o movimento, com a CPMI da Terra tentando tipificar a ocupação de terras como “crime hediondo” e “ato terrorista”, exatamente como quer Bolsonaro agora.
Não por coincidência, entre os parlamentares que queriam criminalizar o MST estava Onyx Lorenzoni, atual ministro da Casa Civil, em seu primeiro mandato como deputado federal.
Fonte: Socialista Morena