O Enem nas mãos de um discípulo de Olavo de Carvalho

A cruzada contra o livre pensar nas escolas chega ao corpo técnico do governo Bolsonaro. Sob indicação do ministro Ricardo Vélez, o presidente eleito indicou para a diretoria do Inep um dedicado seguidor das teorias de Olavo de Carvalho.

Foto: G1

Murilo Resende Ferreira ficará responsável, entre outras atribuições, pela formulação do Enem e outros exames que aferem indicadores escolares.

Resende tem 36 anos, é formado em Administração, possui mestrado em Economia e atua como professor de uma faculdade particular inexpressiva de Goiânia. Em seu currículo constam artigos como A Escola de Franfkurt: satanismo, feiúra e revolução A praga do cientificismo.

A exemplo do chanceler Ernesto Araújo e do próprio Vélez, o recém-admitido é admirador de Olavo de Carvalho e trombeteia suas teorias delirantes.

Em seu site – agora apagado – ele se apresentava como aluno do curso online do filósofo e “estudioso do marxismo e do movimento revolucionário desde 2003”. Lá ele defende teses exóticas que põem Descartes como inventor a “ideologia de gênero” e insinuam que o Papa Francisco é o anticristo.

Suas ideias também ganharam algum espaço na imprensa conservadora. Num outro artigo, ele afirma que o Raskólnikov de Crime e Castigo (1866) era um “esquerdista influenciado pelos delírios de Nietzsche”, cujo primeiro livro só seria publicado seis anos depois. O texto descamba para uma cantilena contra o globalismo e termina sugerindo o impeachment dos ministros do STF.

Resende também encampa as bandeiras do Escola Sem Partido. Num vídeo gravado em 2016, ele afirma que os professores são manipuladores que pregam aborto, incesto e pedofilia. “Não se conta isso para os pais, essa é a farsa de vocês. Vocês falam: ah, é simplesmente uma questão de respeito em relação aos homossexuais”, ironizou.

Noutra palestra, reclama que os personagens dos desenhos animados da atualidade não são mais retratados como figuras masculinas ou femininas. “E todos os personagens são homossexuais”.

Bolsonaro comemorou a escolha como um golpe contra uma ‘lacração’ nas escolas. O filho Eduardo sugeriu que os professores deixem de “ensinar feminismo, história conforme a esquerda e linguagens outras que não a língua portuguesa”, em referência a uma questão da prova mais recente do exame que trazia expressões típicas de grupos LGBT para ilustrar características dos dialetos linguísticos.

Diferente do que ele e o pai espalham por aí, não era necessário conhecer essas expressões para acertar a pergunta. Mas interpretar um texto não parecer ser o forte dos Bolsonaro, que mal conseguem encadear as ideias em 280 caracteres – o limite do Twitter, agora convertido em Diário Oficial.

Fonte: Carta Capital

 

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