A partir das 5h da manhã três pontos da cidade serão bloqueados pelos moradores.
A população de Brumadinho segue se mobilizando para superar as dramáticas consequencias do crime cometido pela Vale na cidade. Depois da grande paralisação que reuniu várias comunidades, no último dia 02 de dezembro, quem se manifesta agora é a Ponte das Almorreimas, localizada a 6km do centro de Brumadinho, margeada pelo rio Paraopeba e atingida pela Vale de várias maneiras.
Após o rompimento da barragem, a Vale S.A adquiriu a Fazenda Lajinha, local onde a empresa retira a lama do rio e deposita na comunidade. Além disso, a Fazenda Abrigo da Fauna foi instalada no local. Animais resgatados e adoecidos de pequeno e grande porte são tratados na Ponte das Almorreimas. Existem relatos da existência de uma câmara fria onde são colocados os animais mortos. A população está muito preocupada com a contaminação e reclama: do odor dos dejetos do gado e de desinfetantes (creolina); do barulho dos latidos dos cachorros que pertubam as pessoas dia e noite; e do aumento da circulação de veículos em alta velocidade.
Nova captação de água no Rio Paraopeba
A captação de água da COPASA localizada no rio Paraopeba se tornou inútil após o despejo crimonoso de lama tóxica da Vale. Devido a real ameaça de um colpaso hídrico na Região Metropolitana de Belo Horizonte, uma decisão judicial exigiu que a Vale construisse uma nova captação de água no Paraopeba para o sistema Rio Manso, a 12 km a montante do local do rompimento da barragem. A obra, de responsabilidade da COPASA, é custeada pela Vale.
O problema é que a implementação dessa decisão está desrespeitando e violando os direitos dos povoados rurais de Ponte das Almorreimas, Caju e Guaribas. Sem passar por qualquer processo de licenciamento ambiental ou consulta à população, o projeto pretende desapropriar por decreto parte dos moradores, não dando a eles sequer a oportunidade de negociar suas terras.
O morador da Ponte das Almorreimas Anderson Márcio da Silva, operador de equipamentos, convive com os impactos e denuncia os vários danos ao projeto de vida: “os ruídos das obras são terríveis, minha casa está com as paredes trincadas devido ao intenso tráfego de caminhões e maquinários pesados’
Cláudia Gomes Saraiva, moradora de Brumadinho, relata a situação: “Recebemos, da Copasa, um decreto de desapropriação com valores irrisórios. Proprietários não foram procurados. Eles não respeitam uma cidade que foi devastada. Além das perdas humanas, teremos agora perda material? Eles não podem passar por cima de nós”.
A revolta dos moradores se intensificou com a derrubada do muro centenário da igreja no último domingo, 15 de dezembro, sem nenhuma comunicação com os moradores e sem a autorização das autoridades eclesiásticas. O protesto tem o apoio da Arquidiocese de BH e contará com a presença do bispo Dom Vicente de Paula Ferreira.
A comunidade possui uma extensa lista de demandas e exige que seja criado um espaço de diálogo com a participação das instituições de justiça, Prefeitura Municipal de Brumadinho e Vale S.A., para a elaboração de um plano de reparação dos danos sofridos que, de fato, escute e atenda os anseios dos moradores.
Fonte: comunidade de Brumadinho