Fortalecimento da extrema direita e novo xadrez eleitoral: Bolsonaro e Haddad no 2º turno

Os resultados eleitorais para presidência conduziram ao segundo turno, em que se enfrentarão Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Com 97% das urnas apuradas a nível nacional, Bolsonaro registrou 46,03%, enquanto Haddad ficou com 29,28%. Bolsonaro venceu em 17 Estados, Haddad em 9, e Ciro Gomes em 1.

Imagem: Época

Esses resultados seriam dificilmente alcançáveis sem a verdadeira conspiração da reacionária Lava Jato para definir o resultado dessas eleições junto às manipulações deslavadas do Poder Judicial e a tutela das Forças Armadas, impedindo o direito da população decidir em quem votar (no caso, em Lula, que possuía 40% das intenções de voto quando foi vetado arbitrariamente) e quase garantindo que Bolsonaro vencesse no primeiro turno.

Os saltos de entusiasmo nas Bolsas estrangeiras a cada subida do capitão reformado nas enquetes, e a própria ameaça de Donald Trump dizendo que o Brasil é muito fechado para o comércio, auxiliaram a extrema direita. A onda de apoios da burguesia na última semana, após ficar claro que Alckmin não decolaria, com o apoio do agronegócio e das cúpulas das Igrejas evangélicas o empurrou a uma performance semelhante.

Além disso, Bolsonaro radicalizou o sentimento antipetista, agora vinculado à defesa da ditadura militar, da tortura, do racismo, da homofobia e do ódio ás mulheres. Com a enorme crise orgânica, e a separação de amplos setores da população de suas representações tradicionais, emerge a figura do “homem forte contra a corrupção”, um Rodrigo Duterte brasileiro, com o típico nacionalismo reacionário e submisso ao imperialismo, que com todas as diferenças, podemos enxergar na extrema direita de países do leste europeu.

Começam agora novas eleições: Bolsonaro terá muito tempo de TV e terá de participar dos debates com Haddad. Em projeção, o candidato da extrema direita Jair Bolsonaro sai muito fortalecido para o segundo turno; para seus objetivos precisa terminar de atrair os votos de Meirelles e Amoedo, e a maior quantidade dos votos de Alckmin. Haddad teria de não apenas manter seus votos, mas conseguir os votos do restante dos candidatos para começar a competir. Mesmo se todos os eleitores de Ciro Gomes votassem no PT, o resultado para Haddad seria ao redor de 40% dos votos, ainda longe dos 51% que precisa para ganhar.

Direitização nas eleições

É evidente que a votação numa extrema direita como a de Bolsonaro opera considerável direitização da situação política nacional. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, os candidatos que não escondiam afinidades com o bolsonarismo dispararam na dianteira das pesquisas, aproveitando o caudal de votos do “strongman” do PSL.

Para efeitos comparativos, em SP e MG, respectivamente, a combinação dos votos do PT e de Ciro Gomes foi 11,5% e 4,5% menor do que a Dilma em 2014. Já Bolsonaro teve 8,8% de votos a mais do que Aécio tanto em SP como em MG em 2014; no RJ, Bolsonaro teve 32% a mais de votos que Aécio 4 anos atrás. Não à toa, em meio à direitização das eleições, emergem como “outsiders” candidatos que simpatizam com Bolsonaro: no RJ, o candidato a governador pelo PSC, Wilson Witzel, obteve 41%; Romeu Zema, do Novo, obteve 42% para governador em MG. Em SP João Doria, que apoiará Bolsonaro no segundo turno, ficou em primeiro lugar, e no RS o tucano Eduardo Leite também saiu vencedor para o segundo turno.

Na região Nordeste, entretanto, contrariando as tendências nacionais de enfraquecimento do PT, a sigla está posicionada para vencer o governo de 4 Estados, reelegendo em primeiro turno no Ceará, no Piauí e na Bahia, com condições de vencer no Rio Grande do Norte, estando coligado com partidos que provavelmente vencerão os governos dos restantes cinco Estados.

Os dados finais mostraram forte crescimento de Bolsonaro, e uma queda de quase 4% do candidato tucano, além da desidratação enorme de Marina Silva: há um mês registrava 10% das intenções de voto, e terminou as eleições com menos de 1%.

Sem dúvida uma das principais marcas da eleição é a catástrofe do PSDB. Dono da maior coligação, com 8 aliados, e do maior tempo de TV, Geraldo Alckmin e o PSDB viram sua candidatura naufragar fragorosamente. Foi a pior eleição presidencial do PSDB na história da sigla desde a redemocratização, abrindo um grande questionamento acerca de sua sobrevivência partidária (lembremos que em 2014 Aécio Neves havia alcançado 33,5% no 1º turno). Alckmin ficou com pouco mais de 4% dos votos válidos, muito abaixo dos 11,51% de votos válidos que Mário Covas conquistou no 1º turno em 1989. O PSDB perdeu a figura preeminente do “antipetismo” para Bolsonaro, sendo suas figuras em MG (Anastasia) e em SP (Dória) inclinados ao bolsonarismo.

Grosseiras manipulações golpistas para favorecer Bolsonaro

No mês anterior ao primeiro turno das eleições as instituições do regime (Judiciário, mídia, Forças Armadas, entre outros) operaram distintos movimentos para dar continuidade ao golpe institucional, proibindo qualquer vestígio de soberania popular e negando à população o direito de votar em quem quisesse, favorecendo assim as posições da extrema direita odiosa representada por Bolsonaro.

Para mencionar apenas alguns mais grosseiros, o Tribunal Superior Eleitoral vetou a participação de Lula das eleições, eliminando um candidato que poderia ter vencido no primeiro turno. O comandante das Forças Armadas, Eduardo Villas Boas, deu entrevista ao Estadão. Sempre tão submisso às “intromissões na soberania nacional” por parte das instituições imperialistas, dessa vez o bravo Villas Boas disse, a respeito do parecer do Comitê da ONU favorável a Lula, que era “uma tentativa de invasão da soberania nacional”.

Depois disso, o Tribunal Superior Eleitoral literalmente roubou 1,5 milhão de votos no Nordeste (600.000 só na Bahia) através do cancelamento do registro biométrico (nacionalmente 3,3 milhões de votos foram surrupiados, a esmagadora maioria da população pobre). É notório como o Nordeste é um centro de votos do PT, o que torna esta manobra francamente favorável a Bolsonaro, que não prospera na região. Em seguida, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu uma liminar concedida pelo ministro Ricardo Lewandowski e proibiu Lula de dar entrevista à Folha na prisão. Além disso, determinou a censura prévia ao jornal (ou qualquer outro que quisesse entrevistar Lula), algo não feito desde a ditadura militar. “A desinformação do eleitor compromete a capacidade de um sistema democrático para escolher mandatários políticos de qualidade”, disse Fux. A qualidade dos mandatários precisa ser autenticada pela oligarquia judicial, que já pisoteou o direito da população votar em quem quiser.

Como se não bastasse, na semana prévia às eleições Sérgio Moro quebrou o sigilo da delação de Palocci, que buscava denunciar Lula por corrupção: um vazamento que tinha como objetivo favorecer Bolsonaro na semana prévia às eleições. A quebra do sigilo da delação de Palocci (delação que já havia sido descartada pelo próprio MPF por falta de provas) é a maneira mais grotesca da pró-imperialista Lava Jato interferirem nas eleições.

Esta série de medidas bonapartistas, arbitrárias a autoritárias foram complementadas pelo apoio aberto das bancadas da bala, do boi e da bíblia a Bolsonaro. O frisson pró-Bolsonaro foi aumentado pela coação exercida pela patronal (como Luciano Hang da Havan) para que seus funcionários votassem no capitão reformado.

Toda essa operação reacionária de amplos segmentos do regime golpista facilitou o caminho para Bolsonaro no primeiro turno. Não apenas a ele, mas mesmo para o até aqui nanico PSL: conquistou a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados, com 51 eleitos, e realizou uma reorganização partidária da direita.

O momento da extrema direita?

Bolsonaro, Paulo Guedes e Mourão representam os desejos mais escravistas da classe dominante contra a classe trabalhadora. São a continuidade selvagem de Temer, com um programa que busca aplicar as reformas que Temer não conseguiu. Bolsonaro já prometeu privatizar 50 estatais em seu eventual primeiro ano de gestão, além de “tirar o peso dos custos trabalhistas” das costas do empresariado – um aval à ameaça de Mourão de abolir o 13º dos trabalhadores. Estes defensores de torturadores, que entusiasmam oficiais de alta patente do Exército e o reacionário Clube Militar, e que foram beneficiados pelas manobras autoritárias do judiciário, odeiam as mulheres, os negros, os indígenas, os LGBTs. As bancadas da bala, do boi e da bíblia depositam suas esperanças de ajustes sangrentos contra a população na vitória de Bolsonaro, que tem apoio de setores das finanças e dos mercados.

Ainda assim, é importante dizer que não desapareceu no ar a experiência das massas com o golpe institucional, em que um setor significativo da população identifica a piora de suas condições de vida com as medidas pós-impeachment.

Dito em outros termos, a alta votação de Bolsonaro não expressa uma adesão automática de massas a seu programa econômico, e não é um cheque em branco por parte desses 47% do eleitorado para a aplicação da reforma da previdência e dos ajustes mais duros. A selvageria golpista de Bolsonaro se enfrentaria, num eventual governo, à resistência de massas e à luta de classes

O fortalecimento da extrema direita exige a construção de uma força política independente, dos trabalhadores, que seja a vanguarda da organização da classe trabalhadora, das mulheres, dos negros e dos LGBTs nos locais de trabalho e estudo, com correntes militantes que enfrentem as burocracias traidoras que obstaculizam o combate aos ataques golpistas e à extrema direita.

A estratégia eleitoralista do PT é incapaz de derrotar essa extrema-direita

A estratégia do PT mostrou que não serve para esse enfrentamento. Em 2015, Dilma iniciou os ajustes antioperários: no dia seguinte às eleições jogou no lixo todo o discurso “de esquerda” que tinha feito na campanha eleitoral, colocou um banqueiro neoliberal no Ministério da Fazenda (Levy) e atacou o direito ao seguro desemprego num momento de enorme recessão e desemprego em massa. Junto com a assimilação da corrupção própria pelos capitalistas, fez com que o PT abrisse caminho ao golpe institucional; em 2016 não enfrentou o golpe, aceitou pacificamente a destituição de Dilma e através de suas burocracias sindicais (CUT e CTB), frearam as greves gerais de 2017 contra a reforma da previdência a reforma trabalhista. Nunca tentaram mobilizar seriamente os trabalhadores, nem mesmo como medida de autodefesa.

Os acenos à direita golpista do PSDB, MDB e os mercados, durante o primeiro turno, revelaram a política do “eterno retorno”, renovando a mesma estratégia de conciliação com a direita – não menos escravista que Bolsonaro – que nos conduziu ao impeachment em 2016. É impossível enfrentar a odiosa extrema direita conciliando-se com a direita e os mercados. No entanto, para o segundo turno Haddad já fez acenos a Meirelles e Marina Silva, golpistas renomados, além do PSDB.

Preparemos uma forte organização militante, anticapitalista e socialista, para enfrentar a extrema direita

Nós do MRT e do Esquerda Diário – que tivemos mais de 2 milhões de visitas no período de 30 dias, a grande maioria em artigos contra Bolsonaro – sempre combatemos veementemente a extrema direita e a odiosa figura de Bolsonaro, com todo o reacionarismo que representa, com uma política de independência de classe, para que os capitalistas paguem pela crise. Não é outro o objetivo da proposta que fizemos, através do Esquerda Diário, defendendo uma Assembleia Constituinte Livre e Soberana, que coloque em pauta todos os grandes temas nacionais, econômicos e sociais, para que os trabalhadores decidam as questões estruturais, atacando os lucros dos capitalistas. Demos esta batalha com as candidaturas anticapitalistas do MRT, utilizando a legenda democrática do PSOL (que viu aumentadas suas bancadas parlamentares na Câmara, com 11 deputados federais).

Seguiremos nesta batalha intransigente contra a extrema direita, e queremos transformar estas ideias anticapitalistas, socialistas e revolucionárias em força militante: chamamos todos os trabalhadores que se enfrentam contra as reformas reacionárias do golpismo, as mulheres, os negros e os LGBTs a se organizarem junto conosco num projeto político de independência de classe, à esquerda do PT, que construa correntes militantes com capacidade de ação e que combata as burocracias operárias e no movimento estudantil, retomando as entidades sindicais e estudantis para as próximas batalhas que virão.

Fonte: Esquerda Diário

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