Metrô mais caro, preços dos ônibus da capital incertos e dos municípios vizinhos nas alturas
Entra ano, sai ano, a notícia é a mesma: os preços das tarifas do transporte público só aumentam. Enquanto os belo-horizontinos assistem a uma briga na Justiça entre prefeitura e empresários para saber se as passagens de ônibus sobem ou não, a do metrô passou para R$ 4,00 no último domingo (5), e o valor pago nos coletivos dos municípios metropolitanos chegam às alturas, com gente já gastando quase R$ 20 por dia para ir e voltar da capital.
Kalil X Empresas
Em ano de eleição para o Executivo municipal, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), mandou avisar: a passagem dos coletivos permanece R$ 4,50, nem que seja à base do porrete.
Mas o movimento pela mobilidade urbana Tarifa Zero questionou (como um bom mineiro): uai, não aumenta, mas, sem os trocadores, por que não abaixa?
“Na disputa por aumento, as empresas se valem de uma ideia de que todo final de ano o preço deve subir porque teria um reajuste inflacionário do preço da passagem. Só que isso não faz sentido porque não há cumprimento do contrato por parte delas, que retiram sistematicamente os cobradores dos ônibus. De um lado, elas exigem o cumprimento do contrato para reajustar a tarifa. De outro, não prestam o serviço contratado”, explica a integrante do Tarifa Letícia Birchal.
Letícia ressalta que, além disso, a retirada dos cobradores gera uma economia enorme para as empresas de ônibus, o que leva a uma ‘apropriação ilegal do dinheiro que vem do pagamento das passagens’. De acordo com um estudo desenvolvido pelo movimento com base em dados da BHTrans e de acordos coletivos das empresas, em 2018 e 2019, os empresários teriam aumentado seus lucros em R$ 200 milhões.
“Por conta disso, só o congelamento da tarifa não é suficiente para que os empresários paguem de volta à população esse dinheiro que se apropriaram. Para que os R$ 200 milhões voltem de forma difusa para os usuários de ônibus, é necessário que a passagem seja reduzida para R$ 3,85 durante um ano inteiro”, afirma.
Até o metrô
A tarifa de metrô, que se manteve por R$ 1,80 de 2006 a 2018 em Belo Horizonte, tinha esse preço pela política de subsídio adotada pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública e federal. Desde a entrada de Michel Temer (MDB) no Executivo nacional, a lógica foi deixada de lado para a adoção de políticas de austeridade, mesma escolha do presidente Jair Bolsonaro para o transporte.
“São governos que pensam no desmonte do serviço público, o que leva a aumentos abusivos, como o do metrô. A gente vive um crescimento da segregação, pois as pessoas não conseguem mais se deslocar. E isso leva a um ciclo vicioso: à medida que você perde passageiros no transporte público, aqueles que ficam, continuam pagando a conta. Só que o valor é dividido por menos pessoas, o que aumenta ainda mais o preço”, declara Letícia.
Ruim para uns, impossível para outros
Imagine pagar R$ 9,55 para ir trabalhar, estudar ou se divertir e, para voltar, ter que sacar outros R$ 9,55 da carteira. É o que acontece com os moradores de Pedro Leopoldo, na Região Metropolitana de BH (RMBH). São R$ 19,10 por dia gastos na linha 5297, que para na Estação Vilarinho.
Ou seja, se a pessoa precisa ir para outro bairro da capital, deve obrigatoriamente pagar mais uma passagem de metrô. Se ela utilizar o MOVE, a única forma de usufruir da integração é possuindo o cartão Ótimo. Se ela não tem, também deve pagar mais uma tarifa.
Em Santa Luzia (RMBH), a situação com o metrô e o MOVE é a mesma. A auxiliar-administrativo Marisa Gomes mora na cidade e trabalha em BH. O coletivo que pega para vir à capital subiu de R$ 5,35 para R$ 5,60. Ela precisa, ainda, pegar mais dois MOVEs. São três conduções para ir e três para voltar do serviço.
“Eu tenho sorte que estou empregada, que tenho o cartão Ótimo. Mas tem gente que paga seis passagens. Minha vizinha está desempregada e não consegue sair de casa nem para entregar currículo”, desabafa a moradora, que sofre com a falta de horários, com a demora e a lotação dos coletivos. Os pontos têm filas que às vezes chegam a virar esquinas.
“A situação é tão caótica, tão difícil, que eu perdi a vontade de morar na minha casa. Assim que vender meu apartamento vou me mudar de lá, porque eu tô ficando doente. Final de semana eu nem saio de casa”, diz Marisa.
Tudo caro
A realidade também é alarmante em outras cidades da RMBH. Em Nova Lima, a passagem mais barata para a capital, linha 3832, passou de R$ 6,15 para R$ 6,45. A mais cara, 3831, cujo o diferencial é apenas o ar condicionado, foi de R$ 7,30 para R$ 8,30. Em Raposos e Rio Acima (3842 e 3838, respectivamente), de R$ 7,35 passou para R$ 7,70. Honório Bicalho (3837), de R$ R$ 6,15 foi para R$ 6,45. Betim, de R$ 6,95 para R$ 7,30.
Fonte: Carta Capital