A cidade das indústrias é também a cidade da literatura
Um espectro ronda a quarentena — é o sentimento coletivo de angústia. Para os que puderam ficar em casa, passados dois meses, o isolamento não tem sido fácil. Aurora seguida de crepúsculo, nossa redenção: a arte.
Um fato notório, talvez a grande descoberta que me sucedeu nessa pandemia: posso viver sem restaurante, shopping, avião e até buteco. Mas não posso viver sem música, filme e poesia.
Assim avançamos com arte. Após a lista de 10 Filmes de Contagem, criamos agora – o artista Gabriel Vinícius e eu – uma lista com 10 livros da cidade das industrias para ler nessa quarentena, e claro depois dela também.
Boa leitura, em casa!
1. Colorido só por fora
Colorido só por fora, de Jessé Duarte, é um livro de contos que mistura realismo fantástico e literatura regional. A obra posiciona pequenas situações da cidade de Contagem, construindo narrativas populares que podem ir, desde diálogos sobre a construção ou não de um teatro, até a história de uma execução sumária na periferia da cidade. Ao misturar as crenças populares com um estética realista, Jessé constrói a perspectiva de uma cidade industrial, como tantas outras no mundo, cujas vozes são silenciadas. Devido ao sucesso editorial, a edição encontra-se esgotada, contudo, alguns contos podem ser lidos no blog do autor: jesseduarte.blogspot.com
2. Inutrealidade
Inutrealidade: teatro aos que tem fome, de Marcelo Dias Costa, é uma coletânea, de apenas dois textos, que abrem a discussão sobre as relações humanas degradadas pela sociedade capitalista. O teatro de Marcelo costura personagens destituídas de sua humanidade, como em o Estado da Besta, onde o personagem principal é incapaz de lembrar o próprio nome, e atende pelo número da matrícula no trabalho. E em Revoada, onde os personagens encontram-se em um mundo de caos e destruição, mas não conseguem perceber, por quê acabou a luz do mundo. Uma metáfora clara dos tempos que correm. Para adquirir este best-seller (Marcelo vende mais livro que Augusto Cury) você deverá encontrar com o próprio autor pelos bares da cidade. Enquanto isso não é possível, por conta da Pandemia, você pode assistir o próprio Marcelo contando um trecho do livro: youtube.com
3. Pensando Fora do Eixo
Pensando Fora do Eixo: escritos de Nova Contagem, lançado em 2019, é uma obra coletiva por excelência. Escrito por mais de cinquenta mãos – entre estudantes, funcionários, professores, mães e ex-alunos da Funec Nova Contagem – esta pequena grande obra apresenta contos, poesias e ilustrações para pensar e agir fora do eixo, trazendo a periferia para o âmago central. Patrocinado pelo Fundo Municipal de Cultura de Contagem, o Ebook pode ser lido neste link: www.pensandoforadoeixo.com. Para adquirir o livro e ter mais informações sobre o projeto acesse instagram.com/pensadoresforadoeixo/.
4. Meu cabelo não é pro seu governo
O livro de estreia da professora e escritora Monique Pacheco, lançado ano passado, tem enfoque infantil, mas com temática pra lá de séria, atraindo atenção também dos adultos: a ditadura da beleza. Meu cabelo não é pro seu governo trás a história de Iza, uma menina que nasceu coroada, com cachos esbeltos e voz erguida. Um dia, em ato revolucionário, Iza lê em voz alta na escola o “Estatuto do Cabelo”, lembrando Angela Davis, que todo black é power. Com singelas ilustrações de Suellen Ferreira da Silva, artista betinense, o livro pode ser adquirido diretamente com a autora: instagram.com/monique.pacheco
5. Com Coração na Boca
Com o coração na boca, de Vinícius Fernandes Cardoso, traz um lirismo digno de Vinícius de Moraes, um jogo de versos que lembra os poemas de Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa. As poesias situam a perspectiva de um poeta andarilho, que insiste na quixotesca missão de amar em um mundo sem amor. Vinícius, cientista social de formação, poeta de coração, apresenta ousadia em seu Apanhado Poético, incluindo a fundação da Academia Contagense de Letras, no ano de 2001. Para adquirir o livro e saber mais sobre o autor acesse sua enciclopédia literária: folhetimvolante.blogspot.com
6. Poesias Polêmicas
Amador Madalena Maia, carteiro e poeta, nascido no Alto Vera Cruz e morador de Contagem, lançou em 2017 seu segundo livro, Poesias Polêmicas: para a valorização das mulheres e da família – Poesias contra o assédio e o feminicídio. O objetivo da obra, nas palavras do próprio autor, é “incluir os homens e a literatura no combate à violência contra a mulher”, trazendo à tona a benção do ser feminino no universo. O livro teve apoio da Prefeitura de Contagem, através do FMIC, e foi publicado pela Editora Literato. Exemplares da obra estão disponíveis gratuitamente na Biblioteca Cultura do CapaBode. Para saber mais acesse: linkedin.com/amador-maia
7. Beijos de Marfim
Lançado pela Sangre Editorial, Beijos de Marfim é uma coletânea de quarenta e quatro poemas da escritora e professora contagense Ana Paula Sobrinho. Com diagramação e editoração exemplar, a obra é um requinte poético, onde os beijos são ato e potência, simples e intensos. “Versejo aos meus amores-pétreos, perolados e suspensos. Arrebatadores de mim.” Para saber mais acesse: caravanagrupoeditorial.com.br/anapaulasobrinho
8. Em Busca das Origens
Em Busca das Origens, publicado em dezembro de 2018 pelo escritor Antônio Vieira de Castro, é um romance misterioso que trata dos mistérios da vida. A obra, de base espiritista, busca — como o próprio título afirma— revelar os segredos que envolvem o surgimento do ser humano no planeta Terra. Antônio Vieira de Castro, sogro do artista Fernando Perdigão, escreve uma obra de ficção, que entretanto, realiza um diálogo entre a ciência, a literatura e a religião. O livro pode ser encontrado em várias livrarias, inclusive na estante virtual: estantevirtual.com.br/livros/antonio-vieira-de-castro
9. Meu Bernardo Monteiro
Ailson Leite, historiador e escritor, publicou Meu Bernardo Monteiro para contar e recontar a história de um dos bairros mais antigos da cidade de Contagem. E aqui o historiador não conta somente a história do bairro, mas também sua própria história, lugar onde cresceu, ao lado da estação ferroviária. Obra necessária para valorizarmos a memória, o patrimônio histórico, e as raízes da cidade das Abóboras. Para saber mais acesse: facebook.com/ailsonleite.oficial
10. apenaSeu
“O desconforto do conforto é o impulso para mudar”. E no ímpeto para mudar, é que o jornalista Felipe Pedrosa, contagense de nascimento e criação, publicou o livro apenaSeu, com poesias breves e singelas, que levam ao conforto e desconforto da reflexão. Para ter acesso ao pequeno livro com extensos pensamentos é só entrar na página: instagram.com/aquiapenaseu
Por Frederico Lopes e Gabriel Vinícius. São membros do coletivo Conectando a Cidade
Fonte: Esquerda Online